Velha guarda dos carnavais incentiva nova geração

Pesquisadoras afirmam que manutenção do Carnaval tradicional está diretamente ligada à relação de respeito dos jovens com os fundadores e fundadoras de blocos e agremiações
Larissa Rodrigues
Publicado em 14/01/2018 às 7:05
Pesquisadoras afirmam que manutenção do Carnaval tradicional está diretamente ligada à relação de respeito dos jovens com os fundadores e fundadoras de blocos e agremiações Foto: Foto: Reprodução/ Acervo pessoal de Cabela.


A paixão que um clube carnavalesco antigo desperta nas novas gerações está diretamente ligada à relação com a velha guarda. Mais do que isso, a continuidade do próprio Carnaval tradicional depende dessa relação. Pessoas como Mirula e tantos outros que praticamente fundaram, junto com seus blocos, a tradição do Carnaval pernambucano têm um significado simbólico que incentiva e estimula os jovens a perpetuarem a folia conservando os valores. Para pesquisadoras do assunto, é isso que mantém durante décadas o padrão da festa de rua.

“Se você é referendado a cada momento no grupo que frequenta e se esse grupo é referendado diante de outros, ocorre que essa referência fortalece você e o seu grupo. A festa para nós tem essa relação muito poderosa de reconhecimento social”, afirmou a historiadora e pesquisadora Carmem Lelis, da Fundação de Cultura da Cidade do Recife. De acordo com ela, embora tenha havido mudanças ao longo do tempo nos clubes, troças, agremiações, a presença da velha guarda é uma espécie de âncora cultural. “Existe esse processo dinâmico que envolve tudo que é humano. Então, não pode ser um Carnaval igual aos anos 1940 ou 1950. Entretanto, muitas coisas se mantém a partir dessa relação, pelas pessoas que criaram, pelo respeito, por uma tradição histórica que vai se fazendo, porque a tradição é criada por nós.”

Por trás dessa tradição, existe o fato de os blocos serem, de maneira geral, amadores. Segundo a historiadora e pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco Rita de Cássia Araújo, se o compromisso dos clubes fosse com o lucro, dificilmente teriam longevidade. “Eles não visam a indústria do Carnaval. Os jovens pensam 'eu faço porque meu pai fez, minha mãe fez, eu tenho que fazer e não posso deixar morrer”, explicou Rita. “Outra coisa que considero importante é que esses blocos amadores, faça chuva ou faça sol, seja ditadura ou democracia, estão na rua. São eles que ao longo de mais de um século fazem o Carnaval sobreviver. Se a festa fosse só sustentada por shows, não haveria essa linha de continuidade”, completou.

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