Óleo no litoral: Pernambuco monitora 66 casos de intoxicação

O Cabo de Santo Agostinho concentra o maior número de casos relacionados à exposição ao material, são 26
JC Online
Publicado em 31/10/2019 às 22:03
Praia de Itapuama, no Cabo de Santo Agostinho Foto: ARNALDO CARVALHO/JC IMAGEM


A Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE) informou que está monitorando casos de intoxicação exógena relacionados ao desastre com óleo no litoral, notificados pelas unidades de saúde de Pernambuco. Do dia 18 de outubro até esta quinta-feira (31), eram 66 casos em processo de investigação pelas equipes de Vigilância em Saúde da SES-PE. 

Entre as notificações, há 26 relacionadas à exposição no município do Cabo de Santo Agostinho, 18 em São José da Coroa Grande, seis em Ipojuca, duas na Ilha de Itamaracá, uma em Paulista e duas no litoral de Alagoas (Maceió e Maragogi). Outros 11 casos constam sem informação do local de exposição.

Perfil e sintomas

A maior parte dos afetados é do sexo masculino (57,6%) e a predominância foi de jovens e adultos, entre 19 e 59 anos (81,8%). Seis (9%) eram menores de 18 anos.

Os pacientes foram atendidos após apresentarem sintomas de intoxicação devido ao contato com o produto tóxico e também pelo uso indevido de solventes para retirada da substância. Segundo a SES-PE, todos apresentaram sintomas leves, como cefaleia, náuseas, falta de ar, tontura e diarreia, com atendimentos ambulatoriais e sem a necessidade de hospitalização.

Outros 35 casos informados pelos municípios estão sendo analisados pela secretaria e tendo mais informações coletadas, já que as fichas de notificação não apresentam elementos suficientes para caracterizá-los como intoxicação pelo petróleo.

Arnaldo Carvalho/JC Imagem
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Foto: Alexandre Gondim/JC Imagem
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“Estamos fazendo um trabalho de revisão e análise criteriosa das informações de todos os casos registrados, já que há ocorrência de casos difusos, alguns sem nenhuma relação com intoxicação exógena pelo petróleo, e outros com sinais e sintomas mais relacionados aos danos provocados pela exposição excessiva ao sol e até dores musculares por causa da atividade física de recolher o material das praias”, explica o coordenador do Centro de Informações Estratégicas da Vigilância em Saúde (Cievs), George Dimech.

Fiocruz passa a monitorar impacto das manchas de óleo

A Fundação Oswaldo Cruz passará a monitorar a partir da próxima semana o impacto das manchas de óleo no litoral do Nordeste na saúde da população. Um dos pontos considerados prioritários pela equipe, que foi destacada nos últimos dias pelo Ministério da Saúde para apoiar o Centro de Operações de Emergência, é rastrear o risco para pescadores e marisqueiras que, além de um contato direto com material contaminado, têm no pescado sua principal fonte de alimentação. "Temos de ter um cuidado redobrado com esse grupo", afirmou o pesquisador da Fiocruz, Guilherme Franco Neto.

A estimativa é de que cerca de 164 mil pescadores e pescadoras atuem no litoral do Nordeste. Pesquisadores avaliam que um porcentual significativo poderá estar afetado ou exposto pelo petróleo. Franco Neto observa não haver ainda mecanismos para estimar o período em que essa população ficará exposta a fatores de risco.

Uma das maiores preocupações é o benzeno, componente do petróleo com uma conhecida capacidade de provocar danos ao sistema de defesa do organismo. Pessoas expostas a níveis expressivos do componente têm maior risco, por exemplo, para leucemias.

Uma das estratégias já avaliadas é rastrear níveis de benzeno no organismo destes trabalhadores, por meio de exames. Outra frente de ação, disse Franco Neto, é acompanhar de perto gestantes que vivam e trabalhem na região costeira e identificar eventuais danos aos fetos.

Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde

O Ministério da Saúde, por meio do Boletim Epidemiológico 32, divulgado nesta quinta-feira (31), avalia que, neste momento, as evidências consolidadas sugerem que o impacto da substância para a saúde pública é baixo. No documento, o órgão ressalta que a presença do petróleo no ambiente nem sempre levará à exposição da população, em especial aos compostos mais tóxicos que apresentam alta volatilidade.

A princípio, a expectativa de contato direto com o óleo para esse desastre é eventual e de curto prazo. O Ministério da Saúde destaca ainda que: “no material coletado, o composto de maior potencial de toxicidade à saúde humana, numa eventual exposição, é o Benzeno. No entanto, sua concentração no petróleo pode variar de menos 0,5% a 4% do total, dependendo da origem do petróleo. Portanto, para uma exposição ao benzeno, como nesse desastre, considera-se que o risco seja baixo para a saúde humana, até o momento. No entanto, segundo a literatura, caso ocorra intoxicação, a excreção da substância deverá ocorrer entre 24 a 48 horas pela urina”.

Recomendações da Secretaria Estadual de Saúde

A SES-PE reforça a necessidade de evitar o contato direto com o petróleo cru, por meio do uso dos equipamentos de proteção individual, e que não é recomendada a participação de crianças, gestantes e doentes crônicos no trabalho de limpeza das praias.

De forma articulada com os municípios atingidos, a Vigilância em Saúde da Secretaria Estadual de Saúde está realizando visitas técnicas nas praias onde ocorrem os mutirões de limpeza do óleo, nas unidades de saúde destes locais, com o objetivo de alertar os gestores e profissionais de saúde sobre sintomas de intoxicação, além do preenchimento correto da Ficha de Investigação de Intoxicação Exógena no Sinan – Sistema de Informação de Agravos de Notificação. Aos serviços de saúde, é importante ressaltar a importância da qualidade na descrição das informações, especialmente com relação ao agente tóxico e sintais e sintomas, o que facilita a investigação e classificação dos casos. 

O Centro de Assistência Toxicológica de Pernambuco (Ceatox), que funciona como uma central telefônica, continua à disposição da população e dos profissionais de saúde para sanar dúvidas e prestar orientações sobre os casos de intoxicações exógenas. O contato pode ser feito por meio do  0800.722.6001. Os profissionais do serviço estão aptos a tirarem dúvidas sobre exposição ao produto e aparecimento de sintomas, assim como outras orientações, como a procura pelo atendimento médico adequado em cada uma das situações.

Ações

Na semana passada, a Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco promoveu a capacitação de 155 profissionaissobre o atendimento inicial ao intoxicado. A SES-PE também vem trabalhando, em parceria com o Ministério da Saúde, de quem tem recebendo suporte nas investigações, para definir o protocolo de acompanhamento futuro dos pacientes e comunidades que tiveram contato com o petróleo cru. Além disso, o órgão informa que vem estabelecendo parcerias com instituições de pesquisa para subsidiar e fomentar a produção de conhecimento qualificado sobre o evento. Por ser um caso inusitado, não há na literatura atual diretrizes, ou protocolos específicos para a situação que hoje afeta os expostos ao óleo no litoral.

A SES-PE também já solicitou ao Ministério da Saúde envio de equipe de campo (EpiSUS) para ajudar e ampliar a investigação dos casos notificados e tem trabalhado em articulação com o Ministério Público do Trabalho (MPT), que já instaurou procedimento para acompanhar as questões relacionadas à saúde e à integridade física das pessoas que tiveram contato com o óleo e para apoiar as medidas técnicas de seguridade laboral.

Parcerias com organizações da sociedade civil organizada, como o Monitora Saúde, também estão sendo realizadas no sentido da SES-PE conhecer melhor o perfil dos voluntários expostos ao petróleo e da organização incentivar a procura pelos serviços de saúde nos casos de intoxicação.

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oleo no nordeste óleo nas praias saúde intoxicação secretaria de saúde
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