Com Bolsonaro no PL, aliança entre Anderson, PSDB e Cidadania pode prejudicar vida partidária do prefeito de Jaboatão

Em janeiro, Valdemar Costa Neto destituiu presidentes de diretórios que já indicavam que apoiariam candidatos a governador distantes do bolsonarismo. Se não for candidato, Anderson deve apoiar Raquel Lyra, do PSDB
Renata Monteiro
Publicado em 09/02/2022 às 16:14
ALIADOS Hoje, o prefeito tem bloco com Raquel Lyra, presidente estadual do PSDB, sigla de oposição a Bolsonaro Foto: BOBBY FABISAK/JC IMAGEM


Presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto tem até esta quinta-feira (10) para definir quem comandará os diretórios estaduais da sigla, uma vez que as comissões provisórias atualmente em vigor perdem suas validades nesta data. Em Pernambuco, a legenda é comandada atualmente pelo prefeito de Jaboatão dos Guararapes, Anderson Ferreira, que é pré-candidato a governador, mas a entrada de Jair Bolsonaro no partido colocou dúvidas sobre a manutenção da configuração, muito embora Costa Neto tenha garantido em novembro passado que o pernambucano teria total autonomia para conduzir “os trabalhos para a escolha dos nomes que constarão na chapa de candidatos majoritários e proporcionais das próximas eleições do Estado”.

Em janeiro, o cacique partidário destituiu presidentes de diretórios que já indicavam que apoiariam candidatos a governador distantes do bolsonarismo, como no Pará, onde Cristiano Vale, agora ex-presidente estadual da sigla, está ao lado de Helder Barbalho (MDB), que deve tentar se reeleger em outubro. “Não esperava”, disse Vale, na ocasião.

No caso de Anderson, apesar de estar alinhado com Bolsonaro e já ter afirmado publicamente que votaria nele, em Pernambuco o prefeito caminha ao lado de dois partidos que nacionalmente fazem oposição ao militar da reserva: PSDB e Cidadania. Há quem diga que caso ele desista de concorrer ao Palácio do Campo das Princesas e apoie a postulação de Raquel Lyra (PSDB), poderia ser retirado do cargo para abrir espaço a uma liderança que construísse um palanque para Bolsonaro que não comportasse também candidatos contrários à sua gestão.

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“Eu imagino que Bolsonaro deve pressionar bastante o partido para ter o controle dessas comissões provisórias. Nesse caso, Anderson estaria em uma situação complicada, porque tem relações no Estado com partidos que no campo nacional não estão com Bolsonaro. Sendo assim, o mais vantajoso para a sobrevivência política e eleitoral dele seria manter a aliança com os seus aliados locais, pois depois dessa eleição haverá outras e ele precisará resolver a vida dele”, avaliou o cientista político Vanuccio Pimentel, da Asces/Unita.

Vale lembrar que Anderson Ferreira chegou ao comando estadual do PL (que na época ainda se chamava PR) em 2018, após o partido destituir o deputado federal Sebastião Oliveira do posto. Com o movimento, a sigla, que integrava a base do governo, passou para a oposição. O grupo de Sebastião Oliveira hoje está à frente do Avante e ainda é ligado à Frente Popular.

Na última terça-feira (8), o presidente Jair Bolsonaro esteve no Sertão pernambucano para inaugurar uma trecho da Transposição do Rio São Francisco, mas Anderson não o acompanhou na agenda. Na data, prefeito estava em Brasília cumprindo compromissos administrativos, segundo a sua assessoria de imprensa. Ao lado do presidente, além de diversos apoiadores, estava o ministro do Turismo, Gilson Machado Neto, também cotado para a disputa majoritária estadual.

“Bolsonaro é mau avaliado no Nordeste e já disse algumas vezes que cogita lançar Gilson Machado como candidato ao Governo de Pernambuco. Se isso acontecer, vai ferir diretamente os interesses de Anderson Ferreira, caso ele realmente queira entrar na disputa. Embora o ministro provavelmente não consiga fazer frente às campanhas do PSB e da oposição, ao menos o presidente teria um palanque no Estado”, explicou Elton Gomes, cientista político da Faculdade Damas.

PRESSÃO SOBRE A NACIONAL

O jornalista Josias de Souza, do UOL, afirmou recentemente em sua coluna que Valdemar Costa Neto estaria sendo pressionado por parlamentares do PL para que as comissões estaduais tivessem autonomia para se aliar com os partidos que fossem mais interessantes para elas conforme as necessidades de cada região, mesmo que essas legendas não estejam ao lado do presidente. Na visão de Vanuccio Pimentel, essas tensões serão bem comuns ao longo do ano, uma vez que o PL não teve tempo de se organizar internamente para receber uma candidatura presidencial.

"Historicamente, o PL é um partido que sempre foi dividido. Como um partido de centro que normalmente não tem projeto nacional, ele é dominado pelos projetos regionais. O MDB também é assim, o PSD, o PSDB caminha para ser dessa maneira. A candidatura de Bolsonaro, agora, é uma novidade até para a legenda, que não está construída politicamente para um projeto nacional, então esses conflitos serão comuns até a eleição", observou o cientista político.

Elton Gomes, por sua vez, lembra que, apesar de estarem juntos atualmente, Bolsonaro e Costa Neto estão em uma “união estável”, não em um “casamento com comunhão total de bens”, portanto não surpreenderia se o dirigente partidário fosse de encontro aos interesses do chefe do Executivo federal, se isso o beneficiasse. “Diferentemente de Roberto Jefferson, que trocou todos os presidentes estaduais do PTB por pessoas ligadas ao bolsonarismo, Valdemar Costa Neto é muito mais pragmático. Ele não tem esse nível de intimidade e alinhamento ideológico com o presidente, a aliança entre eles é funcional. Bolsonaro entra trazendo votos e parlamentares para a legenda e, ao mesmo tempo, não fica sem partido para tentar se reeleger”, detalhou o docente.

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