Em entrevista ao JC, Sandro Romilton, pai da pequena Beatriz Angélica, falou sobre o trabalho da polícia, as buscas que a própria família está conduzindo, a dor da impotência e a saudade da filha, assassinada há dois anos em Petrolina, no Sertão de Pernambuco.
Jornal do Commercio – São dois anos de angústia e poucas respostas. Vocês ainda acreditam no trabalho da polícia?
Sandro Romilton – Sim. Sempre dizemos que acreditamos na polícia e no Ministério Público. Se não tivermos confiança no trabalho da polícia, teremos no trabalho de quem?
JC – Mas a família está coletando informações próprias.
Sandro – Sim. Nós não falamos muito sobre isso, mas achamos por bem ter outras opiniões sobre o caso. Nosso trabalho consiste, basicamente, em falar com as pessoas, convencê-las a contarem o que sabem ou mostrar algum material. Muitas das informações que a polícia tem hoje são graças a nós. Em breve, vamos oficializar a presença de uma pessoa de confiança, indicada pela família, para acompanhar as investigações. Essa pessoa está bem inteirada sobre o caso. Estamos preparando a base jurídica, porque, enquanto família, temos o direito de ter alguém acompanhando o trabalho da polícia.
JC– Uma das demandas da família era ter mais acesso ao inquérito. Após a mudança do comando das investigações, isso voltou a ser prometido a vocês. Como está essa questão? A família está mais próxima do caso com a nova delegada?
Sandro – Quando estivemos no Recife pela última vez, não fomos pedir a saída da doutora Gleide, apenas que ela ficasse mais à disposição do caso. Se consideram o caso o número um no Estado, a gente precisaria ter alguém aqui para passar as demandas. A doutora Pollyanna disse que esse seria o caso da vida dela. Ela entrou de férias no último dia 1º, mas está estudando o inquérito, que tem 3 mil páginas. A gente dá um passo para trás, mas esperamos que ela volte com novas informações.
JC– Vocês acham que o caso Beatriz está sendo esquecido?
Sandro – O caso está mais vivo do que nunca. Temos 5 mil mortes em Pernambuco este ano. São muitos assassinatos sem solução. Mas, toda vez que falamos em Beatriz, o caso se acende. Nossos vídeos alcançam 50 mil pessoas. Até o Papa respondeu nossa carta, abençoando nossa família.
JC – Como está a vida dois anos após a morte de Beatriz?
Sandro– Quem nos conhece, sabe que nossa família é muito reclusa. Morávamos em uma chácara, era uma vida simples. Desde 2015, já mudamos de casa quatro vezes. Estamos sem rumo. Meus meninos fazem acompanhamento psicológico; minha esposa faz tratamento com psicólogo e psiquiatra, além de tomar medicamentos fortíssimos. O que me dá forças para viver é esta luta. É o que me faz acordar, levantar e prosseguir todos os dias. A impotência dói no osso, na carne. E a saudade só aumenta.