CIRO GOMES

'Minha tarefa é reconciliar o Brasil', afirma Ciro Gomes no Jornal Nacional

O Jornal Nacional entrevistou Ciro Gomes, candidato do PDT à Presidência da República, nesta terça-feira (23)

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Amanda Azevedo

Publicado em 23/08/2022 às 16:36 | Atualizado em 24/08/2022 às 0:55
Ciro Gomes sendo entrevistado pelo Jornal Nacional, ele foi governador do Ceará entre 1991 e 1994 e foi na época o governador mais bem avaliado do Brasil - REPRODUÇÃO/TV GLOBO

Com Estadão Conteúdo

O candidato à Presidência Ciro Gomes (PDT), segundo sabatinado na série de entrevistas do Jornal Nacional com os principais nomes na disputa ao Palácio do Planalto ao longo desta semana, disse que o processo eleitoral de 2018 está a se repetir no País.

Para Ciro, é preciso "denunciar" as ações o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o chefe do Executivo, Jair Bolsonaro (PL).

"A corrupção é praticada por pessoas e o desastre econômico é responsabilidade de pessoas e de grupos. Elas têm que ser responsabilizadas", disse Ciro.

Ao longo dos 40 minutos de entrevista, Ciro centrou em atacar as gestões de Bolsonaro e de Lula. Para ele, a frustração com o atual chefe do Executivo, fará o País voltar ao "fracasso".

Além de atacar a gestão da pandemia de Bolsonaro, o pedetista rebateu as falas do presidente sobre a ausência de corrupção no Brasil. "A corrupção no Brasil está se institucionalizando tal como é o despudor".

Bonner insistiu com Ciro sobre a dificuldade de um presidente eleito sem apoio no Congresso para aprovar medidas no Legislativo e questionou como ele pretende colocar em prática as propostas de campanha.

"O Bivar que é presidente do União Brasil me pediu para deixar a porta aberta até o último dia. No fim, foi honesto. Disse: "Olha, o problema não é o Ciro. São as ideias dele". Eu represento uma espécie de movimento abolicionista em um sistema escravista.

"O primeiro ano de FHC transcorreu em branco. Qual foi a concepção estratégica do Lula? Ambos se prostraram em um modelo econômico que produz desigualdade, informalidade, desemprego e destruição dos serviços públicos", afirmou Ciro.

Uma das propostas de Ciro é ampliar os plebiscitos e referendos. Renata questionou Ciro se as medidas não colocam em xeque a relação entre a Presidência e o Legislativo.

"Eu acho o regime da Venezuela abominável. É muito clara a minha distinção com esse populismo sulamericanao que o PT, infelizmente, replica aqui. É uma tentativa de liberar o Brasil de uma crise que corrompeu a Presidência da República. Chegamos ao limite das emendas do relator", disse.

Eu vi ontem o cidadão aqui falando que não tinha corrupção. A corrupção está se institucionalizando. O mais importante é estabelecer mediação com governadores e prefeitos que têm prevalência sobre os grupos de pressão. Vou libertar 15% das receitas de SP, RJ, MG e RS, que estão falidos. Vamos combinar um grande projeto de investimento", acrescentou.

Ciro afirmou ainda que Bolsonaro e o PT "reduziram a política a uma coisa odienta".

"A tradição de desemprego no Brasil é de 4%, 5%. Já batemos em 12%. Estamos em 10%. Estamos mandando para a velhice daqui a 15 anos, 50 milhões de brasileiros que não terão cobertura previdenciária. A política não pode ser reduzida a essa coisa odienta, de que o Bolsonaro é um protesto contra a corrupção e a crise econômica que o PT produziu e agora vamos voltar ao passado", disse.

Bonner questionou se Ciro pretende concorrer à reeleição e como isso facilitaria a relação dele com o Congresso, caso eleito.

"O que destruiu a governança brasileira é a reeleição. O presidente se vende a grupos picaretas da política brasileira porque tem medo de CPI e querem se reeleger. Eu me garanto. Não sou corrupto. Não tenho medo de CPI. Abrindo mão da reeleição eu vou fazer as reformas que o Brasil precisa. Quem você escolher, é com esses que sou democraticamente obrigado a negociar. A minha diferença é que o Bolsonaro, por exemplo, denunciou isso e fez o oposto. O PT fez o tempo inteiro a denúncia da corrupção dos outros e depois negociou nas mesmas bases. O que eu prometo? Negociar sem toma-lá-dá-cá", disse.

Além dele, o presidente Jair Bolsonaro (PL) foi o primeiro a ser ouvido, no programa da segunda-feira (22).

Na quinta-feira, será a vez do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT); a senadora Simone Tebet (MDB) será a última a participar, na sexta-feira.

