Febre amarela: alta procura faz Recife dobrar imunização

Com a busca, a Secretaria de Saúde (SES) já adiantou o pedido de fevereiro
Cynthia Leite
Publicado em 18/01/2018 às 8:23
Com a busca, a Secretaria de Saúde (SES) já adiantou o pedido de fevereiro Foto: Foto: Diego Nigro/JC Imagem


Mal passado o surto de febre amarela durante o primeiro semestre do ano passado no Brasil, a doença á volta a despontar como um ímpeto que já causou 20 mortes nos últimos seis meses e, por isso, faz muita gente correr até as unidades de saúde para tomar a vacina – principal ferramenta de prevenção e controle da doença. O vírus tem preocupado não só moradores de áreas com recomendação de imunização. Quem não é vacinado e está com viagem marcada para esses locais só faz alimentar preocupações. Com o anúncio ontem do segundo caso da doença investigado em Pernambuco (paciente havia passado por áreas de risco na Bahia), as filas nos postos só fazem crescer no Recife. Até ontem à tarde, a cidade já havia aplicado praticamente o dobro de doses destinadas por mês às unidades de referência para vacinação contra a febre amarela.

“O Recife recebe, da Secretaria Estadual de Saúde (SES), duas mil doses do produto a cada mês. Com o aumento da procura, tivemos que antecipar o pedido de fevereiro e provavelmente já chegamos a aplicar cerca de quatro mil doses este ano. Só ontem recebemos mais 1.520 da SES”, informa a coordenadora do Programa de Imunização do Recife, Elizabeth Azoubel.

Ela salienta que foi necessário solicitar o reforço principalmente após o quantitativo de imunizantes da Policlínica Lessa de Andrade, na Madalena, Zona Oeste da cidade, não se mostrar suficiente para atender às pessoas que foram à unidade para se vacinar porque irão a áreas de risco de transmissão da febre amarela. “Ontem, por duas vezes, houve falta de vacina momentânea no Lessa, enquanto a liberação de doses pelo Estado era esperada. No mesmo dia, a policlínica foi reabastecida”, acrescenta Elizabeth, que relata o ritmo vivenciado nos postos. “Todo o trabalho dos funcionários se concentra na aplicação das vacinas. Não se consegue nem ter tempo de atualizar o sistema para saber, ao certo, o quanto temos imunizado.”

A doceira Edlene Melo, 55 anos, foi uma das pessoas que não conseguiram se vacinar ontem, devido à falta temporária do imunizante. “Fui a cinco postos da cidade. Nenhum tinha doses. Vou para São Paulo (todo o Estado passou a ser área de risco da doença) no dia 24 e estou correndo contra o tempo para me proteger. Esse clima nos deixa apreensivos”, relata Edlene, que hoje vai fazer uma nova passagem pelas unidades de saúde.

Na rede pública, para receber a vacina, é necessária a apresentação de um comprovante de viagem (como o recibo de compra de passagem ou o documento de reserva do hotel) a localidades que têm áreas de risco de transmissão da doença. “Neste momento, pedimos que a população do Recife seja compreensível e só procure os postos de saúde para fazer a vacinação nos casos de viagem agendada para locais que exigem a imunização”, orienta Elizabeth Azoubel. O depoimento da especialista serve para reforçar que os moradores de Pernambuco sem deslocamento agendado para áreas de risco não têm motivo para se preocupar agora com a vacinação. O Estado não tem a circulação do vírus.

A SES informa, em nota, que está abastecida da vacina contra febre amarela para o público com indicação para receber as aplicações. A pasta complementa que está em contato com os municípios para analisar a demanda pelo imunizante. Atualmente, segundo garante o governo estadual, as remessas encaminhadas pelo Ministério da Saúde (10 mil doses por mês) suprem a necessidade de Pernambuco.

Outro suspeito foi vacinado há seis anos

O segundo paciente em investigação para febre amarela em Pernambuco tem uma particularidade que chama a atenção: ele foi vacinado contra a doença há seis anos. Ainda assim, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) explicou que a notificação aconteceu, após ele ser atendido em unidade de saúde, por ter passado em área de risco. “Teoricamente a vacina oferece proteção por toda a vida, com garantia de imunidade maior do que 90%. Para pessoas com algumas condições que comprometem a saúde, a vacina pode não funcionar tão bem como acontece na população saudável, que tem uma resposta vacinal boa”, esclarece o infectologista Vicente Vaz.

É por esse motivo que o fato de ter recebido a imunização contra a febre amarela não é uma condição que exclui totalmente o risco de se ter a doença. “Todos, inclusive os profissionais de saúde, estão em alerta máximo para fazer a vigilância dos casos suspeitos. É para ser assim mesmo ”, destaca Vicente Vaz, cujo depoimento sinaliza a crença de muitos epidemiologistas: é melhor pecar por excesso do que por omissão. O infectologista acredita que possivelmente o segundo caso em investigação no Estado será descartado (especialistas acreditam que o primeiro também), mas ainda não é o momento de desconsiderar as suspeitas.

Em nota, a SES informa que os serviços estão sensíveis para notificar ocorrências que possam estar relacionadas à febre amarela e a outras arboviroses. “É importante que os profissionais de saúde notifiquem para que a SES analise a situação”, diz o comunicado. Se necessário, a pasta diz que adotará medidas de controle em tempo hábil.

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