Saúde Conectada: Humanização de ponta a favor da longevidade

Profissionais de saúde intensificam cada vez mais a defesa por práticas de atendimento humanizado aos pacientes
Gabriel Dias
Publicado em 26/05/2019 às 16:59
Profissionais de saúde intensificam cada vez mais a defesa por práticas de atendimento humanizado aos pacientes Foto: Foto: Bianca Sousa/JC Imagem


Até o mais alto, forte e corajoso dos homens está sujeito a fraquejar e a adoecer. Ao longo da vida, é comum que o ser humano se depare com capítulos tortuosos causados por problemas de saúde de todos os tipos. Em momentos como esse, além de lidar com medos e incertezas, é necessário conviver com a dor física imposta pela doença e pelas intervenções médicas. Também desponta o incômodo de sair da rotina para frequentar hospitais, e, em alguns casos, é preciso se distanciar da família. Na contramão desse cenário, profissionais de saúde começam a intensificar a defesa por práticas de atendimento humanizado aos pacientes. O conforto do doente, defendem os especialistas, melhora os resultados do tratamento, que recebe, cada vez mais, um apoio fundamental da tecnologia.

De acordo com a Política Nacional de Humanização (PNH), do Ministério da Saúde, o termo humanização nomeia a reunião de ações que valorizam “usuários, trabalhadores e gestores no processo de produção de saúde”. Nesse contexto, não basta chamar o paciente pelo nome. É necessário oferecer uma escuta qualificada, feita pelos profissionais, às necessidades dos pacientes, garantindo “o acesso oportuno desses usuários a tecnologias adequadas a suas necessidades”.

Médico há 40 anos, o pneumologista e clínico-geral Paulo Barreto defende o uso de atividades que contribuem para o bem-estar dos pacientes. Há 23 anos, ele criou o programa “A arte na medicina às vezes cura, de vez em quando alivia, mas sempre consola”, que leva manifestações artísticas para a enfermaria do Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc), em Santo Amaro, área central do Recife. “Nós fazemos várias atividades com os pacientes. Uma delas é levar música. É legal ver o brilho no olhos das pessoas, enquanto a gente toca para elas. Há aquelas que antigamente diziam ir ao hospital fazer quimioterapia. Hoje, elas dizem que vão ao hospital aprender a tocar bateria e aproveitam para fazer a quimioterapia”, conta Paulo Barreto.

De acordo com o médico, que também é professor da Universidade de Pernambuco (UPE), o uso dos avanços da tecnologia deve ser incentivado, mas o lado humano do profissional não pode ser deixado de lado. “Não podemos ter ‘obesidades tecnológicas’ e ‘desnutrição humanística’. Uso muito as ferramentas tecnológicas, mas não podemos esquecer que estamos cuidando de um ser humano,” defende Paulo.

Em Olinda, o Hospital Esperança, no bairro de Casa Caiada, serve de exemplo na missão de aliar o uso da tecnologia e o atendimento humanizado a pacientes da unidade de terapia intensiva (UTI). Há quase dois anos, a instituição criou um espaço que ficou conhecido como UTI compartilhada. São 10 leitos com pacientes internados em apartamentos individuais. O que diferencia esse espaço da UTI tradicional é que a pessoa em tratamento pode ficar acompanhada de um amigo ou parente durante 24 horas do dia, enquanto o modelo convencional possibilita apenas pequenas visitas durante o dia.

“Observamos uma boa resposta dos pacientes que são internados na UTI compartilhada. O fato de estar ao lado de um filho ou da esposa dá mais vontade de aceitar o tratamento. Além disso, os parentes veem a tecnologia usada, entendem a necessidade e a importância da UTI”, explica o chefe da UTI Coronariana do Hospital Esperança Olinda, Luiz Carlos Santos. De acordo com o médico, a indicação para que um paciente seja encaminhado para a unidade compartilhada é avaliada individualmente, mas geralmente aqueles que estão conscientes e sem risco de agravamento do quadro podem ser levados para o espaço. Segundo o coordenador médico da UTI do hospital, Carlos Eduardo Ferraz, o tempo médio de permanência de um paciente no espaço compartilhada é 50% menor, em comparação com o período de internação na UTI geral.

Experiência

Entre os pacientes que deram entrada na área compartilhada, está a idosa Antônia Vasconcellos, 91 anos, que teve um quadro de infecção urinária. “Minha mãe já ficou na UTI geral e não gostou. Chorava, arrancava os fios e ficava muito triste, porque ela gosta de ficar vendo os filhos. Em casa, eu durmo com ela na cama. Então, é um sofrimento muito grande deixá-la sozinha na UTI. E agora (na compartilhada), quando ela não quer tomar o remédio, comer ou fazer algum exercício com o fisioterapeuta, eu converso, falo com carinho e ela segue as orientações recomendadas”, conta a filha de Antônia, a representante comercial aposentada Dulcineia Vasconcellos, 65.

Na UTI compartilhada, os apartamentos têm os equipamentos necessários em uma UTI tradicional, como respiradores. O plantonista também tem acesso a uma tela que monitora os pacientes, o que facilita a tomada de decisão diante de uma eventual necessidade.

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