Famílias dizem que só deixam Tapacurá se houver indenização

Moradores do bairro de Penedo construíram casas no entorno da tubulação da adutora. Compesa ingressou na Justiça para desocupação temporária da área
Da editoria de Cidades
Publicado em 19/03/2019 às 9:30
Moradores do bairro de Penedo construíram casas no entorno da tubulação da adutora. Compesa ingressou na Justiça para desocupação temporária da área Foto: Foto: Filipe Ribeiro/JC Imagem


Moradores e comerciantes das Ruas Estrada da Compesa e das Papoulas, no bairro de Penedo, em São Lourenço da Mata, Região Metropolitana do Recife, estão surpresos com a informação de que terão que deixar os cerca de 500 imóveis em um prazo de 90 dias por causa de uma obra na Adutora Tapacurá, a ser realizada pela Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa). A notícia foi divulgada pela prefeitura sexta-feira (15). As famílias garantem que só deixarão os prédios se houver indenização. Duas reuniões vão tratar do assunto hoje: uma na Câmara de Vereadores, com a participação dos moradores, e outra na sede do Executivo municipal, entre representantes da Defesa Civil e das Secretarias de Planejamento e de Assistência Social.

A ocupação irregular no entorno da tubulação da adutora, num trecho de cinco quilômetros – é possível identificar várias casas construídas ao lado e até em cima dos canos – foi o que motivou a Compesa a ingressar com uma ação na Justiça seis anos atrás (2013). Segundo a estatal, o trecho “apresenta risco potencial de vazamento”. A companhia se comprometeu a implantar uma nova adutora, ao custo de R$ 42 milhões. A previsão é de que a obra dure um ano. A licitação está em curso e deve acabar em junho. A Justiça determinou que a prefeitura notifique os moradores sobre a necessidade de deixar os prédios. A comunicação começará a ser feita esta semana.

“A gente ficou sabendo pelas redes sociais. Ninguém da prefeitura ou da Compesa veio conversar conosco. Jamais eu iria construir a minha casa se houvesse um risco grande. Investi cerca de R$ 60 mil nela e não vou sair sem nenhuma garantia”, comentou o vigilante Enoque Augusto do Nascimento, 40 anos. Ele reside na Rua das Papoulas há 10 anos com a esposa e dois filhos. Seu imóvel tem primeiro andar. A tubulação fica atrás da residência.

A cabeleireira Severina Gomes, 46, conta que empregou todas as economias no imóvel onde trabalha e mora com o marido há seis anos. No térreo há o salão de beleza dela e uma loja. No primeiro andar fica sua casa, que possui ainda um terraço no segundo andar. “Aqui tem o dinheiro que juntamos a vida toda. Foi muito trabalho para conseguir. Pagamos R$ 7 mil pelo terreno. Na época que compramos tinha só bananeiras. Depois gastamos mais uns R$ 80 mil em material, fora o dinheiro gasto com os pedreiros”, afirmou Severina. “Não temos para onde ir”, destacou.

NOTIFICAÇÃO

Segundo o procurador de São Lourenço da Mata, Nicolas Coelho, a notificação dos moradores terá início até o final desta semana. “Ao mesmo tempo faremos o cadastro das famílias, para saber quantas pessoas vivem em cada casa e qual a renda. Vamos também enviar um ofício para o governo de Pernambuco solicitando auxílio financeiro”, explicou Nicolas. A prefeitura não sabe ainda qual o montante de recurso que necessitará do Estado.

Na decisão judicial, de acordo com a gestão municipal, ficou determinado que haverá “pagamento dos auxílios moradias aos ocupantes dos imóveis que preencham os requisitos legais de acordo com o laudo social a ser realizado pelo município, conforme disposto na Lei Federal nº 11.977/2009 e Lei Municipal nº 2.156/06, bem como avaliação das condições de segurança para o retorno das famílias e aos imóveis após a conclusão da nova rede adutora.” 

Em nota, a prefeitura afirmou que “fará todos os esforços para que as famílias recebam o título de posse e a propriedade após a conclusão das obras”. A Compesa informou que toda a tubulação que passar por baixo dos imóveis será removida. O plano da companhia é desativar o trecho após o término do serviço. A barragem de Tapacurá, juntamente com a de Pirapama, é que abastece a Região Metropolitana. 

Questionada por que ao longo dos anos não foi realizada fiscalização para coibir a ocupação ao longo da tubulação, a empresa disse que “não tem poder de Polícia. A única forma de coibir é através da Justiça, solicitando a reintegração de posse. E foi isto que a Compesa fez”, afirmou, em nota. A companhia ressaltou também que “a ocupação do uso do solo é controlado pela prefeitura”.

"Não temos para onde ir. Só vamos sair se formos obrigados. Compramos o imóvel por R$ 4 mil, que era o valor que na época, 10 anos atrás, tínhamos como pagar. Depois aumentamos a casa. No começo tive medo porque fica ao lado do cano”, relatou a dona de casa Cleonice Oliveira, 42 anos

 

TAGS
adutora tapacurá MORADORES são lourenço da mata
Veja também
últimas
Mais Lidas
Webstory