As emergências permanecem lotadas de pessoas que adoecem com sintomas de dengue, chicungunha e zika. Não bastassem as doenças do Aedes aegypti, outras também causadas por vírus e consideradas sazonais, voltam a se tornar mais incidentes e merecem os mesmos cuidados das doenças transmitidas pelo mosquito. O problema é que muitas das viroses têm sintomas parecidos, mas que precisam ser diferenciados para que possam ser prescritos medicamentos adequados e recomendações que amenizam o sofrimento dos pacientes.
“Tenho notado atualmente que mais pessoas aparecem gripadas. Os quadros têm começado a aparecer mais em crianças, que são mais suscetível ao adoecimento. Também estão comuns os casos de diarreia viral. São condições bem comuns neste pós-Carnaval”, diz a infectologista e professora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Vera Magalhães. Ela explica que, na gripe, as manifestações comuns são febre, dores musculares, espirro, tosse, congestão nasal e dor de garganta.
“A questão é que, diante da tríplice epidemia de dengue, chicungunha e zika, as pessoas costumam achar que estão com uma das três doenças pelo fato de apresentarem febre e dor muscular. Além desses sinais, caso apareçam sintomas do aparelho respiratório, dificilmente se pensa em arboviroses (doenças causadas por mosquito)”, diz Vera. Um ponto delicado é que, ao se queixar de congestão das vias aéreas superiores, o paciente pode pensar em resfriado. “A diferença é que, nessa condição, geralmente não aparecem febre e dor muscular. O resfriado é basicamente caracterizado por sintomas do aparelho respiratório.”
Entre as recomendações médicas para qualquer uma das viroses, uma é fundamental: não fazer uso da automedicação, que pode mascarar a doença, dificultar um diagnóstico preciso do médico e complicar o quadro clínico. Uma pessoa, por exemplo, pode achar que está gripada e, na realidade, pode estar com dengue. Para cada uma das viroses, o tratamento precisa ser diferenciado, a fim de evitar agravamentos, especialmente nos grupos de risco, como crianças, idosos, gestantes e pessoas que apresentam defesa imunológica baixa.
Durante o Carnaval, o turismólogo Ednilson Veras, 39 anos, teve uma gripe muito forte, que durou uma semana. Senti febre, dor de cabeça e nos músculos. Não tive manchas no corpo, mas tive tosse muito seca, o que me fez achar que não seria dengue, chicungunha e zika. Estou recuperado”, conta.
Membro da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital das Clínicas da UFPE e do Jayme da Fonte, o infectologista Danylo Palmeira reforça que a diarreia viral também tem se tornado mais comum. “Ela aparece com náuseas, febre e vômitos. O detalhe é que, nesse caso, a diarreia não melhora tão rapidamente; é mais duradoura do que nos quadros de arboviroses, que podem vir com diarreia apenas no início da doença”, diz Danylo. Apesar de perceber que as viroses clássicas não deixam de ser frequentes nas emergências, ele destaca que atualmente 90% dos pacientes atendidos nas urgências de Pernambuco relatam sintomas de arboviroses. “E nesse universo, 80% dos casos são de chicungunha”, registra o infectologista.