Ciro está na terceira posição na corrida presidencial. O agregador de pesquisas eleitorais do Estadão aponta Ciro com 7% das intenções de voto.

O pedetista já citou em mais de uma entrevista que essa é a última disputa presidencial que ele pretende concorrer. No Roda Viva, da TV Cultura, no dia 15 de agosto, Ciro defendeu que uma possível eleição do ex-presidente Lula será o "maior estelionato eleitoral do planeta" e disse que o petista, seu ex-aliado, e Bolsonaro são "dois corruptores".

Como foi a entrevista de Bolsonaro ao Jornal Nacional

O presidente manteve o discurso de questionamento às urnas eletrônicas e ao sistema eleitoral brasileiro. Pressionado a assumir o compromisso de aceitar o resultado das eleições, Bolsonaro relutou. Disse que respeitaria, mas impôs uma condição: "Desde que as eleições sejam limpas e transparentes."

Logo no começo da entrevista, citou supostos dados de um inquérito da Polícia Federal sobre as urnas que, até agora, não encontrou indício relevante de fraude. Mesmo assim, Bolsonaro afirmou: "Eu quero é transparência nas eleições. Vocês, com toda a certeza, não leram o inquérito de 2018 da Polícia Federal que está, inclusive, inconcluso. Se você pode colocar uma tranca a mais na sua casa para evitar que ela seja assaltada, você vai fazer ou não? Esse é o objetivo do que eu tenho falado sobre o Tribunal Superior Eleitoral."

Em comparação com a sabatina de 2018, os âncoras William Bonner e Renata Vasconcellos foram menos aguerridos nas perguntas e mais cordiais no tratamento ao entrevistado. Mas mantiveram o tom enfático e a constância crítica nos questionamentos. Bolsonaro trazia uma cola na palma da mão esquerda.

O presidente tentou logo dizer que Bonner estava fazendo "fake news" ao lembrar que o presidente xingara ministro do Supremo. O jornalista sorriu. E lembrou ao presidente que ele chamou de "canalha" o ministro Alexandre de Moraes. Bolsonaro, então, justificou-se dizendo que Moraes conduzia uma investigação ilegal admitiu pôs em dúvida a legitimidade do ciclo eleitoral das eleições de 2014 e 2018 sem apresentar provas e disse que quem irá decidir a questão da transparência na auditoria das urnas eletrônicas no Brasil será as Forças Armadas.

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) afirma que "nenhum caso, até hoje, foi identificado e comprovado" e que órgãos como o Ministério Público e a Polícia Federal "têm a prerrogativa de investigar o processo eleitoral brasileiro e já realizaram auditorias independentes".

Bolsonaro também foi questionado sobre medidas de isolamento social adotadas por diversos países do mundo para evitar o colapso de hospitais, como os vistos em Manaus, e que foram criticadas por ele e por integrantes do governo federal. O presidente negou que tenha havido erros ou omissões do governo.

"Menos de 48 horas estavam chegando cilindros em Manaus. Foi algo atípico. Não faltou da nossa parte recursos bilionários para prefeitos e governadores para a construção de hospitais de campanha".

Bolsonaro aproveitou as perguntas sobre a pandemia de covid-19 para criticar a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid "Aquela CPI do circo feita por Omar Aziz e Randolfe Rodrigues não quiseram investigar o desvio de recursos enviados para governadores do Nordeste. Lamento as mortes. Não poderia ser tratado como começou a ser tratado. No protocolo do Mandetta, tinha o tratamento precoce, mas só em casos graves. Eu discordei dele", disse.

Os entrevistadores também abordaram o aumento da inflação e desvalorização do real em comparação ao dólar. Bonner questionou quais serão os planos de Bolsonaro para cumprir promessas para recuperar a economia em um eventual novo governo.

"Os planos foram frustrados na economia por uma seca enorme que tivemos no ano passado e pelo conflito da Ucrânia com a Rússia. Você vê o Brasil como o único país do mundo com deflação. Se fosse apenas o Brasil com esse problema, eu seria o responsável. A grande vacina foram as reformas, a reforma da Previdência, modernização das normas regulamentadoras. Pretendemos diminuir impostos ainda neste mandato."

Em outro momento, Bonner questionou Bolsonaro se ele "sempre foi do Centrão" ou "nunca foi do Centrão". "No meu tempo não existia Centrão. No meu tempo, esses partidos não eram tidos como do centrão. Estamos em um governo sem corrupção. Nomeamos ministros com perfil técnico. Eu não aceitei pressões de lugar nenhum para escalar ministros. Estamos governando sem corrupção ou indicação política", disse.

