Quase duas semanas após ter o couro cabeludo arrancado em um acidente em uma pista de kart na Zona Sul do Recife, a auxiliar de ensino infantil Débora Esthefany Dantas de Oliveira, de 19 anos, passa hoje por cirurgia para reconstrução da área. Desde domingo ela está internada no Hospital Especializado de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, referência em microcirurgia no País. O procedimento de hoje é complexo e deve durar cerca de sete horas. O transplante do couro cabeludo será acompanhado pelo cirurgião plástico americano Marco Maricevich, que atua em Houston, nos Estados Unidos.
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Para cobrir a região do crânio, que está exposta, os médicos irão utilizar um pedaço da musculatura da jovem. O tecido para o revestimento será o do músculo grande dorsal, localizado nas costas. As artérias toracodorsal, subescapular e axilar garantirão a sobrevivência do músculo após o procedimento. Já o pedaço que será transplantado para a cabeça será ligado à artéria e veia facial, através de suturas microcirúrgicas, com auxílio de microscópio.
“Se isso não for realizado, a paciente pode ter infecção e complicações derivadas desse processo infeccioso no sistema nervoso central”, alerta o cirurgião plástico especialista em microcirurgia reconstrutiva, Daniel Lazo, que acompanha a jovem em Ribeirão Preto. Segundo ele, durante a fase aguda, que vai de quatro a seis semanas, serão realizados procedimentos para garantir a vida e a funções de Débora. Posteriormente, outros procedimentos terão como objetivo melhorar a estética.
O especialista acredita que ela deve deixar a unidade de saúde em seis semanas, mas o tratamento deve levar em torno de dois anos. “Sempre existem deformidades residuais, como cicatrizes. Após deixar o hospital, ela continuará passando por cirurgias para ter o melhor resultado possível.”
De acordo com o cirurgião plástico Alex Fioravanti, a área coberta por tecido muscular será revestida por enxertos de pele de espessura parcial da coxa de Débora. A jovem precisará usar prótese capilar (peruca), já que todas as camadas do couro cabeludo foram arrancadas durante o acidente. “Por se tratar de uma mulher, que não tem muito cabelo no corpo, pensar em um transplante capilar posteriormente é praticamente impossível. O melhor resultado estético é a prótese capilar”, avalia.
Reimplante
No Recife, logo após o acidente, Débora chegou a ter o couro cabeludo reimplantado. “Foi um procedimento bem sucedido, mas em 48 horas a paciente apresentou uma trombose. Houve a necessidade de outras intervenções, que não foram bem sucedidas. Sendo assim, optou-se por encaminhar a paciente para Ribeirão”, detalhou Lazo. Assim que chegou a São Paulo, ela teve o reimplante removido, ainda no domingo. Na quinta-feira, Débora passou por procedimento para reconstrução das pálpebras superiores e da fronte.
De acordo com o último boletim, Débora segue sem intercorrências, contando com auxílio de sessões na câmara hiperbárica. Nesse tipo de tratamento, o paciente é submetido a pressões mais altas do que a atmosférica, com oxigênio a 100%. “Ajuda a melhorar a irrigação dos tecidos e a diminuir a inflamação”, explica Daniel Lazo.
A jovem deve passar o fim de semana na UTI e voltar para o quarto na segunda-feira. Ontem, ela recebeu a visita de uma psiquiatra, dentro do acompanhamento multidisciplinar que tem recebido na unidade. “Ela está tranquila, confiante de que tudo dará certo. Estamos muito bem assistidos, todos nos tratam como família”, afirmou o namorado da vítima, Eduardo Tumajan. Ele agradeceu as mensagens que os dois têm recebido.
Eduardo é o único acompanhante de Débora, mas outras duas pessoas devem ir para Ribeirão. Uma delas seria uma amiga e outra, a irmã. Segundo o namorado, ainda não há previsão de chegada das duas. O transporte e o tratamento da jovem estão sendo custeados pela rede de supermercados Walmart. A empresa alugava o espaço onde funcionava o Adrenalina Kart, onde o acidente aconteceu.