Sem João Campos, primeiro debate no Recife é marcado por ataques ao prefeito e propostas para a cidade
Encontro foi realizado na sede da Associação dos Docentes da Universidade Federal de Pernambuco (Adufepe), no campus Recife, na quarta-feira (18)
O primeiro debate com os candidatos à prefeitura do Recife nestas eleições foi marcado pela ausência do prefeito e candidato à reeleição João Campos (PSB), que se tornou o maior alvo de críticas devido ao não comparecimento.
O encontro contou com a participação dos outros sete candidatos e foi realizado na tarde da quarta-feira (18), na sede da Associação dos Docentes da Universidade Federal de Pernambuco (Adufepe), que fica no campus da UFPE na capital.
Segundo o mediador do debate, Ricardo Oliveira, diretor da Adufepe, "todos os candidatos foram convidados e apenas um não retornou e não confirmou a participação".
Daniel Coelho (PSD) usou as polêmicas das creches municipais e do déficit habitacional para cobrar respostas ao prefeito durante os minutos iniciais de apresentação no debate.
"É difícil para a cadeira ausente de João Campos explicar - e por isso que ele não veio - por que essa é a gestão que menos investiu em habitação popular da história. A gente gostaria de perguntar a João Campos se ele acha certo entregar creche a candidato a vereador para trocar vaga de creche por voto. Lamento a ausência do candidato João Campos, de não querer debater o futuro da cidade e dar explicações ao povo do Recife", declarou o candidato do PSD.
Em outro momento, o mediador do debate reforçou a ausência de João Campos. "O candidato João Campos não respondeu ao nosso convite". A plateia reagiu neste e em vários outros momentos com vaias ao candidato do PSB.
No decorrer do encontro, Gilson Machado (PL) fez inúmeras menções à ausência do prefeito. "Essa cadeira vazia é de João Campos. Falta de respeito com os universitários", disparou. Dani Portela (PSOL) também criticou o socialista. "Temos que lamentar a ausência do prefeito João Campos para responder a essas perguntas".
Oficialmente, João Campos cancelou a agenda desta quarta-feira em razão da morte do deputado estadual José Patriota. Contudo, o nome dele já não havia sido listado entre os participantes do debate nas peças publicitárias divulgadas desde o início da semana.
"Tem arrumadinho nas creches"
A polêmica sobre as creches da cidade ganhou corpo no segundo bloco do debate, quando Gilson Machado criticou o fato de ter seu guia eleitoral suspenso pela Justiça Eleitoral por falar reiteradamente sobre o assunto. Ele levantou o assunto e questionou a Daniel Coelho quais os planos dele para essas instituições educacionais.
"Nossa proposta é que seja respeitada a legislação e os padrões do Ministério da Educação. As creches terceirizadas pela prefeitura são pagas com dinheiro do Fundeb e deveriam estar atendendo aos padrões de segurança dos bombeiros. Sem nenhuma fiscalização, a prefeitura contratou dezenas de creches que não atendem a isso. E pior: sempre envolvendo atores políticos", disse Daniel.
"Deixo meu repúdio à censura. Não é aceitável que estejamos proibidos de falar desse assunto na televisão. O processo democrático deve ser colocado onde a gente fala e ele teria oportunidade de responder, mas corre de responder aqui e vai tentar nos calar na TV", completou Daniel Coelho, repetindo as críticas à ausência de João no debate.
Gilson concordou e acrescentou que pretende instaurar uma corregedoria específica para cuidar do assunto creche no Recife. "Vamos mostrar para o Brasil o que está embaixo do tapete", disse ele na réplica.
Daniel completou: "Estou proibido de dizer que tem arrumadinho na questão das creches do Recife. Estou proibido lá, mas aqui eu estou dentro da universidade, num espaço democrático e aqui eu posso dizer: tem arrumadinho na questão das creches do Recife", completou o candidato do PSD.
Ataques e pedido de resposta
Em diferentes momentos do debate, os candidatos dispararam ataques contra a prefeitura do Recife. Técio Teles, do Novo, foi um deles. No momento em que falava sobre segurança pública, o postulante disse que "a esquerda, o PT e o PSB acabaram com a cidade do Recife".
Em outro momento, Tecio Teles pediu direito de resposta a uma fala de Victor Assis (PCO), que citou o genocídio na Faixa de Gaza em uma de suas respostas a Tecio. A assessoria do candidato do Novo entendeu que o comunista teria proferido a palavra como forma de classificar Tecio. Esse foi o único direito de resposta concedido no debate.
"Isso é uma acusação muito séria, porque por trás de cada candidato tem uma vida, uma pessoa e você não sabe da minha história. Não tenho família na política. Estou aqui representando uma vontade de mudar a política do meu estado. Antes de comparar os outros a terroristas, é preciso conhecer a história de vida de cada um", disse Técio.
