*com informações da Bramon e da agência RTP de notícias
A notícia de que um enorme foguete chinês está caindo de forma descontrolada sobre Terra preocupou muitas pessoas. O risco, estatisticamente falando, de que alguma parte do foguete atinja pessoas ou cause danos é muito pequeno. No entanto, ao retornar à nossa atmosfera, o estágio central do Longa Marcha 5B deve proporcionar um verdadeiro espetáculo no céu. Se isso ocorrer em território brasileiro, cerca de 350 câmeras do Clima ao Vivo e da BRAMON estarão prontas para registrar tudo. Os cálculos fetos pela Rede Brasileira de Observação de Meteoros (Bramon), pela Empresa de Meteorologia Clima Ao Vivo e pela Comunidade Internacional demonstram que a possibilidade da reentrada ocorrer no Brasil é de 1,92%. O foguete foi lançado em 29 de abril, com a missão de levar ao espaço o primeiro módulo da nova estação espacial da China.
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Vale destacar que é comum que objetos abandonados em órbita entrem na atmosfera da Terra. Recentemente, o segundo estágio de um foguete Ariane 5 reentrou na Terra e foi visto em várias cidades do Pará ao Ceará. Outro caso foi o do segundo estágio do Falcon-9, que foi identificado no céu do noroeste americano. Essas peças costumam ter “apenas” algumas toneladas e, sendo assim, são quase que completamente vaporizadas durante a reentrada. A diferença desta vez é que o estágio central do foguete chinês Longa Marcha 5B, que deve cair até este domingo (09), é uma peça considerada grande, com 33 metros de comprimento, 5 de diâmetro e cerca de 21 toneladas.
Incidente nos anos 70
Em 1979, a Skylab, que foi a primeira estação espacial americana, reentrou na Terra de forma parcialmente descontrolada. A peça tinha mais de 70 toneladas e seus detritos se espalharam por uma grande área do Oceano Índico e do Oeste da Austrália. Após o episódio, foram estabelecidos protocolos internacionais com o objetivo de evitar reentradas descontroladas de objetos com mais de 10 toneladas.
Porque o foguete deve reentrar na atmosfera
A Bramon explica que, "para orbitar a Terra, qualquer objeto precisa viajar a uma velocidade de cerca de 27 mil quilômetros por hora, o que gera uma força centrífuga que compensa a atração gravitacional". A questão é que o Longa Marcha 5B foi deixado em uma órbita baixa, atingindo cerca de 170 quilômetros de altitude em seu ponto mais próximo da superfície. "Nessa altitude, existem partículas de gases atmosféricos em quantidade suficiente para produzir arrasto, e isso reduz a velocidade do foguete, fazendo com que, aos poucos, a gravidade prevaleça. A cada órbita em torno da Terra, o arrasto reduz ainda mais a velocidade do foguete, como consequência, sua altitude diminui, o que faz o foguete atingir camadas ainda mais baixas e mais densas da atmosfera, que oferecem ainda mais resistência. É um caminho sem volta. Sua órbita vai deteriorando até ele atingir o ponto de ruptura, quando o calor intenso e a desaceleração mecânica fará com que o foguete se despedace e queime por algum tempo", explica nota no site da Bramon.
Previsões para a reentrada
Dada a altitude em que o objeto está é difícil prever onde terminará, uma vez que as camadas inferiores da atmosfera são mais vulneráveis às variações de densidade. Na verdade, "não podemos saber quando ele cairá", de acordo com Brobrinsky. Nesta sexta-feira, estava programado para chegar à Terra entre sábado às 21h50 e domingo às 7h GMT (4h em Brasília). Embora as previsões sejam mais precisas com o passar das horas, "mesmo uma hora antes do impacto, a incerteza será grande", acrescenta o especialista.
O primeiro módulo do ônibus espacial chinês é o que agora está retornando à Terra. Sua trajetória está fora de controle porque seus designers imaginaram que ele se desintegraria na atmosfera naturalmente. O problema é que devido à sua enorme massa o foguete dificilmente será totalmente destruído. As partes mais leves certamente vão evaporar, mas "dado o tamanho do objeto, algumas peças permanecerão", de acordo com Florent Delefie, astrônomo do Observatório Paris-PSL.
Além disso, "se o foguete for feito de materiais que não se desintegram ao entrar na atmosfera, o que parece ser o caso, o risco é maior", segundo Delefie. A China "deveria ter previsto um retorno controlado com um retrofoguete, como os russos fizeram quando desorbitaram a estação Mir", comentou à AFP Nicolas Brobrinsky, chefe do Departamento de Engenharia e Inovação da Agência Espacial Europeia (ESA).
A queda do fragmento de foguete está sendo monitorada por organismos ligados à segurança aeronáutica e defesa. Eles têm, ao menos, conhecimento da órbita que ocupa e a que altitude se encontra. "Temos esperança de que vá cair num lugar onde não fará mal a ninguém", disse o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin. "Esperamos que no oceano, ou num lugar assim", acrescentou.
A Bramon destaca que entre 60 a 80% da massa do foguete deve ser consumida durante a reentrada na Terro. As partes que resistirem devem seguir “queimando” até que a resistência atmosférica reduza significativamente sua velocidade. Então, os fragmentos que sobrarem devem se espalhar por uma faixa da superfície que pode se estender por até mil quilômetros, chegando ao solo com uma velocidade bem menor, explica a Rede.
Onde pode cair
Considerando a inclinação da órbita do foguete, as chances são de 73% para que a reentrada ocorra sobre o oceano e cerca de 62% de que nenhum de seus fragmentos atinjam o solo, conforme explicação da Bramon. No caso de realmente cair em terra, a probabilidade de atingir uma pessoa ou causar danos fica na ordem de 1:5000, especialmente para o Hemisfério Sul, onde a densidade demográfica é menor que no Hemisfério Norte.
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