Atualizada às 14h23
Uma tragédia marcou a véspera de Natal na capital pernambucana. Cinco pessoas de uma mesma família, reunidas para a festa, morreram durante o deslizamento de barreira no Córrego do Morcego, localizado no bairro de Dois Unidos, na Zona Norte da Capital, na madrugada desta terça-feira (24). Não chovia nas horas que antecederam o acidente. Outros dois corpos foram encontradas no final da manhã. Outras três pessoas ficaram feridas, mas passam bem. Equipes da Defesa Civil do Recife também foram ao local do deslizamento, para ajudar no resgate às vítimas.
Emanuel Henrique de França
O homem de 25 anos estava em casa com a família quando foi vitimado pela tragédia. Ele era marido de outra vítima, Érika, de 18 anos, e pai do menino Érick Júnior, de 2 meses (na foto).
Érika Virgínia Abade
A mulher tinha 18 anos, era esposa de Emanuel e mãe de Érick.
Érick Junior
O menino de dois meses, também vítima fatal do deslizamento, era filho do casal Emanuel e Érica.
Lucimar Alves
Com 50 anos de idade, morreu com o deslizamento. Era avó de Daffyne Kauane Alves.
Daffyne Kauane Alves
A criança de 9 anos era neta de Lucimar Alves, que também foi vítima da tragédia.
Claudia Bezerra
O corpo da vítima foi encontrado às 11h30 desta terça-feira. Claudia tinha 47 anos.
Lia de Oliveira
O corpo de Lia de Oliveira também foi encontrado às 11h30. A vítima tinha 45 anos.
Segundo as primeiras informações, dadas por moradores da região, o deslizamento de barreira aconteceu após um cano começar a vazar água. Erivaldo Barbosa, motorista de aplicativo, é parente das vítimas do acidente. Conforme seu relato, o problema com os canos não é de hoje. Ele conta que, em julho de 2000, a terra cedeu "do mesmo jeito" e atingiu duas casas, que estavam desocupadas no momento. Segundo ele, não deu para perceber a água pingando. "Aconteceu de repente. Quando eu sai de casa, estava jorrando água", contou.
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De acordo com o engenheiro civil da Compesa, Aprigio Trajano, não havia vazamento pendente na área, e a empresa fará uma vistoria na região para saber se o deslizamento de terra foi causado pelo rompimento da tubulação, ou pelo deslizamento da barreira. "Há registros antigos de reclamação, que já foram sanados. Ontem e hoje não houve nenhum registro de vazamento", garantiu.
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Os moradores contam que, nessa segunda-feira, chegou água no morro, que é distribuída através de um sistema de rodízio. No entanto, o engenheiro garante que o abastecimento acontece sempre, "então o rompimento não foi causado pelo rodízio". Conforme o técnico, no momento do deslizamento, inclusive, o abastecimento estava sendo realizado.
O Corpo de Bombeiros foi acionado as 2h55 e enviou seis viaturas para o local, sendo duas de busca e salvamento, uma de busca com cachorros, uma de comando operacional e duas de resgate.
Luiz Tadeu Costa, de 56 anos, uma das vítimas do soterramento, estava dormindo com sua esposa, Cristina Gomes da Silva, de 43 anos, na hora em que o incidente aconteceu. “Naquele sono profundo, senti aquilo [destroços e lama] me empurrar e já vieram as telhas [da casa] por cima de mim. Me encolhi e coloquei as pernas por cima da minha esposa, para protegê-la da pancada. Por isso estou com escoriações, cortei o pé. Consegui proteger a cabeça dela, mas parece que ela ainda machucou os pés", relatou.
O encarregado de manutenção ficou debaixo de uma parede que caiu. "Eu gritei e vi o pessoal se aproximando e falando ‘tem gente aqui’, aí eu disse ‘sou eu’. Tiraram logo ela [sua esposa], que estava embaixo, e levantaram a parede para eu sair.
Luiz Tadeu Costa foi levado para a UPA de Nova Descoberta e Cristina Gomes para o Hospital da Restauração. Ambos passam bem.
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Alexandra França, mãe de Emanuel e avó de Érick, lamenta o ocorrido e lembra que a família já tinha sofrido com o deslizamento semelhante nos anos 2000.
"Já é a segunda vez. Na primeira, a gente perdeu a casa e os móveis. Dessa vez teve isso tudo. Eu nunca pensei que ia passar por isso", lamentou Alexandra, que estava muito abalada com a perda dos familiares.
