Completando seus 100 anos este mês, ele continua sendo uma grandes estrelas do carnaval. E bote grande nisso, afinal, tem quase cinco metros de altura. Mas, sua imponência não é só no tamanho. Zé Pereira também é o primeiro boneco gigante do Brasil. Acompanhado de Vitalina, sua esposa, o calunga nascido no Sertão está de malas prontas para comemorar seu centésimo carnaval com uma grande festa. Neste domingo, ele sairá de Belém do São Francisco, sua cidade natal, para uma viagem mais que especial. Virá ao Recife festejar seu aniversário ao lado dos bonecos gigantes de Olinda e Recife, no Marco Zero, no dia 27 deste mês.
O boneco foi criado pelo folião Gumercindo Pires de Carvalho em 1919, para animar o carnaval da cidade. A ideia de criar o calunga surgiu a partir de histórias contadas pelo pároco da cidade, o padre belga Norberto Phallapin, que contava aos fiéis da pequena Belém de São Francisco sobre a tradição dos bonecos gigantes europeus, que encantavam as procissões religiosas. Seu nome, Zé Pereira, foi escolhido por causa de uma tradição carioca, vinda de Portugal, onde pessoas saiam às ruas batendo em bombos chamando a população para brincar o sábado de carnaval.
Depois de 10 anos, o calunga ganhou uma companheira. Desde então, Vitalina, a boneca loira, desfila ao lado do parceiro. Juntos, os dois desembarcam nas margens do São Francisco - vindos da Europa, segundo a lenda - para brincar no carnaval na cidade. “No imaginário de Gumercindo o boneco tinha vindo da Bélgica, nas ‘oropas’, como chamamos, de onde eram as histórias contadas pelo padre, e teria chegado a Belém pelo rio”, conta a pesquisadora e professora da Universidade Federal de Pernambuco, Tercina Lustosa.
Hoje, o gigante deixa sua cidade para visitar o Recife. Mas, não partirá sem festa. Em sua despedida estarão presentes caboclos de lança, papangus, caretas e outros personagens da cultura carnavalesca do Estado. A orquestra filarmônica da cidade também vai fazer parte do festejo. A ação fará parte de uma campanha do Governo do Estado para promover o carnaval das cidades interioranas. “A gente precisa mostrar aos pernambucanos e a quem vem de fora que a festa acontece em todo o Estado. Este ano, no centenário de Zé Pereira, estamos colocando os holofotes nesta tradição carnavalesca tão antiga e importante, que nasceu no nosso Sertão, e hoje é a cara do nosso carnaval”, pontua o secretário de Turismo, Esportes e Lazer, Rodrigo Novaes.
Zé e Vitalina desembarcam no Recife no dia 27 de fevereiro, às 16h. Aqui, outra festa os espera. “Ele foi o primeiro boneco gigante do Brasil, vamos cantar parabéns e comemorar o centenário dessa lenda, que chega pelo São Francisco para animar nossa folia”, acrescenta o secretário. A programação da chegada à capital ainda será divulgada.
Após conhecerem seu amigos gigantes, Zé Pereira e Vitalina embarcam de volta para casa. Chegam no dia 1º de março e já iniciam oficialmente os festejos da cidade que tanto os ama. “Ele é quem abre a folia. Sem ele, não há carnaval. Já houve ano da cidade não ter festa, mas ele não deixou de sair. Nossa tradição é muito forte, as pessoas têm Zé Pereira como alguém da família. Ele e os bonecos criados posteriormente, como boneco do Padre, o Galo (em homenagem ao Galo da Madrugada) e o Negro D’gua, por exemplo, são tidos como deuses pelo moradores da região”, conta o secretário de Cultura de Belém do São Francisco, Umberto Maciel.
Durante os festejos de momo, o casal chega “das oropas”, como brincam os moradores da cidade, na sexta-feira para abrir o carnaval. A partir daí, a Troça do Zé Pereira vai às ruas em todos os dias da festa, sempre às 18h. Em comemoração ao seu aniversário, uma exposição entrará em cartaz em Belém do São Francisco, no dia 22. A expectativa da prefeitura é que aproximadamente 10 mil pessoas frequentem a cidade em cada dia de carnaval.