Ao contrário do que diz o Ministério da Saúde, que passou a orientar a suspensão da vacinação de adolescentes a partir dos 12 anos sem comorbidades contra covid-19, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), conselhos de secretários de saúde e especialistas destacam que é seguro imunizar o grupo.
Representante regional da Sociedade Brasileira de Imunizações (Sbim), Eduardo Jorge ressalta que a vacinação dessa faixa etária é mandatória para diminuir a circulação do vírus e controlar a pandemia, especialmente neste momento de circulação da variante delta. "Ao diminuir a circulação do vírus neste grupo, a imunização dos adolescentes pode aumentar a esperança de controlar a pandemia". Outro ponto mencionado pelo pediatra diz respeito à demonstração da eficácia e segurança das vacinas como a da Pfizer. "Entre riscos e benefícios, continuo acreditando que, nos adolescentes, teremos muito mais benefícios", frisou.
No Brasil, a vacina da Pfizer é a única autorizada para ser aplicada em menores de idade. Em nota técnica publicada nessa quarta-feira (15) pela Secretaria Extraordinária de Enfrentamento à Covid-19, o Ministério da Saúde passou a recomendar a vacinação apenas para os adolescentes entre 12 e 17 anos que tenham deficiência permanente, comorbidades ou que estejam privados de liberdade.
Na nota, o ministério elenca seis pontos para justificar a decisão. O primeiro item diz que a Organização Mundial da Saúde (OMS) não recomenda a imunização de crianças e adolescentes com ou sem comorbidades. Na verdade, não há orientação contrária da entidade internacional para a vacinação dessa faixa etária. A recomendação da OMS é para que os menores de idade só sejam imunizados depois que todas as pessoas dos grupos de maior risco estejam vacinadas. No Brasil, a vacina já foi ofertada a pessoas mais vulneráveis à covid, como idosos, profissionais de saúde e pessoas com doenças crônicas, como transplantados, pacientes de câncer, diabéticos, entre outros.
O documento da pasta, assinado por Rosana Leite de Melo, secretária extraordinária de Enfrentamento à Covid-19, afirma que a maioria dos adolescentes sem comorbidades são assintomáticos ou apresentam poucos sintomas. No entanto, especialistas dizem que vacinar os mais jovens é uma estratégia importante para frear a transmissão do vírus.
Outro trecho da nota do ministério diz que "os benefícios da vacinação em adolescentes sem comorbidades ainda não estão claramente definidos". A vacina da Pfizer já foi amplamente testada nessa faixa etária. Outros países como Estados Unidos, Chile, Canadá, França e Israel também usam o imunizante em adolescentes.
A Anvisa ressaltou, nesta quinta-feira (16), que não existem evidências que subsidiem ou demandem alterações nas condições aprovadas para a vacina da Pfizer.
"Com os dados disponíveis até o momento, não existem evidências que subsidiem ou demandem alterações da bula aprovada, destacadamente, quanto à indicação de uso da vacina da Pfizer na população entre 12 e 17 anos", disse a Anvisa.
"Benefícios da vacinação excedem significativamente os seus potenciais riscos", lembrou o órgão.
Em coletiva de imprensa na tarde desta quinta-feira (16), o secretário de Saúde de Pernambuco, André Longo, declarou que o Estado continuará a vacinar adolescentes contra a covid-19. O gestor criticou a postura do ministério, que pegou os municípios e Estados de surpresa ao anunciar a suspensão da vacinação desse grupo. "Isso gera intranquilidade. Vários Estados estão até revoltados com esta postura inicial, levada a público hoje, pelo ministério", falou Longo.
Também nesta quinta, a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIM) e os conselhos Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) se posicionaram pela continuidade da vacinação contra a covid-19 de adolescentes sem comorbidades.
A SBIM afirmou que a medida gera receio na população e abre espaço para fake news. A entidade questionou as justificativas apresentadas pelo governo federal para rever a orientação.
Conass e Conasems disseram que a decisão do ministério foi tomada "unilateralmente e sem respaldo científico".
"Enquanto executores desta importante política pública, Conass e Conasems, baseados nos atuais conhecimentos científicos, defendem a continuidade da vacinação para a devida proteção da população jovem, sem desconsiderar a necessidade de priorizar neste momento dentre os adolescentes, aqueles com comorbidade, deficiência permanente e em situação de vulnerabilidade", traz a nota.