O Arquipélago de Fernando de Noronha tem aparecido na lista dos locais com incidência mais alta de arboviroses (doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti) nos dois últimos boletins que retratam o avanço da tríplice epidemia em Pernambuco. Com 2,9 mil habitantes, a ilha soma 62 registros de pessoas que adoeceram com sintomas de dengue, chicungunha e zika nas seis primeiras semanas do ano. Deste total, dois casos foram confirmados como chicungunha – doença que já deixa em alerta, pelo menos, as 87 cidades pernambucanas onde há notificações.
“Fernando de Noronha é uma área turística, que recebe diariamente uma quantidade grande de pessoas de todos os Estados do Brasil e do exterior. É muito frequente que a gente receba pessoas doentes, que trazem o vírus (das doenças transmitidas pelo Aedes). Precisamos fazer um trabalho de vigilância permanente para que esses casos não disseminem os vírus na ilha”, informa a coordenadora de Saúde de Fernando de Noronha, Fátima Souza.
Ela reconhece o avanço de casos de dengue na ilha no ano passado e acredita que o vírus pode ter sido trazido de turistas de cidades brasileiras onde houve epidemia registrada, como São Paulo. “Houve aumento considerável”, diz Fátima, referindo-se aos 463 registros de pessoas que adoeceram com sintomas sugestivos de dengue na ilha em 2015. Desse total, 102 foram confirmados. A Secretaria Estadual de Saúde (SES) informou que, ainda nesta semana, uma equipe deve ir a Noronha para investigação dos casos. A SES acrescenta que a alta incidência de dengue do ano passado é decorrente de casos não só de moradores do arquipélago, mas também de turistas.
Das 62 notificações de arboviroses na ilha durante as seis primeiras semanas do ano, 14 são casos suspeitos de dengue, 22 de zika e 26 de chicungunha. Os números atuais chamam a atenção quando comparados aos anos em que não houve epidemia. “Em 2014, foram registrados 11 casos de dengue, com 9 confirmações. Em 2013, 24 notificações sem confirmações.
RADIAÇÃO
A pesquisa da Fiocruz Pernambuco e da Universidade Federal de Pernambuco, com o objetivo de analisar se o uso da radiação nuclear é capaz de controlar o Aedes, é um dos métodos em estudo para diminuir a densidade populacional do mosquito. Nacionalmente, é a primeira técnica a usar a radiação nuclear com essa finalidade. “O processo parte do pressuposto do acasalamento, de interferir no processo de reprodução dos insetos, uma vez que os machos estéreis inviabilizam a produção de novos ovos viáveis”, diz a pesquisadora Alice Varjal, da Fiocruz Pernambuco.
De dezembro até agora, quase 30 mil mosquitos machos, esterilizados com radiação gama, foram liberados na Vila da Praia da Conceição, no arquipélago. Em seis meses, devem ser avaliados os resultados para verificar se a redução de cerca de 70% da viabilidade dos ovos, observada em laboratório, também se confirma em campo.
“Tentarei ir para uma reunião com a Agência Internacional de Energia Atômica, em Brasília, no dia 22 deste mês. É importante mostrar que podemos contribuir nesse processo de viabilidade da técnica”, diz Alice.