"O Nordeste é seco. O inverno é um pequeno intervalo de tempo entre dois estios, que, às vezes, se emendam". A afirmação do engenheiro paraibano Manuel Dantas Vilar Filho, criador de cabras e produtor de queijos da Fazenda Carnaúba, em Taperóa, Sertão da Paraíba (260 km do Recife).
Manelito é sumidade quanto o assunto é o semiárido nordestino. Na sua Carnaúba, criou diversas formas de convivência com a seca. Provou, acima de tudo, que há um Sertão possível - um lugar que demanda esforço, trabalho e dedicação, mas que pode ter solo propício se a cultura certa for a escolhida e, principalmente, uma
pecuária que pode render sobrevivência e sustento justo.
Junto com seu primo-irmão, o escritor Ariano Suassuna (1927-2014), em 1971, ele começou a transformar a crença em cabras e bodes: "A cabra pode ser o caminho para a revitalização política, literária e econômica do Sertão do Nordeste", defendia Ariano.
Foi no cenário paraibano da Fazenda Carnaúba e seus arredores que o advogado Manuel Dantas Vilar, um dos quatro filhos de Manelito, registrou, a pedido do JC, imagens de transformação trazidas pelas chuvas recentes. "Estamos completando quatro anos de seca braba.Hora é pouca chuva, hora é mal-arrumada." Ele informa que, de janeiro até este meio de fevereiro, choveu 140mm. Apesa da permanência da seca, a transformação é visível: "O brotamento das folhas é muito rápido. Choveu apenas para 'criar o verde'. Faz pasto para bicho, mas água para gente ainda se espera", diz Dantas.
Em Os Sertões, livro que ajuda a interpretar e a entender o Brasil, Euclides da Cuna declarou: "Ao sobrevir das chuvas, a terra transfigura-se em mutações fantásticas, contrastando com a desolação anterior. Os vales secos fazem-se rios (...) A vegetação recama de flores...".