Victor Assis rebateu o pedido de resposta requerido por Tecio, orientando que ele não fosse "chorar" para a organização do debate.
Tecio Teles também protagonizou um embate com Gilson Machado, questionando se ele teria ajuda do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump para realizar uma proposta. O candidato do PL rebateu dizendo que Tecio não consegue alcançar a importância de uma parceria internacional, e que ele estaria tentando descredenciá-lo por ser sanfoneiro.
Propostas
O terceiro bloco do debate abriu espaço para os candidatos apresentarem suas propostas em diferentes temas, definidos por sorteio. Victor Assis (PCO) disse que eu partido não tem um programa de governo específico para cada cidade do país, mas, sim, para todas ao mesmo tempo. "O eixo central é que nós devemos colocar a administração da cidade nas mãos dos trabalhadores", disse ele, defendendo a criação de conselhos populares.
Simone Fontana (PSTU) foi questionada sobre quais seriam suas ações para melhorar a qualidade do ar do Recife. Ela afirmou que esse problema poderá ser resolvido contratando uma nova frota de ônibus com energia limpa para a cidade, com investimentos na arborização das vias do município e com o aumento da quantidade de ciclovias.
Questionado sobre suas políticas para as áreas de morro, Daniel Coelho disse que a prefeitura tem feito obras simbólicas para colocar na publicidade, e prometeu usar a parceria público privada para garantir a retirada das pessoas de áreas de risco. "Vamos construir 5 mil habitações na cidade e fazer as barreiras. A parceria público privada, quando bem feita, ela funciona", defendeu o candidato.
O candidato Técio Teles (Novo) disse que pretende intensificar a economia criativa incentivando o empreendedorismo. "Precisa fortalecer o trabalhador e fazer com que ele possa ter a capacidade de investir, gerar riqueza para sua família e garantir a autonomia financeira. Isso pode ser feito por meio da ampliação do rol da lei de liberdade econômica, para que pessoas possam abrir negócios sem tanta burocracia", afirmou.
Gilson Machado, por sua vez, prometeu melhorar a segurança pública do Recife instalando câmeras de reconhecimento facial, iluminando a cidade, armando, qualificando e ampliando o número de agentes da guarda municipal. Ele defende que a GCM utilize a academia da Polícia Militar para passar por treinamentos.
Dani Portela disse que sua proposta para revitalizar o centro do Recife é o programa "Bom de Teto", que prevê a entrega de “2,5 mil unidades de moradias populares”. Portela afirmou que isso seria possível por meio de “melhores escolhas, tirando o dinheiro que o PSB usa em propaganda e investindo em moradia no centro expandido”.
Ludmila Outtes (UP) afirmou que pretende dar ao povo a gestão pública do orçamento da cidade, por meio de conselhos populares e reestatização de serviços terceirizados.
Gestão Metropolitana
No último bloco, o mediador pediu que todos os candidatos respondessem à mesma pergunta a respeito da articulação do Recife com os outros entes e prefeituras da Região Metropolitana do Recife em diferentes segmentos da gestão. Ele usou como exemplo a volta para casa dos estudantes da Universidade Federal de Pernambuco, que passa por ações conjuntas envolvendo transporte público e segurança pública de diferentes cidades da RMR.
Dani Portela disse que pretende dialogar com o estado e com o governo Lula para desenvolver essas áreas de políticas públicas. Ela também afirmou que pretender dar luz às chamadas "áreas descobertas", que ficam no limite entre os municípios e que acarretam, segundo ela, em dificuldades para que os cidadãos consigam atendimento na saúde ou matrículas em creches, por exemplo. "Qualquer política precisa olhar para essas áreas", defendeu.
O candidato Técio Teles disse que não se pode olhar para a Região Metropolitana do Recife de forma isolada. Ele aproveitou o tema para atacar mais uma vez o prefeito João Campos. "A gente tinha essa coordenação, que era feita pela Condepe/Fidem, e o PSB acabou com o órgão", disparou.
Daniel Coelho, por sua vez, afirmou que a liderança metropolitana tem que ser exercida pela capital do estado. "Assim como João Campos fez hoje, arregou, ele também fez isso com o transporte", disse.
Já Gilson Machado disse que o Recife não tem articulação com os prefeitos do entorno, e afirmou que vai liderar o consórcio metropolitano. Ele aproveitou o espaço para dizer que vai lançar um aplicativo para que o cidadão consiga saber a hora em que os ônibus passam nas paradas. Em seguida, ele foi interpelado por Ludmila Outtes, que lembrou que esse aplicativo já existe. "Esse debate é bom para que a gente saiba quem é trabalhador e quem é empresário", disparou a candidata.
Assista ao debate da UFPE com candidatos à prefeitura do Recife