“Como está Cristo dentro de cada um de nós? Largado? Abandonado? Esquecido? Invisível? Quem está se preparando para o Natal?”. Essas são algumas das indagações feitas pelo arcebispo emérito de Olinda e Recife, dom Helder Camara, registradas em escritos das décadas de 60 e 70 do século passado. Reflexões que vão conduzir o Auto das Fronteiras – um Natal com Dom Helder, que será encenado neste sábado (21) e domingo (22), com entrada gratuita, na Igreja de Nossa Senhora das Fronteiras, na Boa Vista, área central do Recife, sempre às 18h. O espetáculo, a exemplo do que pregava o sacerdote, falecido 20 anos atrás, em agosto de 1999, será uma celebração ao ecumenismo e ao amor.
“Não esperem um Auto de Natal comum. Será um auto político, social, progressista, engajado com a renovação da Igreja Católica que surgiu com o Papa Francisco e defendida por dom Helder. Pensamos o Evangelho não alienado, social”, ressalta o ator Júnior Aguiar, do Coletivo Grão Comum. Ele escreveu e dirige a peça, além de representar o próprio Dom. “Passei dois meses e meio mergulhado nos escritos de dom Helder sobre o Natal. Um dos diferenciais do auto é ter sido baseado naquilo que o arcebispo escreveu”, explica Júnior. Outro aspecto é o lugar. “A peça será encenada numa igreja barroca secular, na casa que dom Helder escolheu para viver”, complementa.
Somente ele e outros dois atores são profissionais (Asaías Rodrigues, interpretado Jesus adulto; e Augusta Ferraz como Nossa Senhora da Assunção das Fronteiras). Os demais integrantes da peça são pessoas comuns. “Maria e José, por exemplo, são representados por um casal afrodescendente que tem quatro filhos e mora na periferia de Olinda. Misturamos atores e não atores. Queremos desmestificar raça, origem, e mostrar que Deus pode estar em qualquer corpo, em qualquer lugar, em qualquer família”, explica Júnior.
Logo no início, o público vai ouvir um mantra em sânscristo antigo, num convite para iluminação e purificação. Haverá projeções de imagens e mais de dez músicas durante a encenação. Um dos momentos mais esperados deve ser a entrada dos três Reis Magos. Um deles será o monge beneditino Marcelo Barros, para lembrar a Igreja Católica e o Cristianismo. O outro é o líder xamã Fulni-ô Megaron Matos, representando os povos indígenas. E o terceiro, o aborixá Alexandre L’ómi L’ódò, do candomblé.
“Os Reis Magos da peça simbolizam o que dom Helder defendia. Uma sociedade inclusiva, que convive com as diferenças, com visão universal. Estamos com muita expectativa e felizes com esse auto de Natal, baseado nos escritos do dom e encenado na Igreja das Fronteiras”, destaca o diretor executivo do Instituto Dom Helder Camara (Idhec), Antonio Carlos Maranhão de Aguiar. A peça tem apoio da Fundarpe.