O ano de 1966 foi de renovação do frevo. Novos autores se insurgiram contra a predominância, nos lançamentos da gravadora Rozenblit, de autores já consagrados - Capiba, José Menezes, Nelson Ferreira, a quem tratavam por "O Dono do Frevo". O debate foi para os jornais, emissoras de rádio, e chegou ao disco particular, o que nos anos 70 se chamava de "independente", com o surgimento de selos como o Harpa ou Capibaribe. Sem alarde, nem se aliar aos insurgentes, José Michiles da Silva, um jovem professor de desenho na Escola Industrial Agamenon Magalhães, na Encruzilhada, ainda pouco conhecido no movimentado cenário artístico recifense da época, surpreenderia não apenas o Dono do Frevo, como aos demais maiorais do gênero, ganhando o concurso Uma Canção Para o Recife, promovido pelo Serviço de Recreação e Turismo, órgão ligado à Secretaria de Educação municipal.
Mesmo que não tivesse vencido o Uma Canção Para o Recife, em 1966, J.Michiles estaria na história do Carnaval pernambucano pelos sucessos que emplacou com Alceu Valença, frevos-canção que contribuíram para modernização do gênero. "Acho que meu maior sucesso foi Bom Demais com Alceu. Antes dele, foi gravado com a Banda de Pau e Corda, mas não estourou, com Alceu bombou. Na quarta-feira vi a manchete no jornal: ‘Carnaval Foi Bom Demais’. Tive mais quatro grandes sucessos com ele", conta Michiles - Me Segura Senão Eu Caio, Vampira, e Diabo Louro. Frevos que fizeram sucesso nacional porque Alceu Valença, na época, era contratado de gravadora grande, com poder de fogo para tocar seus artistas no rádio.
No ano passado, em parceria com Gustavo Krause, Michiles venceu o Concurso de Marchinhas Carnavalescas da Fundição Progresso, com o frevo-canção Adoro Celulite, feito para o bloco homônimo, nos anos 90. Apesar de ampla divulgação, em jornal e TV, a música não tocou. Para o Carnaval 2016, J. Michiles compôs mais duas músicas: Cuecão do Pixuleco e Amo Ela (marcha cacofônica).
Ele bancou o single e é o intérprete dos dois frevos, mesmo sabendo que dificilmente eles repetirão o sucesso de outrora: "A esperança é que um disque-jóquei goste e toque de graça. Ainda tem programas que valorizam o autor local, feito os de Geraldo Freire e Edinaldo Santos, na Rádio Jornal. A coisa mais gratificante é fazer uma música na solidão e ver um milhão de pessoas cantando no Galo da Madrugada".