A Organização Mundial da Saúde (OMS) chancela as declarações das autoridades médicas americanas apontando para o fato de não haver mais dúvidas de que é o vírus da zika que causa a microcefalia. Na quarta-feira (13), o Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC, na sigla em inglês) indicou não haver mais dúvidas quanto a relação entre os dois. "Estudos publicados nesta semana marcam um ponto de virada na epidemia de zika. Agora está claro que o vírus causa microcefalia", disse o diretor do CDC, Tom Frieden, em comunicado à imprensa.
Nesta quinta-feira (14), a OMS voltou a confirmar a declaração. "Existe forte consenso científico de que o vírus da zika é a causa da microcefalia, da Síndrome de Guillain-Barré e de outras desordens neurológicas", apontou. No dia 31 de março, a partir de documentos da OMS, o Estado havia revelado a nova postura da entidade.
Agora, a entidade dá detalhes dessa mudança. "A onda de estudos apoia a conclusão de que existe uma associação entre o zika e a microcefalia", explicou. Até março, a entidade apenas dizia que existiam "evidências". Agora, existe um "consenso científico".
Em uma nota à imprensa, a OMS indicou que os cientistas ainda não excluem a possibilidade de que "outros fatores possam se combinar com o vírus do zika para causar as desordens neurológicas". Nesse caso, porém, a entidade alerta que "mais pesquisa é necessária antes que qualquer conclusão seja feita".
A agência de saúde da Organização das Nações Unidas (ONU) lembrou que a Guillain-Barré e a microcefalia podem ser geradas por "uma série de fatores", incluindo contato com produtos tóxicos e outras infecções.
"Novos estudos sobre a zika e suas complicações estão sendo publicados diariamente, e o ritmo da pesquisa vai continuar a aumentar", afirmou a OMS. Segundo ela, seus técnicos e entidades parceiras acompanham cada um dos estudos de forma detalhada para identificar qualquer "mudança na direção das evidências".
Lobby
A decisão de reconhecer a relação entre o vírus da zika e a microcefalia, porém, vem quatro meses depois de o Brasil iniciar gestões para convencer a OMS a agir nesse sentido. No dia 18 de novembro de 2015, a diretora-geral da entidade, Margaret Chan, esteve em Brasília e ouviu do ministro da Saúde, Marcelo Castro, um alerta sobre a zika. Naquele momento, ela optou por esperar por novas evidências e não convocou seu grupo de especialistas.
A reunião ocorreria apenas em fevereiro e, ainda assim, ela atuaria com cautela, considerando apenas a microcefalia, e não o vírus da zika, como uma emergência internacional. Na véspera daquela reunião em Genebra, na Suíça, o governo brasileiro insistia com Chan de que as evidências já eram claras. Mas a OMS optou por aguardar por uma prova científica.