A menos de um mês do fim do prazo de desincompatibilização para quem deseja concorrer na eleição deste ano, fica cada vez mais nítido que o grupo de centro-direita que faz oposição ao PSB em Pernambuco terá três candidatos a governador: o prefeito de Jaboatão do Guararapes, Anderson Ferreira (PL), a prefeita de Caruaru, Raquel Lyra (PSDB), e o prefeito de Petrolina, Miguel Coelho (União Brasil). Na tentativa de cavar um segundo turno, os pré-candidatos - que vão disputar a mesma fatia do eleitorado - devem apostar na exposição dos seus trunfos particulares para se diferenciar dos aliados, o que pode culminar, inclusive, na troca de ataques entre eles.
Os três gestores, todos reeleitos em 2020, vêm repisando desde o ano passado bons resultados que tiveram em suas respectivas cidades, o que nos leva a acreditar que a experiência que acumularam nas prefeituras ao longo dos últimos anos será largamente explorada por eles também no período eleitoral. Segundo o cientista político Antônio Lucena, da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), essa tática tem potencial para conquistar apoios entre quem já está fatigado dos governos do PSB, que completa, em 2022, 16 anos à frente do Executivo estadual.
“É curioso que os três estejam mostrando o mesmo tipo de estratégia para chegar ao Governo do Estado, destacando seus louros, as boas gestões que fizeram nas cidades que governam. 'Eu, que tenho capacidade administrativa, fui reeleito, minha cidade me apoia, e o que eu estou fazendo aqui vai ser ampliado, melhorado e aperfeiçoado quando eu for governador', dizem. Assim, eles miram na parte do eleitorado que já está cansada do PSB e ao mesmo tempo no eleitor de centro-direita”, detalhou Lucena.
>> Raquel Lyra lançará candidatura ao governo de Pernambuco no final de março
>> Em Pernambuco, pré-candidatos de oposição se dedicam a filiar aliados durante janela partidária
Ainda que tenham pontos de convergência nos seus movimentos, Anderson, Raquel e Miguel têm particularidades e vão usá-las a seu favor no pleito. O prefeito de Jaboatão, por exemplo, deve aproveitar o apoio do presidente Jair Bolsonaro (PL) para tentar chegar ao eleitor conservador, e o fato de ser evangélico para atrair os religiosos.
“De largada, Anderson possui o apoio dos bolsonaristas e o voto de segmento. Muita gente diz que ele pode se prejudicar pela ligação com o presidente, mas no contexto de polarização em que vivemos, não é nada mal estar ao lado de um candidato que teve 1,5 milhão de votos no Estado na última eleição. Em 2018, por muito pouco Armando Monteiro não foi para o segundo turno, e ele recebeu 1,3 milhão de votos naquela eleição. Falam que Bolsonaro não presta, mas o (João) Doria (candidato de Raquel) tem votos aqui? Quem é o candidato a presidente de Miguel? Apesar de tudo, Bolsonaro é o maior cabo eleitoral daqui, depois de Lula”, declarou um aliado do pré-candidato, em reserva. Na última semana, Bolsonaro confirmou a participação de Anderson na disputa pelo Palácio do Campo das Princesas ao lado do ministro Gilson Machado, que vai concorrer ao Senado.
Formada em direito, com passagens pela Polícia Federal, pelo Executivo e eleita deputada estadual e prefeita, Raquel Lyra e seus aliados provavelmente vão explorar à exaustão a experiência administrativa acumulada pela tucana não apenas em Caruaru, mas em toda a sua trajetória profissional. Ex-PSB, a gestora também tem dado sinais de que não vai esconder a proximidade que possuía com o ex-governador Eduardo Campos, falecido em 2014 e ainda muito popular no Estado, e do qual o pai dela, João Lyra, foi vice-governador. Uma peça publicitária do PSDB que está sendo veiculada na TV, por exemplo, exibe uma foto da gestora ao lado do socialista.
“A candidatura de Raquel é a mais competitiva, a que tem maior potencial. Ela representa o novo que não é um salto no escuro, pois ela tem biografia, experiência, é uma pessoa que do ponto de vista ético é inatacável. Tanto é assim que ultimamente aliados do governo têm criticado ela, pois é uma pessoa que identificam que pode ameaçá-los”, opinou uma fonte próxima da prefeita, que preferiu não se identificar.
Representante do maior e mais rico partido do País, o União Brasil, Miguel Coelho é filho do senador Fernando Bezerra Coelho (MDB) - que tem sido um dos maiores articuladores da sua candidatura - e irmão do deputado federal Fernando Filho (UB) e do deputado estadual Antônio Coelho (UB). Até o momento, em eventos de pré-campanha e em suas redes sociais, o prefeito de Petrolina tem ressaltado as conquistas que alcançou enquanto gestor e focado em criticar a administração do governador Paulo Câmara, uma vez que o seu grupo político também é oriundo do PSB e fez parte das gestões Eduardo. Diferentemente de Raquel, porém, Miguel tem preferido não colar a sua imagem a do ex-governador.
“Transformamos Petrolina, nesse tempo, na melhor cidade em qualidade de vida do Nordeste. Temos uma das saúdes referência no Estado. A Casa de Parto foi a primeira maternidade municipal da história da cidade. A gente fez uma maternidade direcionada para o atendimento humanizado. Consolidamos as conquistas da educação, e a educação pública de Petrolina é a melhor de Pernambuco. E a gente também fez um grande investimento, um cuidado, na parte de infraestrutura. Foram mais de 1.200 ruas, 11 avenidas duplicadas, dois novos viadutos, 25 km de ciclofaixas e ciclovias para melhorar a mobilidade. Tudo o que eu sou e o que eu serei na política será porque Petrolina me projetou para isso, através do trabalho como prefeito, como líder regional aqui do nosso estado e como liderança pública daqui”, afirmou o prefeito, em vídeo compartilhado nas suas redes.
Ver essa foto no Instagram
Nos últimos meses, os prefeitos têm afirmado que mesmo com a disputa eleitoral, não haverá fogo amigo entre eles antes, durante ou depois do pleito. O posicionamento soa como a correção de um comportamento que o mesmo grupo vivenciou na campanha de 2020 no Recife, quando membros do coletivo atacaram-se uns aos outros e o segundo turno na capital pernambucana acabou ocorrendo sem a presença de nenhum deles.
Na visão do cientista político Vanuccio Pimentel, da Asces/Unita, contudo, ainda não há como garantir que, na briga por eleitores, eles não vão entrar em conflito. “Obviamente, entre os três há chances que haja uma tensão, porque a fatia de votos que eles disputam não é tão grande. Além disso, a diferença entre eles não é acentuada, então há sempre uma possibilidade de que eles acabem acirrando a disputa pelo segundo lugar, o que talvez seja problemático, porque em um possível segundo turno eles precisariam estar juntos para ter força”, explicou o docente.