Houve um tempo em que o município de Escada, na Zona da Mata Sul de Pernambuco, tinha mais de 150 engenhos de cana-de-açúcar funcionando. Com o declínio da tradicional atividade agroindustrial, muitos desapareceram. Restam na cidade uns 70, alguns preservados e vários em ruínas. Cinco deles foram escolhidos para inaugurar, domingo passado (22), o projeto Turismo Rural de Escada, que prevê visitas a casarões de antigos engenhos, passeios por cachoeiras e caminhadas nas estradas com fama de mal-assombradas, em cinco rotas distintas.
A Rota dos Barões, a primeira a ser explorada, levou 50 pessoas aos Engenhos Sapucaji, Barra, Limoeiro Velho, Jundiá Grande e Preferência (localizado em Primavera após mudanças nos limites municipais). “Essa é uma forma de estimular as pessoas a conhecerem a sua história”, afirma o arqueólogo Álex Anthony, coordenador do projeto. O próximo passeio é o Caminho das Águas, em 12 de janeiro de 2020, numa trilha para percorrer as cachoeiras Pé de Serra, Rasga Sunga e Pedra Americana.
No Engenho Sapucaji, um do poucos com móveis do passado, o visitante foi apresentado ao modo de vida da época na sala decorada com espelho majestoso, mesa para dez lugares, piano e gramofone. O casarão de 12 janelas na fachada principal é uma construção da segunda metade do século 19, com porão alto e escadaria em pedra lioz, um calcário português. “Em 1887, o príncipe Adalberto da Prússia, filho do último kaiser da Alemanha, Guilherme 2º, passou um dia lá”, recorda Reinaldo Carneiro Leão, 1º secretário do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano.
O casarão do Engenho Barra, também da segunda metade do século 19, pertencia ao Barão de Pirangi e encontra-se nas proximidades de um riacho afluente do Rio Ipojuca. “Antigamente, a casa era distante dos limites da cidade, mas foi substituída e a nova construção ficou quase na cidade, isso permitia que os moradores pudessem ver a rua”, comenta Reinaldo Carneiro Leão.
Antiga propriedade do Barão de São Braz, a casa-grande do Engenho Limoeiro Velho tem estilo arquitetônico neogótico. “É típico da segunda metade do século 19 em Pernambuco”, informa Reinaldo. O casarão, restaurado em 2017, foi vendido há três meses e o novo proprietário ainda está concluindo reformas internas. “Ela é bem moderna por dentro e mantém os traços antigos nas fachadas”, diz Álex Anthony.
Jundiá Grande, onde nasceu o pintor Cícero Dias (1907-2003), é um dos exemplos de engenho em ruínas de Escada. Destelhada, sem portas, piso e janelas, a casa é uma construção neoclássica do século 19, mas o engenho remonta à segunda metade do século 18. Antes de ser parcialmente demolida, tinha 26 quartos, observa Álex Anthony. “Era o casarão com o maior pátio interno de Pernambuco”, acrescenta Reinaldo. Tudo está sendo tragado pelo mato.
Chalé com sótão de propriedade da família Pontual, a casa-grande do Engenho Preferência foi construída em 1917 sobre a moradia mais antiga, de 1875, no alto de uma colina. “Meu avó tinha serralharia e aqui mesmo ele confeccionou madeiras do forro, tacos do piso e gradis para a casa”, afirma Fausto Falcão Pontual, o atual proprietário. O engenho, diz ele, aliava o cultivo de cana com criação de gado e cavalo.
As outras rotas do projeto são: Passos da Escravidão, com visita a engenhos que usavam mão de obra escrava representativa (Escada era a segunda vila com maior número de escravos em Pernambuco, em 1872) segundo Álex Anthony; Circuito das Capelas (remanescentes de oratórios e capelas que as famílias construíam em casa para mostrar que eram católicas); e Estradas mal-assombradas, para rememorar as lendas mantidas por moradores da zona rural, como a conhecida comadre florzinha, que fazia pessoas se perderem na mata.
O projeto Turismo Rural tem apoio do Instituto Histórico de Escada, da Secretaria de Cultura da cidade e do proprietário de um posto de combustíveis.
Valor do passeio: R$ 40 por pessoa, incluindo translado, água mineral e frutas
Reserva: (81) 99115-6667 (WhatsApp)
Informações: @turismoescada