A morte de um menino de 11 anos no Parque da Jaqueira, na Zona Norte do Recife, trouxe a tona a ausência de equipes de primeiros socorros em equipamentos públicos de lazer no Recife. Preocupados com a falta de assistência imediata no local em casos de acidentes, usuários dizem se sentir expostos aos riscos, principalmente quando estão com crianças. Destino certo de passeios e programas em dias de folga, os Parques da Jaqueira e 13 de Maio, no bairro de Santo Amaro, área central do Recife, não possuem serviços de atendimento deste tipo.
A criança, que não teve o nome revelado, teria desmaiado e tido uma parada cardíaca enquanto brincava no parque. Apesar de ter sido atendido inicialmente por médicos que passavam pelo local, o menino não resistiu. Uma equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi acionada, mas não conseguiu reanimá-lo. Segundo a Polícia Civil, a causa da morte está sendo investigada.
A dona de casa Adriely Oliveira ficou sabendo do caso por amigos. Passeando na Jaqueira ontem, ela passou a reparar mais nos equipamentos do espaço. “Percebi que faltam pessoas preparadas para prestar primeiros socorros. A gente sabe que pode acionar o Samu nestes casos, mas o atendimento imediato muitas vezes é crucial. É importante que haja um reforço nesse sentido, criança tem que ser bem assistida”, comenta.
A opinião é compartilhada pelas amigas Fatima Pereira e Fatima Gomes, que costumam se exercitar no local. Levando filhas e netas, as duas se dividem na hora da corrida para que as pequenas não fiquem sozinhas. “Com criança a gente não pode brincar. Qualquer coisa pode acontecer e todo mundo precisa estar preparado, mas sair na rua com maleta de primeiros socorros não é muito fácil, ainda mais quando se anda de ônibus”, diz Fatima Gomes. Para a amiga, a um local com serviços simples de atendimento faz falta. “Pelo menos algum amparo em caso de quedas, raladuras, coisas mais simples, mas que também precisam de atenção”.
No Parque da Jaqueira há uma estrutura física com duas salas de serviços. Um delas é destinada à Academia da Cidade. A outra, oferece serviço de aferição de pressão arterial. No local não há médicos ou equipes de atendimento, apenas duas técnicas em enfermagem, que se dividem nos turnos da manhã e da tarde. Sem querer se identificar, uma delas conta que leva curativos por conta própria para ajudar em casos de acidente. “Nós somos técnicos, podemos fazer curativos e esses atendimentos simples, mas não há material nem fomos contratados para isso. Aqui eu tenho uma maleta com alguns curativos e algodão que trago do posto de saúde para ajudar caso alguém caia ou se machuque, o que é comum”, conta.
Um dos parques mais movimentados da cidade, o 13 de Maio aparenta ser menos assistido ainda. Lá não há sequer a sala de aferição de pressão. Quem frequenta o local há tempos, sabe que esse tipo de serviço faz falta e não é de hoje. “Costumo vir aqui desde que tinha meus 13 anos e sempre foi assim. Se houver um acidente, um idoso passando mal, uma criança, não tem o que fazer. Esse amparo de imediato não tem. E por ser um local de muitos brinquedos, a maioria de antigos e de ferro, o risco fica ainda maior”, pontua o bacharel em direito, Mauro dos Santos.
De acordo com o Samu, as equipes acionadas levaram seis minutos para chegar ao local da ocorrência deste domingo, na Jaqueira. Em nota, a Secretaria de Saúde do Recife informou que faz atendimentos de urgência em praças, parques e espaços públicos da cidade. Em dias de eventos com maior concentração de pessoas, o órgão diz ter esquemas especiais de prontidão.