O ex-ministro Armando Monteiro Neto (PSDB) considerou o discurso do presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), na abertura da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), nesta terça-feira, 21, como constrangedor.
É o velho Bolsonaro, preso a suas crenças, convicções bizarras e extravagantes. Não aprende com o exercício da presidência. Espero que o Brasil se dê conta de que precisa de outro rumo para colocar o país onde precisa do ponto de vista internacional.Armando Monteiro Neto
Armando concedeu entrevista à Rádio Jornal e explicou que havia uma expectativa de um discurso em outro tom. "Normalmente a chancelaria prepara o discurso e com Carlos França se esperava que o discurso pudesse se equilibrar para evitar excessos. Mas, parece que ele rasgou a minuta do Itamaraty e repetiu bizarrices que refletem a alienação. Em um momento como esse, atacar governadores, a mídia, defender tratamento precoce, dizer que a questão ambiental está bem encaminhada, fala de economia como se não fosse um momento complicado, fiquei até constrangido de verificar que o Brasil, que já estava com a imagem desgastada, é motivo de piada e o presidente do País parece que se satisfaz com isso, vai à Assembleia sem se vacinar, defende tratamento precoce. Em suma, um vexame", disse.
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Na visão do ex-ministro, Bolsonaro segue fazendo discurso com foco apenas em agradar seus apoiadores. "Não acredito que tenhamos impacto grande na formação da opinião nacional. Bolsonaro está de certo modo isolado o discurso para apoiadores, para o núcleo duro, para esse público o que ele fala é música. Agora, outros setores da sociedade se deram conta que o governo é um desastre sob todos os aspectos, esse público vai se revelando majoritário, os que desaprovam o governo. Para esses, nada mudará, pois há compreensão de que o presidente não está à altura do cargo", comentou.
Repercussão
O discurso do presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, na Assembleia-Geral da ONU repercutiu de forma negativa em vários países, como mostra a imprensa mundial. Bolsonaro voltou a defender o uso de medicamentos sem eficácia e de tratamentos precoces contra a covid-19 e questionou o motivo de outros países não adotarem as práticas.
"Sem estar vacinado, Bolsonaro do Brasil quebra sistema de honra da vacina da ONU durante discurso", escreveu o jornal americano The Washington Post, se referindo ao pedido das Nações Unidas para todos os líderes mundiais se vacinarem contra a covid.
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O The Wall Street Journal explicou que uma das condições para a participação dos líderes mundiais na Assembleia era estarem vacinados. Mas, como ficou provado, não houve uma verificação e cumprimento deste "sistema de honra". "Em seu discurso, o senhor Biden encorajou os países a adotarem planos nacionais mais ambiciosos para reduzir a emissão de gases do efeito estufa e pressionou os países desenvolvidos a darem mais dinheiro aos países em desenvolvimento", destacou o jornal.
O site do jornal britânico The Guardian também destacou o fato de Bolsonaro ter criticado a obrigatoriedade da vacina contra o novo coronavírus em sua manchete.
O americano The New York Times escreveu: O presidente do Brasil liderou uma das respostas mais criticadas no combate à pandemia". Em sua página do 'ao vivo', pela qual está sendo feita a transmissão dos discursos, o NYT destaca os protestos que ocorreram em Nova York contra Bolsonaro e o líder iraniano.
O espanhol El País, em sua página de Américas, destacou o discurso de Bolsonaro e, em seguida, um artigo dizendo "Não é culpa apenas de Bolsonaro o fato do mundo rir do Brasil". O texto destaca o passeio do presidente brasileiro por Nova York, sem máscara e sem estar vacinado.