Eleições 2022

Filhos de Fernando Bezerra Coelho recebem R$ 600 mil em doações de empresário que está na lista suja do trabalho escravo

Emival Ramos Caiado Filho, primo do governador de Goiás, Ronaldo Caiado (UB), foi incluído na lista após 26 trabalhadores serem resgatados de uma propriedade dele no Tocantins

Cadastrado por

Renata Monteiro

Publicado em 22/08/2022 às 18:38 | Atualizado em 10/10/2022 às 18:34
Antônio Coelho, Fernando Filho, Fernando Bezerra Coelho e Miguel Coelho - Foto: Ivaldo Regis/Divulgação

Filhos do senador Fernando Bezerra Coelho (MDB), Miguel Coelho (União Brasil), Fernando Filho (UB) e Antônio Coelho (UB), candidatos a governador, deputado federal e deputado estadual, respectivamente, receberam R$ 600 mil em doações de campanha do empresário pecuarista Emival Ramos Caiado Filho, primo do governador de Goiás, Ronaldo Caiado (UB). Emival está na "lista suja" do trabalho escravo, banco de dados usado por empresas e bancos públicos para impedir negócios com empregadores que usam trabalho análogo ao de escravo no Brasil.

Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Emival Filho, que ocupa neste momento o 6ª lugar do ranking de Pessoas Físicas Doadoras do pleito deste ano, encaminhou R$ 250 mil à campanha de Miguel Coelho, R$ 200 mil à de Fernando Filho e R$ 150 mil à de Antônio. Apesar de ser Goiás, o empresário não fez doações a candidatos do seu Estado até o momento.

Miguel Coelho possui 9,5% das intenções de voto em Pernambuco e disputa, hoje, a segunda colocação na corrida pelo Palácio do Campo das Princesas com Anderson Ferreira (PL) e Raquel Lyra (PSDB), conforme informações do último levantamento do agregador de pesquisas JC/ODDSPOINTER. Marília Arraes (SD) lidera a disputa, com 31,8 das menções.

De acordo com reportagem de 2010 do site Repórter Brasil, 26 trabalhadores foram resgatados naquele ano da fazenda Santa Mônica, propriedade do pecuarista no Tocantins, em situação análoga à escravidão.

O grupo móvel de fiscalização – formado por integrantes do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), do Ministério Público do Trabalho (MPT) e da Polícia Rodoviária Federal (PRF) - que flagrou a situação apontou, entre outras irregularidades, que os empregados ficavam alojados em barracos sem estrutura, não tinham acesso a banheiro ou água potável, custeavam as próprias refeições e alguns tinham até suas carteiras de trabalho retidas.

O empresário chegou a ser condenado administrativamente em 2014 e teve o nome inserido na lista, mas brigava desde então para ter o nome retirado do banco de dados. Entre julho de 2015 e maio de 2021, por meio de uma liminar, ele conseguiu deixar a lista, mas desde o dia 31 de maio de 2022 após decisão da Justiça do Trabalho, o nome de Emival Filho retornou à seleção de maus empregadores.

Na época da fiscalização, o advogado Breno Caiado, irmão e procurador de Emival, afirmou à Repórter Brasil que a fazenda em que ocorreu o resgate estava arrendada e foi devolvida ao proprietário "com suas cercas e instalações de moradia deterioradas e avariadas".

O grupo de trabalhadores foi contratado, então, para realizar a reforma da propriedade. Segundo o advogado, como não há infraestrutura no local, "não tinha outro jeito" de garantir melhores condições de trabalho aos contratados.

"Os acampamentos, continuou, consistem na única forma possível – independentemente do que exige a lei – para dar suporte a empreitadas particulares como a de construção de cercas. Quando chovia, relataram as vítimas, os barracos ficavam alagados", diz trecho da reportagem.

Na rede social Linkedin, Emival Ramos Caiado Filho se apresenta como "presidente do Grupo Rialma", um grupo que "atua nos segmentos de energia, agropecuária e mineração", segundo seu site oficial. A empresa tem sede no Distrito Federal e atua em oito Estados e 62 municípios.

O empresário conta, ainda, que é filho do ex-Senador Emival Ramos Caiado, possui graduação em Engenharia Civil e é "agropecuarista, com fazendas em seu estado e no Tocantins". "Ao longo dos anos, Emival Caiado Filho foi se especializando na construção de barragens para projetos de irrigação e agropecuária, fator essencial para a concretização de seu grande anseio: contribuir para a preservação do meio ambiente a partir de opções sustentáveis de produção de energia", afirma o texto.

O que dizem os Coelho?

As assessorias de imprensa de todos os candidatos que receberam doações de Emival Filho foram procuradas pelo JC para comentar o caso, mas apenas a de Miguel Coelho respondeu à reportagem até a sua publicação.

Por nota, a coligação Pernambuco com Força de Novo limitou-se a dizer que "todas as doações registradas para a campanha estão dentro da legalidade, seguindo rigorosamente o que determina a Justiça Eleitoral".

Fernando Filho e Antônio Coelho não se pronunciaram sobre as doações do empresário.

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