Renata Paes, 27 anos, concluiu o curso de design no Câmpus Agreste da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) em dezembro de 2017 com o projeto Memória Gráfica da Arquitetura de Olinda. O trabalho, apresentado em formato de catálogo, com 80 páginas e ilustrado com 45 fotos, traz dois roteiros para serem explorados com os olhos e com o coração na Cidade Patrimônio Cultural da Humanidade.
No primeiro roteiro, denominado Ao alcance dos olhos, Renata registra azulejos e gradis que protegem e ao mesmo tempo decoram fachadas do casario colonial do Sítio Histórico de Olinda. A segunda rota, De portas abertas, resgata os pisos de ladrilhos hidráulicos que ainda resistem à modernização das casas e os utilitários cobogós, que resguardam as moradias do sol sem impedir a passagem de luz e de vento.
Para mapear os roteiros afetivos ela percorreu sem pressa 15 ruas da Cidade Alta, guiada pelas memórias da infância e pela experiência de quem mora no Sítio Histórico há seis anos. “O recorte que fiz define o grafismo de Olinda”, declara Renata Paes, citando os azulejos decorados que remetem à arquitetura dos séculos 17 e 18, além dos gradis de linhas curvas, típicas do barroco do século 17.
Os azulejos, diz ela, entraram no Brasil como lastro de navio e acabaram virando decoração nas fachadas das casas. “Registrei azulejos preservados e painéis faltando peças, isso reflete a degradação que está acontecendo na cidade”, destaca. O catálogo traz grades com padrões curvilíneos que se repetem em portas e janelas da área mais preservada do Sítio Histórico (as ruas principais) e modelos geométricos, mais modernos, nas casas reformadas.
Filha de arquitetos reconhecidos pela defesa do patrimônio histórico – Antenor Vieira de Melo, professor da UFPE e diretor do Centro de Preservação do Sítio Histórico de Olinda, que morreu aos 63 anos em 2013, e Nazaré Reis, defensora do patrimônio ferroviário – Renata recorreu às conversas dos pais à mesa de jantar e aos passeios em família para conduzir o catálogo Memória Gráfica da Arquitetura de Olinda.
“Meu pai me levava ao Bairro do Recife e contava a história dos prédios. Como designer, me apropriei da arquitetura para reconhecer os grafismos”, declara. Ela encerra o trabalho com modelos de grades, azulejos, cobogós e ladrilhos hidráulicos de Olinda para servirem de inspiração e serem transformados em outros produtos. “É uma forma de perpetuar esses elementos, a grade pode ser usada numa estampa”, diz.
Mais do que obter o diploma, a proposta de Renata Paes com trabalho de conclusão do curso é sensibilizar moradores da Cidade Alta de Olinda para que eles se tornem protetores desse patrimônio secular contemplado nas Ruas de São Bento, Prudente de Morais, do Amparo, 27 de Janeiro e 15 de Novembro entre outras. “Quando a pessoa cria uma relação de afeto, ela dá mais valor, entende a importância e provavelmente vai cuidar e preservar”, declara.
A intenção de Renata Paes é ampliar a pesquisa, acrescentar mais informações, editar o texto, procurar patrocínio e publicar o trabalho, orientado por Paula Valadares e co-orientado por Amélia Paes. As fotografias são de Thiago Duarte.