Renata aproveitou a resposta sobre a escolha de ministros com perfil técnico para questionar Bolsonaro sobre as constantes trocas no comando do Ministério da Educação e a prisão do último ministro, o pastor Milton Ribeiro, envolvido em um escândalo de favorecimento de pastores na distribuição de verbas revelado pelo Estadão, além de suposta participação em crimes de corrupção passiva, prevaricação, advocacia administrativa e tráfico de influência.

"Por muitas vezes, depois que a pessoa chega, a gente vê que ela não leva jeito para aquilo. Ele teve acusação e foi preso, inclusive. Conseguiu o habeas corpus em seguida. O MP do DF foi contra a prisão dele porque não tinha nada contra ele. Outra história: a questão de ter dois pastores, um no gabinete dele, não tem problema. Agora, se ela faz besteira... Nós começamos a investigar o caso dos pastores com a CGU. Não foi a Polícia Federal", disse o presidente.

A âncora citou os casos de trocas de ministros da Educação e questionou quais os critérios utilizados para a escolha dos chefes da pasta. "As pessoas se revelam quando chegam. Atualmente, eu tenho um excelente ministro. O ideal seria não ter rotatividade", respondeu Bolsonaro.

Sobre os casos de corrupção no atual governo, Bonner questionou Bolsonaro sobre acusações de interferência na Polícia Federal.

"Quem me acusou de interferência na PF foi o ex-ministro Sérgio Moro. Falou que a prova estava numa sessão reservada nossa. A sessão foi gravada. Eu não tinha obrigação de entregar a fita. Entreguei a fita. Foi revelada, até com muitos palavrões. Não acharam nada. Ninguém comanda a PF, dessa forma como você está falando", disse.

Ao falar de meio ambiente, o presidente negou que o Brasil é um país destruidor de florestas, disse que há abusos do Ibama ao destruir equipamentos apreendido pelo órgão por derrubar árvores ilegalmente na Amazônia, acusou que potências europeias também lidam com incêndios em suas florestas e admitiu que maior parte dos incêndios no Brasil é de origem criminosa.

"Quando se fala em Amazônia, por que não se fala na França, que há mais de 30 dias está pegando fogo. Assim como Espanha e Portugal. Califórnia pega fogo todo ano. Brasil, infelizmente, não é diferente. Grande parte disso aí é criminoso, eu sei disso "

Jair Bolsonaro  inaugurou a série de entrevistas do Jornal Nacional, que receberá os principais candidatos à Presidência ao longo da semana, marcada ainda pelo início da propaganda eleitoral no rádio e na TV, na sexta-feira, 26. Já no domingo, 28, os eleitores poderão acompanhar na TV Bandeirantes o primeiro debate entre os principais concorrentes ao Palácio do Planalto.

Nos bastidores, o presidente indicava que se recusaria a dar a entrevista ao Jornal Nacional. Ele demorou a confirmar a participação nos termos definidos pela emissora, de que a entrevista fosse presencial, nos estúdios do telejornal, no Rio de Janeiro.

Em e-mail enviado no dia 4 de agosto, a assessoria manifestava a disposição de Bolsonaro de conceder a entrevista, mas no Alvorada, alegando que "em função da campanha e de compromissos assumidos anteriormente, a agenda presidencial impossibilita a ida ao RJ, no dia 22 de agosto".

Segundo a emissora, no dia seguinte, a assessoria de Bolsonaro explicou que o pedido foi para manifestar uma preferência, mas que o candidato não se recusava a ir ao Rio de Janeiro para a entrevista. Sendo assim, a Globo confirmou a entrevista.

Segundo interlocutores, Bolsonaro viu no convite uma oportunidade para se comunicar com a faixa mais pobre do eleitorado, que, segundo as pesquisas, tem se mostrado mais propensa a votar em Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Todos os outros convidados também aceitaram as regras. Ciro Gomes (PDT) será entrevistado na quarta-feira (24). Na quinta-feira (25), será a vez de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Simone Tebet (MDB) fechará a rodada na sexta-feira (26).

O quartel-general do presidente insistiu para que ele passasse por um media training, ensaiando as perguntas e respostas da entrevista no Jornal Nacional, mas Bolsonaro recusou.

Polêmica em 2018

Foi no Jornal Nacional, em 2018, que Bolsonaro reforçou uma fake news que já circulava nas redes sociais. Segundo o então candidato à Presidência, o livro Aparelho Sexual & Cia faria parte de um "kit gay" distribuído nas escolas durante os governos petistas. A alegação ganhou notoriedade e foi um dos grandes temas da campanha daquele ano.

Na ocasião, o então deputado federal fez, ainda, questionamentos a respeito do salário de Renata Vasconcellos, provocou William Bonner sobre seu divórcio com Fátima Bernardes e alegou que a TV Globo sobrevivia de "recursos da União".

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