O Casarão da Várzea, construção centenária e abandonada há mais de quatro décadas, ganhará cara nova neste final de semana. Moradores do bairro, movidos pela vontade de ver o local revitalizado, promovem neste domingo (17) uma ação sustentável e artística no terreno do imóvel com o intuito de chamar a atenção do poder público para o descaso com o espaço, considerado Imóvel Especial de Preservação (IEP) desde 2015.
O prédio de referências inglesas, único exemplar do estilo chalé romântico de dois pisos no Recife, foi construído no início do século XX e já foi sede do primeiro hospital odontológico da América Latina, o Magitot, nos anos de 1950 e 1960. Hoje, não tem mais telhado ou piso. Portas e janelas estão destruídas e as grades foram roubadas. O terreno ao seu redor virou ponto de consumo de droga e serve como local de descarte de todo tipo lixo e criação de cavalos e galinhas.
“Criamos um movimento, o Salve o Casarão da Várzea, que já é um desdobramento de outras ações executadas pelos moradores. Desde que o prédio foi abandonado, nos anos 60, já não havia cuidado", relata o artista Well Carlos da Silva, integrante do movimento e morador da Várzea desde que nasceu.
Várias ações já foram realizadas no espaço, incluindo oficinas e atividades educacionais. O intuito dos integrantes é que o imóvel se torne, posteriormente, um centro cultural e educacional, com teatro e salas de aulas, e que em seu terreno seja construído o Mercado Cultural da Várzea.
No domingo o espaço será ocupado para um dia inteiro de atividades. Das 8h às 17h haverá pintura do casarão e limpeza do terreno, reativação da horta comunitária, além de oficina de slackline e apresentações culturais, com o Coco dos Capoeiras e Dj Enzoo. A horta será cuidada pelos próprio moradores, responsáveis pelo plantio, cultivo e colheita de frutas, verduras e legumes. As mudas serão plantadas neste domingo e, depois que crescerem, terão seus alimentos doados para famílias carentes do bairro.
Mais que ações pontuais de limpeza e cuidados com o que restou do Casarão da Várzea, o movimento tenta despertar nos moradores o sentimento de pertencimento ao local e a consciência de sociedade. “Queremos ocupar esse lugar que também é nosso. Dialogamos com as pessoas, até com quem usa o terreno para fins que não são legais, como o uso de drogas, por exemplo. Esse é um patrimônio cultural da gente, faz parte da história do bairro e dessas pessoas”, explica a estudante Anni Carolyne Alves, 22 anos.
O terreno está repleto de metralhas, lixo e com muito mato em volta. Os integrantes do movimento afirmaram ter solicitado à Empresa de Manutenção e Limpeza Urbana (Emlurb) a limpeza da área para que a horta seja reativada, mas o pedido teria sido negado pela autarquia. Em nota, a Emlurb justifica que "tinha acordado com um dos organizadores do evento para que retirassem o material de descarte de dentro do terreno e a Emlurb faria o recolhimento, mas o organizador não conseguiu retirar esse material".
Apesar disso, o evento está mantido e os próprios organizadores farão a limpeza do espaço.
Quem tiver interesse de participar da ação pode contribuir levanto sacos de lixo, tintas para pintura das paredes e grafitagem, ferramentas para a horta e capinagem, água mineral e frutas, para que seja feito um lanche coletivo. O Casarão da Várzea fica na Rua Azeredo Coutinho, nº 130, Várzea.