Pré-candidata a governadora de Pernambuco pelo Solidariedade, Marília Arraes concedeu entrevista à Rádio Jornal, na manhã desta segunda-feira (13), e defendeu que, ao menos, 1% da Receita Corrente Líquida do Estado deve ser investida em habitação.
"Pernambuco é o Estado com maior déficit habitacional do Nordeste. São mais de 300 mil moradias em déficit e mais de 70 mil somente no Recife. É preciso investimento contínuo e planejamento a médio e longo prazo para evitar tragédias."
A deputada federal tratou das mortes em Pernambuco nas últimas semanas, decorrentes de deslizamentos de barreira, como uma ''tragédia anunciada''. Ela ainda defendeu fortalecimento da Defesa Civil e parcerias com universidades que possuem estudos sobre as áreas de risco.
"Fui vereadora durante muitos anos e isso era uma tragédia anunciada. Vereadores conhecem bem a cidade e sempre chegava esse desespero das pessoas com a questão das áreas de risco, dos morros, palafitas, alagados, e é importante que haja uma política de estado nesse sentido", disse Marília.
Nas últimas semanas, 129 pessoas morreram em Pernambuco em decorrência dos deslizamentos em diversos pontos causados pelas fortes chuvas.
A Rádio Jornal iniciou, na quarta-feira (8), uma série de entrevistas com pré-candidatos ao Governo de Pernambuco para tratar de políticas públicas e propostas para a habitação popular, obras de prevenção nas áreas de risco, planejamento e ordenamento urbano nas áreas de morro.
Marília Arraes foi a quarta pré-candidata a participar da série de entrevistas. Já foram ouvidos João Arnaldo (PSOL), Miguel Coelho (União Brasil) e Raquel Lyra.
Durante sua fala, a pré-candidata lembrou políticas públicas da gestão João Paulo, no Recife, e disse que programas como o "Guarda-Chuva" deveriam ter sido realizados como uma política de estado, que não mudasse com a troca de governo.
Marília Arraes enfatizou que em relação às áreas de risco é preciso separar o que é responsabilidade do Governo do Estado e das prefeituras e que não pode adentrar na seara municipal. Ela apontou falta de prioridade das atuais gestões com a área de habitação.
"O Governo do Estado investiu nos últimos anos R$ 500 milhões em propaganda e cerca de R$ 140 milhões em habitação. Não foi uma prioridade. A Prefeitura do Recife destinou menos de 1,5% para essa politica de gestão nas encostas, nos alagados. Quando o governo João Paulo investia cerca de 3%", disse Marília.
Sobre as responsabilidades do governo estadual, Marília Arraes defende a construção de um planejamento metropolitano.
"É preciso ter uma política com participação da União, do Estado e dos municípios. A Constituição deu grande poder aos municípios, estabeleceu competências municipais muito amplas de planejamento e infraestrutura, mas o Estado precisa fazer sua parte em assuntos que não conseguem ser tratados somente pelos municípios, como a drenagem, já que tem rios que perpassam várias cidades, água, esgoto, sistema viário."
A pré-candidata diz que a prioridade é a política habitacional para que as pessoas não ocupem as áreas de risco. "Quem vive em baixo de uma barreira é porque não pode viver em outro lugar. O imóvel é algo caro para todo mundo, principalmente para quem ganha pouco. E temos uma sociedade muito desigual, em que há uma pobreza muito grande. Então, tem que haver um investimento em habitação para que as pessoas morem próximas de onde trabalham e vivem."
Outra preocupação da pré-candidata é com o "abandono" das áreas que fazem fronteira entre dois municípios. Jardim Monte Verde, por exemplo, local onde mais morreram pessoas nos recentes deslizamentos, fica entre Recife e Jaboatão.
"Acompanho Jardim Monte Verde há mais de dez anos. Quando era vereadora, criei a frente de acompanhamento de áreas conurbadas, áreas limítrofes entre os municípios. E vemos que uma cidade joga para a outra a responsabilidade. Nesse caso, o Estado deve atuar, chamar os municípios, intermediar essas políticas públicas e intermediar, também, a aquisição de recursos vindos do governo federal para que haja investimento e essas áreas não se tornem terra de ninguém, como UR-10, Vila das Aeromoças, UR-07, na Várzea, Rosa Selvagem, Passarinho. Precisa de planejamento metropolitano".
Durante a entrevista, Marília ainda disse que houve esvaziamento da Condepe/Fidem e da Companhia Estadual de Habitação e Obras (Cehab). Marília ainda foi questionada sobre a atuação em relação às áreas de morro e ela destacou que como deputada federal não pode ser cobrada por uma interferência direta no assunto, visto que é responsabilidade do Executivo.
Por fim, a parlamentar disse que está aberta a dialogar sobre temas importantes para o Estado, mesmo com gestões às quais faz oposição, como a de Jair Bolsonaro e as gestões do PSB.