Para moradores do segundo município mais populoso de Pernambuco, com mais de 695 mil habitantes, falta o mínimo: dignidade para viver. Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife, está entre os 10 piores municípios do País em saneamento básico, de acordo com o ranking produzido pelo Instituto Trata Brasil, em parceria com a consultoria GO Associados. A versão de 2019 leva em conta os dados do Ministério do Desenvolvimento Regional do ano de 2017 e contempla as 100 maiores cidades brasileiras, onde habitam 40% da população.
No País, o cenário é preocupante. “Temos 35 milhões de brasileiros sem acesso a água tratada e quase 100 milhões de pessoas sem coleta de esgoto”, destaca o pesquisador do instituto, Pedro Scazufca. Para ele, a raiz do problema está na falta de investimentos. “Não estamos investindo na velocidade necessária. De acordo com o Plano Nacional de Saneamento Básico, o investimento deveria ser de R$ 20 bilhões anuais e, em 2017, esse valor ficou na casa dos R$ 10,9 bilhões. A consequência disso é que estamos longe da meta estabelecida pelo mesmo plano, de universalizar o serviço em 2033. Seguindo nesse ritmo, alcançaremos o objetivo 20 anos depois.”
Jaboatão está entre os destaques negativos do ranking. “Assim como no Brasil, de forma geral, esse município tem um grande desafio no tratamento de esgoto”, analisou o especialista. Apenas 19,11% do município tem atendimento de esgoto. Desse número, apenas 14,92% é tratado. A dona de casa Penha Cristina de Barros, de 48 anos, conhece bem os problemas decorrentes da falta de saneamento. A casa onde mora, em Jardim Piedade, fica à beira de um canal, que traz lixo, insetos, roedores e doenças para a população. “Muita gente, como eu, já teve chicungunha por causa da quantidade de mosquito”, conta. Outros moradores, como a faxineira Eliana Maria da Silva, 33, já perderam tudo dentro de casa, devido aos alagamentos. “Perdi sofá, estante, geladeira, cama e guarda-roupas. Tenho três crianças em casa e vivo com medo”, lamentou.
O presidente da Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa), Roberto Tavares, afirmou que o ranking leva em conta números de 2017 e as obras iniciadas depois disso não impactaram as performances de alguns municípios. “O ranking não consegue capturar os esforços que estão sendo feitos para melhorar o serviço. Iniciamos obras dentro do Cidade Saneada no valor de R$ 90 milhões em Jaboatão. São 12 frentes de obras em Candeias”, comentou.
Os destaques positivos no Estado são Petrolina, no Sertão, que ocupa a 25ª posição; e Caruaru, no Agreste, que ficou na 35ª colocação do ranking. “Em Petrolina, o indicador de abastecimento urbano de água é de 100%, o atendimento atendimento de esgoto é de 78% e 70% do esgoto é tratado. São bons indicadores, de forma geral”, avaliou Scazufca. Em nota, a Compesa afirmou que, nos últimos dez anos, o município recebeu investimentos de R$ 156 milhões, o que contribuiu para avançar na ampliação e melhoria contínua dos serviços.
Caruaru foi uma das cidades que mais cresceram no ranking do instituto: foram 15 posições, em relação ao levantamento do ano anterior. Agora, o município aparece com 53,23% de atendimento total de esgoto, contra 47,82% na pesquisa de 2018. Para Tavares, o município subiu na avaliação basicamente por causa da Adutora do Pirangi, que aumentou a oferta de água, acrescentando que também foram recuperadas quatro estações de bombeamento de esgoto e vários bairros foram ligados à rede coletora (de esgoto). A Compesa informou que está investindo R$ 50 milhões em obras na cidade e que até o fim do ano estará pronto o projeto de engenharia para deixar Caruaru 100% saneada.