CORONAVÍRUS

À beira do colapso, Brasil enfrenta a fase mais mortal da pandemia de covid-19

Com recordes de mortes, hospitais à beira do colapso e uma campanha de vacinação lenta, o Brasil vive a fase mais letal da pandemia

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AFP, Estadão Conteúdo

Publicado em 04/03/2021 às 20:50 | Atualizado em 04/03/2021 às 22:23
LUTO Mais de 561 mil mortes de pacientes pela doença foram contabilizadas apenas nos Estados Unidos, desde o início da pandemia - MICHAEL DANTAS / AFP

Com recordes de mortes, hospitais à beira do colapso e uma campanha de vacinação lenta, o Brasil vive a fase mais letal da pandemia do coronavírus sem uma estratégia nacional para contê-la.

>> 'Estamos no início de um período que deve ser muito duro", alerta secretário sobre covid-19 em Pernambuco

O Brasil registrou 1.699 novas mortes em decorrência da covid-19 nas últimas 24 horas, segundo dados atualizados nesta quinta-feira (4) pelo Ministério da Saúde. Com isso, chega a 260.970 o total de vidas perdidas no País em razão da doença.

Com a explosão de novos casos de covid-19, a alta taxa de ocupação das UTIs de diversas cidades e o colapso de sistemas de saúde em todo o País, nas últimas 24 horas, foram contabilizados mais 75.102 casos do novo coronavírus, elevando o total para 10 793.732. Esse passa a ser o segundo maior número de casos registrados no Brasil em 24 horas. Só não supera a marca registrada em 7 de janeiro, quando o País contabilizou 87.843 casos.

"Pela primeira vez desde o início da pandemia, verifica-se em todo o país o agravamento simultâneo de diversos indicadores", afirmou esta semana a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), vinculada ao Ministério da Saúde.

Trata-se de um "cenário alarmante" com o aumento de casos e óbitos, altos índices de síndrome respiratória aguda grave (SARS) e uma ocupação de mais de 80% dos leitos das unidades de terapia intensiva (UTI) em 19 dos 27 estados e o Distrito Federal, explicou a instituição.

O presidente Jair Bolsonaro, cético em relação à pandemia, lamentou as mortes, mas mais uma vez foi irônico nesta quinta-feira (4) em relação à000s novas medidas de isolamento social impostas por vários governadores.

"Chega de frescura, de mimimi. Vão ficar chorando até quando? ”, Disse o presidente de extrema direita, de olho nas eleições de 2022.

"Até quando vamos ficar dentro de casa? Até quando vai se fechar tudo? Ninguém aguenta mais isso. Lamentamos as mortes, repito, mas tem que ter uma solução".

Nos últimos sete dias, a média foi de 1.331 mortes diárias, cifra que até fevereiro se mantinha próxima a 1.100. Desde janeiro, o país não consegue ficar abaixo de mil mortes por dia, como aconteceu entre junho e agosto do ano passado, durante a primeira onda.

O pico é resultado, segundo os especialistas, da falta de distanciamento social durante as festas de fim de ano e das aglomerações do verão e do Carnaval, apesar da folia ter sido formalmente proibida.

Alguns estudos também apontam para a nova variante do coronavírus que surgiu em Amazonas, chamada de P.1, duas vezes mais contagiosa, que já foi detectada em 17 estados e está causando alarme no mundo todo.

"A ponta do iceberg" 

O Brasil, um país de 212 milhões de habitantes, vem há um mês e meio realizando lentamente a imunização contra a covid, mas sofre com a falta de doses: até agora, 7,4 milhões de brasileiros já foram vacinados, apenas 2,3 milhões deles com a segunda dose.

Essa emergência "não é uma surpresa, é a gente não ter se preparado, porque o cenário de aumento de casos estava previsto. Sabemos que temos uma variante entre nós. Teria que ter havido 'lockdown' antes", disse à AFP a vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunologia (SBI), Isabella Ballalai.

Nesta quinta-feira, o Rio de Janeiro voltou a impor restrições a bares, restaurantes e praias a partir de sexta-feira para, segundo o prefeito Eduardo Paes, "evitar uma repetição do genocídio" de 2020 na capital carioca.

O estado de São Paulo voltará neste sábado, por duas semanas, à "fase vermelha" das restrições, que proíbe a abertura de centros comerciais, restaurantes e salas de espetáculo.

"Estamos em São Paulo à beira de um colapso na saúde", alertou nesta quarta o governador paulista João Dória. A cada dois minutos, um paciente com covid é internado no estado.

Em Brasília, Mato Grosso, Pernambuco, Rondônia e Acre, entre outros, as atividades já foram reduzidas a serviços essenciais ou o horário de funcionamento do comércio foi limitado, com alguns toques de recolher noturnos.

Mesmo os estados mais ricos e com mais infraestrutura, como Paraná e Santa Catarina, estão em "alerta crítico" devido à alta ocupação de leitos de UTI.

No entanto, a Fiocruz advertiu que o cenário atual "representa apenas a ponta do iceberg de um patamar de intensa transmissão" do coronavírus no país.

- Autogestão -
A situação de emergência e a falta de coordenação por parte do governo federal levaram prefeitos e governadores a se articularem para comprar vacinas.

Secretários estaduais de Saúde pediram na segunda-feira a implementação de um toque de recolher noturno a nível nacional e um "lockdown" nas áreas mais críticas.

Essa postura, porém, se choca com a de Bolsonaro, que promove aglomerações com seus apoiadores, questiona o uso de máscaras e a eficácia das vacinas.

Na semana passada, Bolsonaro afirmou que os governadores que decretarem a suspensão de atividades "terão que pagar" com seus próprios orçamentos as ajudas econômicas à população mais pobre.

"Essa discordância federal e estadual tem sido um dos grandes problemas, de posicionamentos diferentes, muita politização da pandemia e isso sem dúvida nenhuma faz o país estar num dos piores lugares em relação ao gerenciamento da pandemia", concluiu Ballalai.

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