No ato público do ex-presidente Lula (PT) em Serra Talhada, a primeira ‘autoridade’ a discursar não foi um político. Coube à trabalhadora rural Dona Buruca, de 79 anos, a missão de dar as boas-vindas.
Vestindo uma camisa vermelha, ela pegou o microfone e se dirigiu à beira do palco para falar à multidão, quando percebeu que Lula tinha deixado a posição de espectador para ficar a seu lado.
Foi como a surpresa de rever um velho conhecido, que estava distante. “Ô meu Deus! Lula tá de volta!”, disse, enquanto abraçava o ex-presidente.
O que seria um discurso se transformou em uma conversa entre ela, Lula e a multidão de 15 mil pessoas (segundo a organização) que estava ali na Estação do Forró, na noite da quarta-feira (20).
Em uma fala espontânea, simples e emocionante, Dona Buruca resumiu o sentimento de boa parte do povo brasileiro.
Lembrou de programas sociais que foram desarticulados, como o das cisternas, reclamou da inflação dos combustíveis, lamentou a volta da fome e da seca, indignou-se com a demora na liberação da vacina contra a covid-19.
Sabedoria popular latente, sem necessidade de explicação de qualquer economista. “O Sertão, Pernambuco e o Brasil estão pedindo socorro”, frisou Maria Xavier Feitosa, nome de batismo de Dona Buruca.
“O companheiro está de volta e Serra Talhada, o Nordeste e o Brasil estavam precisando dele. Para matar a fome, e a sede também”, disse ela.
“Eu nunca esqueci das cisternas que vocês fizeram. A gente não tinha onde botar a água aqui. A gente buscava água na cabeça e doía tudo. Era um balde na cabeça e outro na cozinha onde a gente botava a água que a gente ia lá buscar”.
Dona Buruca também falou sobre o recuo no avanço de outras áreas por conta da conjuntura atual. “Você tirou as pessoas do cavalo e do jumento e colocou no carro e na moto, e agora não pode mais rodar. Não pode mais comprar gasolina, ou vende ou a ferrugem vai comer”, lamentou, fazendo referência ao preço dos combustíveis.
Lula se emocionou. Enxugava as lágrimas enquanto abraçava e ouvia, atentamente, o desabafo de Dona Buruca.
Ela é uma liderança rural, com mais de 30 anos de história na busca por desenvolvimento social na região, junto com o Sindicato dos Trabalhadores Rurais, com a Fetape (Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares de Pernambuco) e outros movimentos.
Mulher sertaneja que conhece as palavras luta e resistência.