Os R$ 20 milhões anunciados pelo Ministério da Segurança Pública para construção de Centros Comunitários da Paz (Compaz) serão aplicados em unidades para três dos 15 bairros do Recife que concentram metade dos homicídios da cidade: Ibura, Pina (Zona Sul) e Várzea (Zona Oeste). O investimento tende a reforçar a queda dos índices de assassinatos na capital, que foi de 24,76% entre janeiro e novembro deste ano e o mesmo período do ano passado (de 731 para 550). No Estado, a redução, que já se mantém há 12 meses, foi de 23%, saindo de 5.032 para 3.862, conforme balanço divulgado ontem pela Secretaria de Defesa social (SDS).
Ibura e Pina situam-se na Área Integrada de Segurança 3, onde foram registrados 151 assassinatos de janeiro a novembro deste ano, 26% a menos que em 2017, com 203. O primeiro já teve até posto de saúde fechado por causa da violência, recentemente. Várzea fica na AIS 4, que teve 139 homicídios este ano contra 197 em 2017. A cidade tem 94 bairros. “Ibura e Várzea têm situação mais complicada, como todo lugar onde os governos não se fizeram presentes”, afirma o secretário de Segurança Urbana do Recife, Murilo Cavalcanti.
A população desses bairros confirma as dificuldades. Na Vila das Crianças, na UR-5, Ibura, o bingo comunitário é a diversão de um grupo de donas de casa, enquanto as crianças brincam no meio da rua, ao lado de um canal. “Eu queria fazer natação. Nunca fiz nenhum esporte. Aqui a gente brinca de pega-pegou e de se esconder, o parquinho é todo quebrado. Na escola só tem um pátio”, diz Ana Clara, de 9 anos.
A dona de casa Ana Paula Silva, 33, desconhecia o que é Compaz, mas logo se animou. “Ter espaço para ocupar os meninos e os deixar fora da rua é ótimo, evita de ver e se envolver com coisas erradas”, diz. O coordenador-geral da Frente de Desenvolvimento do Ibura, Rufino José da Silva, considera o local de construção (na ladeira da UR-1) bem localizado, mas pequeno e lamenta que a estrutura seja diferente das unidades atuais. Nos três bairros não haverá piscina nem quadras esportivas.
Na Várzea, a dona de casa Thamires Soares, 31, mãe de quatro crianças, tem esperança de que a violência diminua. “Essa rua (Cruz Mâcedo) é praticamente um corredor de fuga para os bandidos e de perseguição policial. Não tem nem horário. Os meninos, quando não estão na escola, ficam trancados dentro de casa”, diz.
Murilo Cavalcanti explica que as unidades serão menores para otimizar os recursos, mas terão 90% dos serviços das outras. Os terrenos são do município e tanto no Ibura quanto na Várzea há campos de futebol próximos. “Não tenho dúvida em afirmar que o enfrentamento da violência só com polícia não resolve, estamos no caminho certo”, afirma.
Os projetos foram apresentados à União em 2013, mas só agora, com a criação do Sistema Único de Segurança Pública (Susp) – que prevê integração em governos federal, estaduais e municipais – vão ser contemplados. “O papel dos municípios no trabalho de prevenção é fundamental”, salienta o secretário-executivo da pasta, Eduardo Machado.
No entorno dos dois Compaz atuais, os índices de homicídio são os menores em 15 anos. No Governador Eduardo Campos, no Alto Santa Terezinha, Zona Norte, a redução de 2017 para 2018 foi de apenas duas mortes (de 34 para 32), mas o número já chegou a 73 em 2011 e, no ano passado, foi 21% menor, apesar de o Recife ter um aumento de 21%. Inaugurado em março de 2016, ele tem 12.193 pessoas cadastradas.
Já no entorno do Escritor Ariano Suassuna, no Cordeiro, Zona Oeste, inaugurado em março de 2017, foram 24 homicídios contra 52, também já tendo a área chegado a 73 mortes em 2011. Lá são 15.757 cadastrados. Duas outras unidades devem ser inauguradas antes. Uma na Avenida Caxangá, Zona Oeste (que será adequação de um espaço de esporte e cultura financiado pelo Ministério da Cultura a ser concluído em janeiro) e outra cuja obra está sendo retomada no Coque, área central, com recursos do Estado.