(Alterada às 19h)
Na Praça do Derby, área central do Recife, a conversa se desenrolou nas paradas de ônibus. Em Vitória de Santo Antão, Zona da Mata, um comerciante ofereceu o microfone da loja para que a mensagem pudesse ser ouvida por mais gente. Em Caruaru, no Agreste, o papo foi na tradicional feira de artesanato. Até dentro de um coletivo da linha BRT-Caxangá teve abordagem. Com performances, aferição de pressão, mostra de trabalhos e cartazes, grupos de alunos das Universidades Federal (UFPE) e Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) explicaram à população, na manhã deste sábado, como o contingenciamento de 30% dos recursos da União, anunciado no início do mês, pode prejudicar o funcionamento das instituições de ensino superior.
A ação, batizada de Dia Nacional da Bálburdia Universitária, teve apoio de alguns professores. “O corte de verbas vai impactar nas pesquisas, tão importantes para a sociedade, e na formação dos estudantes, tanto das graduações como da pós-graduação”, destacou o professor de farmacologia da UFPE Antônio Gomes, um dos que esteve na Praça do Derby.
Mateus Martins e Mateus Falcão, alunos de engenharia elétrica, mostraram o projeto de robótica, chamado Maracatronic, desenvolvido nas escolas públicas de Passira, no Agreste. “Provavelmente esse projeto acabará se houver o corte de recursos. Porque não teremos dinheiro para comprar componentes ou pagar o transporte até lá”, lamentam.
A mestranda em fisioterapia Luiza Vieira abordou passageiros de ônibus para explicar sobre varizes. A patalogia é o tema da sua pesquisa. Já Yasmin Araújo, de engenharia florestal da UFRPE, relatou como a poluição afeta a vida nos manguezais.
Em Vitória, a ação começou na Praça Duque de Caxias e depois migrou para a feira livre. “Fomos muito bem recebidos pelos moradores, que pararam para nos ouvir. Em uma loja, nos deram o microfone para explicar a quem passava pela rua como o corte de verbas vai nos atrapalhar”, afirmou Áquila Alcântara, aluno de enfermagem. Uma estratégia usada para chamar a atenção foi aferir a pressão das pessoas gratuitamente.
As três federais do Estado (UFPE, UFRPE e Univasf) e os dois institutos (IFPE e IF do Sertão) tiveram juntos cerca de R$ 130 milhões bloqueados pelo Ministério da Educação.
Amanhã, deputados pernambucanos vão se reunir na reitoria da UFRPE, em Dois Irmãos, no Recife, à tarde, para discutir o assunto com os reitores.
As atividades da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) deverão parar a partir de outubro, caso permaneça o corte de 30% do seu orçamento, bloqueados pelo MEC. Na Federal Rural (UFRPE), a previsão é interromper as aulas também em outubro ou novembro. Na Federal do Vale do São Francisco (Univasf), a suspensão será ainda mais cedo, provavelmente em setembro.
Além de atingir um universo de cerca de 80 mil pessoas entre alunos, professores e técnicos das três instituições, o contingenciamento do governo federal, realizado semana passada, põe em risco o emprego de 2.400 brasileiros que prestam serviços terceirizados. Sem dinheiro, as universidades terão que encerrar contratos de limpeza, segurança e manutenção, entre outros, provocando a demissão desse pessoal.