Neste sábado (23), aconteceu a primeira cerimônia inter-religiosa no Morro da Conceição, na Zona Norte do Recife. Foi a primeira vez que católicos, umbandistas, evangélicos, praticantes do candomblé, espíritas kardecistas e juremeiros participam da mesma celebração. A ideia do evento foi estimular a cultura de paz e abrir os caminhos para que haja respeito entre as mais diversas expressões religiosas no Brasil. Para isso, o santuário do Morro da Conceição virou reduto do acolhimento indiscriminado. Os representantes rezaram, oraram, cantaram e celebraram, cada um ao seu modo e com suas crenças, durante o ato, realizado por mais de uma hora no espaço.
A cerimônia foi sugerida pelos padres missionários redentoristas que administram o santuário do Morro há quatro anos. Segundo o padre Luís Rodrigues, pároco do santuário de Nossa Senhora da Conceição, a intenção do ato foi promover a "cultura do encontro", que é o que o Papa Francisco mais orienta à igreja. "São muitas as inquietações que ferem o coração das pessoas. A humanidade está sofrendo, então precisamos promover a 'cultura do encontro'". Quando questionado sobre o porquê do encontro só acontecer agora, o padre responde que "tudo tem o seu tempo". Ele ressalta os momentos históricos das religiões também. "As religiões e as manifestações vêm a partir daquilo que significou a formação do povo brasileiro, desde a comunidade indígena e as comunidades de matriz africana que vêm com uma religiosidade, com uma forma de organizar os seus modos de compreensão do mundo", explicou o pároco.
O babalorixá Júnior de Ajagunã, do Córrego do Jenipapo, era um dos mais emocionados por ser bem recebido pela igreja católica. "Para a gente é um momento único estar aqui no Morro da Conceição, sob os pés de Nossa Senhora da Conceição", frisou. "Todos os nossos pedidos foram atendidos por sermos recebidos aqui, com muito carinho e muito respeito. Antes não existia nada disso", explica o babalorixá, que lidera mais de mil filhos de santo. Júnior de Ajagunã ressalta que antes do convite se sentia intimidado em ir às celebrações de Nossa Senhora da Conceição por conta do "ódio" de algumas pessoas. Júnior descreve a oportunidade como um "momento único". "O tempo da escravidão passou e as pessoas têm que entender isso", concluiu.
O espírita kardecista Francis José afirmou esperar muita união entre os povos e religiões. Segundo ele, para Nossa Senhora da Conceição não há religião. "Ela é a mãe de todos. Não existe religião para ela", explicou, dizendo que espera a permanência e a ampliação do evento nos próximos anos. "Isto é muito bom. Todo mundo ganha. Não perde ninguém".
O pastor Jessé de Lima, da Igreja Filadélfia, representou os evangélicos no encontro. Ele conta que achou bonito ter recebido o convite para comparecer ao evento e explica que para Jesus não há intolerância por conta das diversas religiões. O pastor citou os países em guerra e afirmou que o clima de discórdia não pode acontecer no Brasil. "Eu acho que o povo tem que mostrar que todos estão juntos e unidos em uma só religião". Para Jessé, é essencial a certeza da ida do ser humano para o céu, e, ao explicar a missão de Jesus Cristo, ele diz que o filho de Deus veio mostrar o amor e a salvação para as pessoas. Jessé é um dos que, durante a missa, leu versículos bíblicos.