Um crime com várias linhas de investigação. Assim, o assassinato do advogado André Ambrósio Ribeiro Pessoa, 46 anos, na quinta-feira, em Caruaru, Agreste do Estado, é encarado oficialmente. A polícia não descarta nenhuma motivação, exceto latrocínio, já que nenhum pertence foi levado. Quem conhece o advogado, no entanto, aponta possíveis razões para o crime. Entre as hipóteses estão disputa por herança, uma possível rixa motivada por terras de propriedade da família, além de questões profissionais, já que André atuava em causas trabalhistas. Ontem, a principal testemunha do crime, a mulher que cuidava da filha de 1 ano e meio do advogado e que presenciou a execução, foi ouvida. A polícia aposta na divulgação de um retrato-falado e de imagens do circuito de segurança para identificar os suspeitos.
Em entrevista ao JC, a testemunha, que pediu para não ser identificada, contou que não era babá da menina, mas sim parente da mãe da criança. “Ela deixava a bebê comigo. Quando ia visitar o pai, era sempre no Recife. Ontem (quinta) foi a primeira vez que o pai veio até Caruaru.” Segundo a mulher, André pegou as duas às 14h30 na casa da avó materna. O carro prata, utilizado pelos suspeitos, já estava estacionado na Rua 93 do Loteamento Itamaraty, onde o crime aconteceu.
Os três seguiram para um shopping e, em seguida, retornaram. Chegaram por volta das 16h45. “Estranhei que o carro ainda estivesse lá. O vidro era escuro, então não consegui ver quem estava dentro” contou. A próxima lembrança é a do suspeito apontando a arma para o trio. “Ele disse que era assalto, pediu para que ele me entregasse a menina e se deitasse no chão.” Ao ouvir os primeiros disparos, ela correu para pedir ajuda.
Os gritos foram ouvidos por quem mora próximo ao local. “No início, pensei que fosse discussão. Aí ouvi o homem dizer que era assalto, mandando deitar no chão. Nesse momento ouvi o primeiro tiro e corri pra dentro. Quando o barulho parou, vi o corpo na calçada”, contou a mulher, que não terá identidade revelada. Ela teme pela própria vida e pela dos filhos. “Aqui é muito perigoso. ”
Do crime, restam apenas manchas de sangue na calçada, deixadas após os cinco disparos na nuca e na cabeça do advogado. Antes do enterro no Cemitério de Santo Amaro, o sobrinho de André, Matheus Egito, 23, esteve na casa para buscar o carro do tio, um veículo modelo Santa Fé blindado. “Eu perdi um pai, ainda estou em choque. Era um cara incrível, extremamente inteligente e educado, de coração enorme”, lamentou. “O sentimento é de revolta.” Foi o tio que inspirou Matheus a cursar direito. Eles iriam trabalhar juntos no escritório de advocacia de André, no Recife, no próximo semestre.
Para quem conhece o advogado, as motivações mais prováveis são inimizades provocadas pela profissão e desentendimentos envolvendo terras da família em Aldeia, no Grande Recife. As propriedades estariam ocupadas por construções irregulares e o advogado estaria negociando a desapropriação dos imóveis. Também se especula a herança da família como possível motivação. Nenhuma das linhas foi confirmada pela polícia.
“Existem várias possibilidades. Como estamos começando a ouvir as pessoas, é cedo para definir uma linha de investigação”, afirmou o delegado Rodolfo Bacelar. Ontem a ex-sogra do advogado também prestou depoimento. Na quinta-feira, um carro com a mesma placa e as mesmas características foi localizado no Recife. O condutor foi encaminhado para o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). De acordo com o delegado, ao que tudo indica, o veículo utilizado no crime seria clonado. O próximo passo é ouvir os parentes de André. O retrato-falado do suspeito será divulgado hoje. Além dele, a polícia confirma o envolvimento de pelo menos mais uma pessoa, que dirigia o veículo.
De acordo com a polícia, o advogado tinha passagens pelos crimes de violência doméstica contra uma ex-mulher e também por porte e disparo de arma de fogo.
Ontem, o presidente em exercício da OAB em Pernambuco, Fernando Ribeiro Lins, esteve na delegacia para cobrar celeridade. “Já que há suspeita de que o crime possa ter sido em razão das atividades exercidas pelo advogado, fizemos questão de estar presente.”