Nas redes sociais, as mães dos bebês com microcefalia têm compartilhado experiências, incertezas e sentimentos que aparecem diante da nova dinâmica familiar, que exige dedicação integral e suporte dos parentes e da sociedade. Ao perceber essa realidade, a jornalista Maria Clara Vieira, de São Paulo, decidiu criar a plataforma online Cabeça e Coração (cabecaecoracao.com), sem fins lucrativos, que facilita a conexão entre as famílias dos bebês com a malformação que precisam de apoio e as pessoas que estão com vontade de ajudar com doações em dinheiro, roupas, alimentos e outros itens. A agente de arrecadação de pedágio Gleyse Kelly Cavalcanti, 27 anos, que vive no Ibura (Zona Sul do Recife), é uma das mulheres que contam sua história no site.
Ela é mãe de Maria Giovanna, 3 meses, que nasceu com microcefalia. Na plataforma, Gleyse lista uma série de itens de que precisa para facilitar os cuidados com a filha. Estão na relação carrinho de bebê, leite em pó, fraldas (tamanho M), roupinhas e uma oferta de emprego para o marido, que já foi vigilante e operador de caixa, mas aceita qualquer tipo de trabalho. “Provavelmente terei que sair do emprego para cuidar da minha filha e acompanhá-la nos médicos e nas terapias”, relata Gleyse, que também criou a página no Facebook Pais de crianças com microcefalia em Pernambuco. “Trocamos experiências e, dessa forma, uma mãe ajuda outra”, acrescenta Gleyse, que também é mãe de três meninos com 8, 6 e 1 ano.
“Através da plataforma Cabeça e Coração, as pessoas conhecem a história das famílias e veem como podem ajudar. É possível enviar as doações por correio e conferir os dados da conta bancária para quem opta por colaborar com quantia em dinheiro. Sei que não vamos resolver totalmente a situação, mas qualquer doação faz a diferença para essas famílias”, diz Maria Clara Vieira. Para desenvolver o projeto, ela conta com a colaboração da mãe, a economista Cida Nicolau, 51, e da irmã, a estudante Maria Julia Vieira, 15.
O ambiente de apoio e solidariedade também tem se disseminado no Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc), que fornece atendimento às crianças com microcefalia. Enquanto as famílias aguardam as consultas, conversam sobre o momento em que foram informadas pelos médicos sobre a suspeita da malformação e o desenvolvimento dos bebês. “É bom falarmos com quem nos entende, pois percebemos que não estamos sozinhas”, diz Josenilda Soares, 24 anos, mãe da menina Layla Sophia, 2 meses, que foi ontem ao Huoc para reavaliação. Enquanto aguardava a consulta, Josenilda conheceu a dona de casa Éricka Roque, 30, mãe de Erick, 6 meses. “Trocamos números de telefone para continuar a conversa pelo WhatsApp. É uma forma de recebermos e darmos apoio”, frisa Éricka.