PERNAMBUCO

Bolsonaro revoga decretos de luto oficial a Miguel Arraes e Dom Helder Câmara

O atual governo declarou luto apenas em dois momentos, ao astrólogo Olavo de Carvalho (1947-2022) e ao ex-vice-presidente pernambucano Marco Maciel (1940-2021)

Cadastrado por

Katarina Moraes

Publicado em 28/01/2022 às 9:48 | Atualizado em 28/01/2022 às 13:09
Da esquerda para a direita, ex-governador de Pernambuco, Miguel Arraes, e Dom Hélder Câmara - ALEXANDRE SEVERO/ACERVO JC IMAGEM E HEUDES REGIS/ACERVO JC IMAGEM

A Folha de S. Paulo revelou que o presidente Jair Bolsonaro (PL) revogou pelo menos 25 decretos de pesar pela morte de grandes personalidades brasileiras, como ao ex-governador de Pernambuco, Miguel Arraes (1909-1999), e ao bispo católico Dom Hélder Câmara (1909-1999). O atual governo declarou luto apenas em dois momentos, ao escritor bolsonarista Olavo de Carvalho (1947-2022), nesta semana, e ao ex-vice-presidente pernambucano Marco Maciel (1940-2021), no ano passado. 

A medida está inclusa no programa chamado "revogaço", tratado pelo Executivo como uma forma de “desburocratização”. À Folha, a Secretaria-Geral da Presidência informou que tratam-se de decretos "já exauridos, que tiveram efeitos por determinado período [de luto]". De acordo com o governo, a cada 100 dias o governo assina norma que cancela os efeitos de outras assinadas por ex-presidentes. Mais 5.400 decretos perderam validade desde 2019, com o objetivo de "organização e racionalização normativa”.

"Portanto outras triagens continuam sendo feitas e, consequentemente, outros decretos de mesma temática serão incluídos em futuros projetos de consolidação por revogação de atos que já exauriram seus efeitos", disse a pasta do governo.

O luto oficial é um ato simbólico determinado a partir da morte de personalidades que tiveram uma ação significativa para um país ou para homenagear as vítimas de catástrofes, podendo ter efeito durante até 7 dias. Neste período, a bandeira nacional fica a meio mastro em todo o país.

A cientista política Priscila Lapa explica que a medida não tem uma consequência prática, mas serve para “alimentar narrativas ideológicas”. “Essa geração de factoides é o que alimenta, em grande parte, a base bolsonarista. Não tem ganho com essa revogação, mas ele desagrada quem não o apoia e anima os apoiadores, ganhando comoção do grupo bolsonarista, dizendo por um gesto simbólico quem ele acredita ser importante para o Brasil e quem não”, afirmou.

Ao JC, o secretário da Comissão Estadual da Memória e Verdade Dom Helder Câmara e ex-presidente da Ordem de Advogados do Brasil em Pernambuco (OAB-PE), Henrique Mariano, comentou a retirada da homenagem também ao Frei Damião e afirmou considerar a medida um “ato de profunda ignorância”. “Dom Helder era um líder religioso de grande renome no Brasil e na comunidade internacional, como o Frei Damião. Foram duas pessoas com grande relevância que ao falecerem foram devidamente homenageados pelos presidentes da época. Hoje o presidente Bolsonaro promove esse ato que é um verdadeiro escárnio e de violência com a história do Brasil”, disse.

Lista de decretos revogados

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