Referência como espaço de celebração dos ritmos de matriz africana, a Terça Negra voltou ontem ao Pátio de São Pedro, no bairro de Santo Antônio, Centro do Recife, após passar alguns meses sem ser realizada. Na primeira das quatro edições especiais antes do Carnaval 2018, foliões se alegraram ao som da Ciranda de Sant'Anna, do Maracatu Leão da Campina, do Afoxé Oba Iroko e do Coco do Santiago.
Para o coordenador da Terça Negra, Demir da Hora, a realização destas edições nas últimas semanas antes do Carnaval são importantes para ajudar na preparação dos grupos que se apresentarão no período carnavalesco. “É especial por antecipar o Carnaval, uma forma dos grupos se prepararem para as apresentações do Carnaval.” Ele também destaca a relevância da Terça Negra como um movimento político, cultural e religioso. “É político porque informamos ao nosso público questões sobre negritude, empoderamento, sobre essa coisa do ser negro na sociedade. Religioso porque obedecemos a um calendário religioso. Como vocês sabem, todo afoxé e todo maracatu atendem a um orixá. O cultural é isso, a música. O tambor fala alto aqui na Terça Negra”, explica.
Presente no evento, o secretário executivo de Cultura do Recife, Eduardo Vasconcelos, informou que, após o carnaval, a Terça Negra deve continuar mensalmente neste ano, a partir de março, no mesmo local. “Estamos conversando com o Movimento Negro Unificado (MNU) para que a partir de março a gente já retome a Terça Negra mensalmente. A data mensal é escolhida por eles, com toda a simbologia e questão religiosa.”
A gestora de danos Ingrid Farias, 28 anos, acompanha a Terça Negra há várias edições e torce para a retomada do evento, definido por ela como espaço de resistência da cultura negra. “A gente sabe que tanto o maracatu quanto o coco ou cavalo marinho vem da cultura do povo negro. É importante que, para além do Carnaval, esse espaço permaneça para resistência da cultura negra no Brasil. Espero que a volta da Terça realmente aconteça. É fundamental, e é responsabilidade do poder público, da prefeitura, garantir a estrutura desse evento, para que ele aconteça e celebre não só a cultura política do povo negro, mas a luta contra o racismo”, afirma.
As próximas edições da Terça Negra Especial de Carnaval acontecerão nos dias 23 e 30 de janeiro e 6 de fevereiro.