Sítio Histórico de Olinda está com duas igrejas e o seminário interditados

As edificações foram fechadas pela Defesa Civil porque correm o risco de desabar
Cleide Alves
Publicado em 29/05/2015 às 8:08
As edificações foram fechadas pela Defesa Civil porque correm o risco de desabar Foto: Foto: Guga Matos/JC Imagem


Depois da interdição da Igreja do Bonfim, no Sítio Histórico de Olinda, o Seminário e a Igreja de Nossa Senhora da Graça fecharam as portas ao público, por determinação da Defesa Civil do município. O motivo é o de sempre: risco de desabamento em função de avarias generalizadas do chão ao teto. Agora, são três os monumentos religiosos com visitação proibida na cidade considerada Patrimônio da Humanidade pela Unesco.

Mas o número pode subir para quatro, avisa o arcebispo de Olinda e Recife, dom Antônio Fernando Saburido. Na manhã de quinta-feira (28), ao anunciar a interdição do seminário e da Igreja da Graça, localizados no Alto da Sé, ele disse que pediu à Defesa Civil vistoria na Igreja de São Pedro Mártir. “O telhado cedeu e a cobertura do prédio está solta. Por segurança, nem se toca mais o sino”, diz a coordenadora de projetos de restauro da arquidiocese, Telma Liége.

Dom Fernando recebeu prazo de 15 dias para desocupar o seminário, onde vivem 64 seminaristas, dois padres e o bispo auxiliar. Com exceção do bispo, os demais religiosos serão transferidos para o Centro de Pastoral Dom Vital, no bairro da Várzea, Zona Oeste do Recife. “Vamos fazer a mudança em oito dias”, afirma o arcebispo.

Construído no século 16, o Seminário de Olinda, onde funciona a Igreja da Graça, apresenta problemas na madeira do telhado e no piso da biblioteca, umidade nas paredes e rachaduras graves na fachada voltada para o mar, apontados no relatório da Defesa Civil. O piso da igreja, no trecho onde eram feitos sepultamentos, em anos passados, foi dilatado pelo calor ou por gás.

O superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Frederico Almeida, disse que vai autorizar a captação de R$ 4,7 milhões pela Lei Federal de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet), para obras emergenciais. A Arquidiocese deverá ir em busca da verba. “Vamos apelar aos empresários, quem puder ajudar pode ligar para o número 3271-4270. O valor é deduzido no Imposto de Renda”, declara dom Fernando. A obra completa está avaliada em R$ 16 milhões.

A edificação passou por obra de restauração na década de 70, executada pelo Iphan. A última intervenção (pequenos reparos) foi realizada pela arquidiocese, em 2005. Com relação às Igrejas do Bonfim (interditada desde fevereiro de 2012) e de São Pedro, dom Fernando disse que iria captar recursos pela Lei Rouanet para fazer a obra, mas os monumentos foram contemplados com verba do PAC Cidades Históricas, programa do governo federal.

“Pagamos os projetos arquitetônicos, abrimos mão da captação de verba pela Lei Rouanet e até agora nada foi feito”, destaca. O Iphan justifica a demora com a burocracia inerente ao serviço público. “Estamos encontrando dificuldades para atender as regras de controle orçamentário, que estão mais rigorosas”, diz Frederico Almeida. Ele cita como exemplo a cotação de preço para um carpinteiro de obra de restauração. “É um trabalho diferenciado e não está tabelado, como o carpinteiro de forma de concreto”, compara.

É uma vergonha com o patrimônio tombado

diz a moradora do Sítio Histórico Christiani Gondim

Enquanto isso, parte do forro da Igreja do Bonfim desabou e destruiu o altar. A Arquidiocese está retirando as imagens de santos e outros bens móveis do templo e guardando no Museu de Arte Sacra, na Sé, onde ficarão expostos. “É uma vergonha com o patrimônio tombado. O que custa subir no edifício e consertar as telhas?”, critica Christiani Gondim, moradora de uma casa ao lado da igreja.

Carlos Marinho, outro vizinho da Igreja do Bonfim, fotografou os estragos no prédio e disse que as últimas chuvas devem ter piorado a situação. “É um escândalo. A igreja está fechada há três anos, cheia de lixo e poeira, e não fizeram nada, é um descaso sem tamanho, uma ameaça ao título de Patrimônio da Humanidade”, afirma o morador da Cidade Alta.

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