Ela conta que, no momento do ocorrido, ouviu um estrondo e já imaginou que fosse a barreira. "Quando foi de 3h começaram os gritos. Um estrondo muito alto, eu já sabia que tinha sido a barreira. Tiraram muito lixo, que estavam jogando, e colocaram a lona, mas já foi tarde demais", relatou.
O prefeito Geraldo Júlio (PSB), afirmou que a prefeitura está à disposição e se apresentou desde a madrugada para prestar apoio às famílias afetadas. "Desde as 5h da manhã a prefeitura, através do Samu, da Defesa Civil, da Emlurb e da Secretaria de Desenvolvimento Social, está prestando todo apoio à Compesa para que seja fornecida assistência à todas as famílias. A gente está consternado e apresenta nossa solidariedade e toda atenção", disse.
Quando questionado pela reportagem se são realizadas fiscalizações nas áreas de risco da cidade, o gestor atribuiu o deslizamento à falta de infraestrutura dos morros, e afirmou que a prefeitura investe e trabalha para mudar esta realidade. "Ainda é necessário que chegue muita infraestrutura nas áreas de morro, onde moram 500 mil recifenses. Neste momento temos 311 obras do programa Parceria em andamento na cidade, além de outras obras estruturantes que estão sendo realizadas pela Autarquia de Urbanização do Recife (URB)", garantiu o prefeito.
Em nota, a Prefeitura do Recife, a Compesa e o Governo de Pernambuco se pronunciam.
"A Prefeitura do Recife informa que, desde a madrugada desta terca-feira (24), através da Secretaria de Desenvolvimento Social, Defesa Civil e Emlurb, está prestando todo o apoio à Compesa para que seja garantida assistência aos familiares das vítimas e moradores da área onde aconteceu o acidente em Dois Unidos. O SAMU, a Defesa Civil e a Emlurb também estão prestando apoio ao Corpo de Bombeiros no resgate e atendimento no local. A Prefeitura se solidariza com os parentes das vítimas e com toda comunidade".
"A Compesa informa que, por volta das 3h da madrugada de hoje, foi acionada a prontidão por conta de um vazamento, no Bairro de Dois Unidos, Recife. Imediatamente o sistema que abastece a localidade foi desligado. No momento, a Companhia em conjunto com a Defesa Civil está No local para apurar as causas e saber o que de fato motivou o acidente. Antecipadamente, a Compesa lamenta o ocorrido e se solidariza com as famílias que estão recebendo toda a assistência das equipes sociais da Companhia."
"Desde às 3h da madrugada desta terça-feira (24.12), o Governo de Pernambuco acionou profissionais de quatro secretarias, além da Compesa, para fazer o atendimento do deslizamento de barreira no Bairro de Dois Unidos, no Recife. Sete pessoas morreram e três ficaram feridas. Os corpos de duas das vitimas fatais só foram encontrados no final da manhã. O Corpo de Bombeiros permanece trabalhando no local para resgatar esses corpos. A Compesa está com 50 técnicos mobilizados para a ocorrência, analisando o rompimento dos canos de abastecimento existentes na encosta. A companhia realiza monitoramento permanente do abastecimento na área, inclusive com contatos diretos com as lideranças comunitárias. Nas últimas semanas não houve registro de vazamentos no local. A Secretaria de Desenvolvimento Social está prestando assistência às famílias das pessoas falecidas e aos feridos, que foram levados para a UPA de Nova Descoberta e para o Hospital da Restauração".
Tragédias recorrentes
Se ficar confirmado que o deslizamento ocorreu após o vazamento de um cano, não é algo novo no Recife. Doze pessoas morreram no Córrego do Boleiro, também na Zona Norte da capital, na madrugada do dia 29 de abril de 1996. Primeiro uma barreira deslizou e, em seguida, houve o rompimento do cano da Compesa, arrastando o que via pela frente. Dez casas acabaram completamente destruídas.
Há exatos cinco meses, em 24 de julho, uma outra tragédia ocorreu no Grande Recife. No bairro de Caetés I, na cidade de Abreu e Lima, cinco pessoas, sendo quatro de uma mesma família, entre elas uma grávida, morreram. Devido a fortes chuvas naquele dia, uma barreira deslizou por cima da casa onde morava um casal e três filhos. Apenas a mulher, Hariana Xavier, sobreviveu. Um vizinho também morreu.