O desenvolvimento das crianças Síndrome Congênita do Zika Vírus agora poderá ser acompanhado de forma mais fácil com a ajuda da tecnologia. Um aplicativo para celular, chamado Mobcare, foi lançado por meio de uma parceria entre a Fundação Altino Ventura (FAV), a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e o Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste (Cetene). Nele, familiares e cuidadores depositam informações clínicas dos pacientes que serão monitoradas pelos terapeutas que fazem o acompanhamento destas crianças na FAV.
O aplicativo foi testado durante um ano por 27 famílias e 16 terapeutas e os primeiros dados já estão sendo cadastrados. Agora, ele estará disponível para que seja feito o monitoramento de todas as 176 crianças em reabilitação na unidade. Assim que soube da ideia, a dona de casa Inabela Tavares não entendeu bem a proposta do aplicativo. Em meio à rotina corrida, cuidando da sua filha Graziella Tavares, de 3 anos, mais uma obrigação, dessa vez no telefone, parecia algo difícil. “Fiquei um pouco preocupada, mas depois que entendi qual era o intuito, adorei. Agora, além do acompanhamento feito semanalmente na FAV, temos a oportunidade de estender esse monitoramento para casa”, conta.
Todo o aplicativo foi pensado junto com os cuidadores e os profissionais para que as necessidades fossem atendidas. Durante o período de teste, melhorias foram realizadas para que o acesso fosse facilitado para as famílias. “Tudo foi feito com nossa ajuda. Pudemos dizer nossas dificuldades e sugerir coisas. É muito bom esse trabalho conjunto, essa é a chave para a evolução das nossas crianças”, acrescenta Inabela.
O programa está sendo criado desde 2016 e funciona como uma espécie de diário do bebê. Além de poderem registrar alterações no quadro clínico das crianças, como febre, convulsões ou espasmos, por exemplo, as mães ainda têm acesso a uma agenda, onde constam todos os futuros atendimentos e uma área especial para atividades estimuladoras. “A fisioterapeuta produz e envia um vídeo para cada paciente para que a gente continue as atividades em casa. Depois de cada uma, informamos ao aplicativo que o trabalho de casa foi realizado. Isso ajuda para que no final possam avaliar o que influenciou no desenvolvimento de cada um dos nossos bebês”, explica Ana Paula Albuquerque, mãe do pequeno Danilo Miguel Pessoa, 3 anos, que faz o acompanhamento na FAV desde o primeiro mês de vida.
Como a experiência está sendo exitosa, a expectativa é que, futuramente, outros pacientes da FAV possam utilizar o aplicativo. “Facilita não somente o banco de dados e as informações da Fundação, como também no dia a dia das famílias. É um projeto da maior relevância porque nossa meta é economizar tempo, ter eficiência e ao mesmo tempo oferecer o melhor serviço. Se tudo der certo, crianças com outras deficiências também serão beneficiadas com o aplicativo”, registra a presidente da FAV, Liana Ventura.
O programa foi pensando em duas versões. Uma para os cuidadores e outra para os profissionais. Além das opções de sintomas já programadas, os responsáveis também podem relatar outros alterações, filmar e gravar áudio. Tudo para facilitar o uso do sistema. “Foi feito um estudo minucioso para entender o perfil dessas famílias. Elas têm smartphone? têm conexão com a internet? sabem usar o aplicativo? Pensamos em tudo para que o uso fosse fácil, personalizado e eficiente”, relata a fonoaudióloga e coordenadora do Mobcare, Janiely Tinôco.