O projeto foi anunciado em 2000. A obra começou em 2010. E o prazo de conclusão acaba de ser reprogramado para o fim de 2017. Com um ritmo desse, é difícil para um morador do Pilar, no Bairro do Recife, confiar no Programa de Urbanização e Inclusão Social da comunidade.
“Vou terminar o resto da minha vida assim, com o pé no esgoto e escorpião caindo em cima da cama. A gente vive ao lado do prédio da prefeitura, mas parece que aqui só tem um bocado de cachorro e de porco”, desabafa Lucivânia Gomes de Vasconcelos, residente no Pilar há 21 anos.
Ela mora num trecho da comunidade conhecido como Galpão e não sabe se será ou não contemplada com um dos apartamentos de 40 metros quadrados que a prefeitura está construindo no local. “No desenho, tudo ficou lindo. Mas não fizeram praticamente nada”, destaca Lucivânia.
Praticamente nada, nesse caso, não é um eufemismo. Em cinco anos, a prefeitura conseguiu entregar apenas 80 unidades residenciais, das 588 prometidas aos moradores do Pilar. Outras 108 têm previsão de entrega para o primeiro semestre de 2016.
Os primeiros apartamentos liberados para uso (Blocos A e C) ficam na mesma quadra onde estão sendo erguidas as novas residências (Blocos B e D). E que também abrigará a escola, a creche e o posto de saúde. A prefeitura pretende concluir os três equipamentos no segundo semestre de 2016.
O presidente da Empresa de Urbanização do Recife, Victor Vieira, justifica a demora pela necessidade de ajustes no projeto e mudança de construtora. “Tivemos de fazer nova licitação”, diz. Segundo ele, a obra estava suspensa e foi retomada em julho de 2014.
“Está tudo errado aqui. Prometeram muita coisa, mas a gente continua com esgoto na porta de casa, lixo e gabiru em todo canto”, reclama Graciete da Silva. “E eu esperando pelo apartamento que nunca chega, morando num barraco cheio de rachadura.”
A moradora Jailma Maria da Silva usa a linha do tempo da sua vida para reforçar a demora na implantação da obra de urbanização do Pilar. “Nem sonhava em ser mãe quando começaram a falar no habitacional. Agora, tenho uma filha de 4 anos de idade para cuidar”, destaca.
“Anunciaram a obra antes das reformas do Porto. Os armazéns já estão funcionando (bares, restaurantes e museu) e a gente continua do mesmo jeito”, completa a moradora Safira Gonzaga de Lima.
Em todas as esquinas enlameadas, que exalam odor de esgoto, as pessoas reclamam da lentidão na execução do conjunto residencial. “A prefeitura entrega um pedaço da obra hoje, outro amanhã. Enquanto isso, o sofrimento do povo é 100% em tudo”, diz o morador Emanuel da Costa.
Se a área estivesse urbanizada, com as ruas pavimentadas e o serviços de drenagem e esgoto funcionando, turistas que descem do Terminal Marítimo de Passageiros, bem próximo da comunidade, poderiam circular pelo local e incrementar o comércio, observa Emanuel. “Mas, nem a Igreja do Pilar, um ponto histórico importante, toda reformada, abre as portas.”
As famílias sentem falta de cursos profissionalizantes para jovens e espaços de lazer para todas as idades. “O prefeito não liga para a gente e olhe que o Pilar está na frente do prédio da prefeitura e junto do Tribunal (Regional Federal)”, declara Emanuel.
Prometeram muita coisa, mas a gente continua com esgoto na porta de casa, lixo e gabiru em todo canto
afirma a moradora Graciete da Silva
Inicialmente orçada em R$ 39,4 milhões, a intervenção teve o valor reajustado para R$ 46 milhões. São recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, Caixa Econômica Federal, PAC e prefeitura.
As 588 unidades estarão distribuídas em 17 blocos, ocupando dois lotes, um com 332 apartamentos e outro com 256. Num dos lotes, arqueólogos que acompanhavam o programa encontraram esqueletos humanos de um cemitério associado ao século 16 ou 17.
Um grupo de esqueletos foi removido pelos arqueólogos para estudos em laboratório. Os demais continuam lá. Não há sinal de obra no local. Só se vê estacas de concreto que deveriam sustentar novos prédios e montanhas de terra cobrindo quase todo o trecho escavado na pesquisa.