MEIO AMBIENTE

Em Dubai, Bolsonaro mente e diz a investidores que a Amazônia não pega fogo "por ser uma floresta úmida"

A afirmação contraria dados do Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (Inpe), que apontam 2021 como terceiro ano com o pior índice de queimadas registradas no bioma

Cadastrado por

JC

Publicado em 15/11/2021 às 9:10 | Atualizado em 15/11/2021 às 9:55
"Vocês precisam conhecer o Brasil de fato. Uma viagem, um passeio na Amazônia, é algo fantástico. Até para que os senhores vejam a Amazônica, por ser uma floresta úmida, não pega fogo", discursou o presidente - AFP

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou nesta segunda-feira (15), durante discurso a investidores em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, que a floresta amazônia "não pega fogo" por ser úmida. A afirmação contraria pesquisadores e dados do Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (Inpe), que aponta 2021 como terceiro ano com o pior índice de queimadas registradas no bioma. 

"Vocês precisam conhecer o Brasil de fato. Uma viagem, um passeio na Amazônia, é algo fantástico. Até para que os senhores vejam a Amazônica, por ser uma floresta úmida, não pega fogo. Que os senhores vejam, realmente, o que ela tem. Com toda certeza é uma viagem inesquecível. Além de turismo, conhecer um paraíso na Terra", disse o presidente.

Ao G1, Antonio Oviedo, ambientalista e assessor do Instituto Sócio-Ambiental (ISA), ONG presente na Amazônia há 25 anos, afirmou que a declaração do presidente é falsa. "Ela é úmida em áreas como no interior do Rio Solimões ou no Alto do Rio Negro, onde não tem muitas estradas, mas mesmo lá o fogo já tem entrado, por conta do desmatamento. Quando se fragmenta a floresta em blocos, vem o efeito de borda. Quanto mais bordas tiver, mais seca fica, e facilita a entrada do fogo."

Ainda, Bolsonaro disse que "os ataques que o Brasil sofre quando se fala em Amazônia não são justos, e que mais de 90% daquela área está preservada, exatamente igual a quando foi descoberto, no ano de 1500".

No entanto, conforme o Inpe divulgou no início do mês, a Amazônia Legal teve uma área de 877 km² sob alerta de desmatamento - o que representa uma alta de 5% em relação a 2020 e recorde para o mês na série histórica.

Ainda, o governo Bolsonaro foi alvo de duras críticas entre agosto de 2019 e setembro de 2020 por quase um terço dos quase 150 mil focos de queimadas ocorridos na Amazônia no período aconteceram em terras públicas sem destinação.

Na última sexta-feira (12), o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, inclusive, disse que marcará um encontro com o ministro da Justiça, Anderson Torres, para que ele explique melhor o andamento das ações que coordena depois da divulgação dos dados.

Nos últimos meses, o ministro vinha enfatizando a redução do desmatamento na média trimestral de agosto e setembro e atribuindo a melhora dos dados a ações conjuntas de vários ministérios. "Eu vi os números hoje, mas preciso entender melhor", comentou.

Um paraíso quase perdido

Até recentemente, graças à sua vegetação exuberante e ao milagre da fotossíntese, a bacia amazônica absorvia grandes volumes das crescentes emissões de carbono da atmosfera, freando o pesadelo das mudanças climáticas antes de se tornarem incontroláveis. Mas estudos mostram que a Amazônia se aproxima do "ponto de inflexão", que a verá se transformar em savana, com a morte de suas 390 bilhões de árvores, uma depois da outra.

Atualmente, a destruição se acelera, sobretudo desde que o presidente Jair Bolsonaro, um cético do aquecimento global, chegou ao poder em janeiro de 2019. Ele quer abrir as terras protegidas ao agronegócio e à mineração nos 61% da Amazônia localizada em território brasileiro.

A destruição também está em andamento para o viveiro extremamente rico de espécies interdependentes - mais de três milhões catalogadas - entre elas o emblemático gavião-real e a majestosa onça. Os povos indígenas, guardiões da floresta graças a suas tradições milenares, sofrem ainda com incursões violentas de garimpeiros em seus territórios.

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