Entenda a reincidência de ataques de tubarão na Igrejinha de Piedade

Trecho localizado em frente ao chamado "Convento Maldito" concentra o maior número de ataques de tubarão dos últimos 25 anos
Julia Aguilera
Publicado em 06/06/2018 às 17:03
Trecho localizado em frente ao chamado "Convento Maldito" concentra o maior número de ataques de tubarão dos últimos 25 anos Foto: Foto: Arnaldo Carvalho/ JC Imagem


Entre os anos de 1992 e 2018, foram registrados 12 ataques de tubarão nas proximidades da Igrejinha de Piedade, em Jaboatão dos Guararapes. Os últimos dois tiveram um intervalo de apenas 50 dias. Em todo o Estado, 65 casos foram registrados nos mesmos 25 anos, o que mostra que 18% deles aconteceram nesta parte da praia de Piedade.

Essa área não é líder em ataques à toa. Segundo o professor e engenheiro de pesca Jonas Rodrigues, parte da vulnerabilidade aos ataques está relacionada à falta de arrecifes naquela região. “Aquela área da Igrejinha é de mar aberto. Não tem arrecifes, o que poderia oferecer alguma proteção. Isso facilita a proximidade de tubarão na faixa mais próxima à praia”, comenta. Além disso, o fato de ser um ponto muito frequentado de Piedade, favorece a aproximação entre as pessoas e os animais.

Segundo Leonardo Veras, também engenheiro de pesca e especialista em tubarões, para somar à falta de arrecifes, o fato de haverem dois estuários naquela localidade, um do Rio Jaboatão e um do Rio Capibaribe, aumentam a incidência de tubarões na área. Devido à presença de estuários, ambiente de transição entre o rio e o mar, a água fica mais turva, o que limita a capacidade do animal de diferir uma pessoa de uma presa.

Para ele, não há grandes novidades sobre o assunto. “É um pacote completo e complexo. Esses parâmetros, assim como a poluição, são constantes”, pontua. Atualmente, Leonardo afirmou que outros fatores que poderiam ocasionar essa incidência estão sendo investigados. Como, por exemplo, o fato de em alguns anos o oceano registrar maior número de vida selvagem que em outros.

Na altura da Igrejinha de Piedade, a última vítima foi José Ernesto Ferreira da Silva, de apenas 18 anos. No domingo (3), ele teve parte da perna e da genitália arrancados em uma mordida de tubarão. Menos de 12h depois, o jovem faleceu no Hospital da Restauração (HR), no Derby, área central do Recife. No dia 15 de abril, no mesmo local, o potiguar Pablo Diego Inácio de Melo, de 30 anos, também foi atacado. Este, por sua vez, teve mais sorte e sobreviveu. Ainda assim, Pablo Diego perdeu parte do braço direito e teve a perna direita amputada.

Apesar de parecer algo atípico, esta não foi a primeira vez que dois ataques aconteceram nesse mesmo local em um curto espaço de tempo. Em 16 setembro de 2002 foi notificada a terceira vítima no local: Fabrício José de Carvalho, de 18 anos, foi mordido por um tubarão enquanto se banhava. Ele teve a perna esquerda amputada. Menos de um mês depois, em 14 de outubro, o comerciante Luís Soares de Arruda, de 36 anos, desapareceu depois de ser atacado por um tubarão. Seu corpo nunca foi encontrado.

Em 2004, três incidentes foram registrados no mês de maio em Piedade, sendo dois nas imediações da Igrejinha. O estudante Orlando Oscar da Silva, de 22 anos, desapareceu enquanto tomava banho de mar com amigos no dia 1º de maio, feriado do Dia do Trabalhador. No dia seguinte, seu corpo foi encontrado na praia com marcas de mordida de tubarão no braço, na perna esquerda e na barriga. Passados apenas 22 dias, o vendedor de água Walmir Pereira da Silva, de 18 anos, foi mordido por um tubarão no braço e na perna esquerda. Ele sobreviveu.

De todos os casos registrados oficialmente neste local, apenas um estava fora do período entre os meses abril e setembro, compreendido como de maior risco. Em seis dos 12 incidentes as vítimas dos ataques morreram. 

Antes do início da contabilização dos incidentes, houve outros casos de ataque. Em 1947, por exemplo, o padre Serafim de Oliveira morreu, aos 25 anos, após ser mordido por um tubarão também em frente à Igrejinha. Depois do acontecimento, o local ficou conhecido como "Convento Maldito". 

Tubarões

Os tubarões mais comuns na costa pernambucana são os das espécie cabeça-chata e o tigre, que devido ao seu porte, podem ofertar maior agressividade. Segundo o professor Jonas Rodrigues, esses aparecimentos não representam nenhuma anomalia. Além disso, ele também reforçou que a carne humana não faz parte da alimentação desses animais. “Eles confundem com outros animais e mordem para reconhecimento”, pontua.

Reforços

Para reduzir o risco de incidentes com tubarões, o Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarão (Cemit) reforçará a fiscalização nos pontos com maior número de ocorrências. Entre as medidas está o aumento nas horas de permanência dos guarda-vidas nos postos. Agora, eles ficarão até às 18h nos sábados, domingos e feriados.

Além da extensão do horário, os bombeiros oferecerão orientações nas salas de aula da rede pública de ensino. Placas de alerta danificadas também serão trocadas como medida preventiva.

 

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