A cada ano, em Pernambuco, cerca de 30 mil bebês que vêm ao mundo são de mães adolescentes, aquelas que fazem parte da faixa etária entre 10 e 19 anos, segundo a Secretaria Estadual de Saúde (SES). Em 2018, no Recife, onde se realiza aproximadamente 14,4 mil partos por ano, 13,4% das gestantes que deram à luz nas maternidades públicas da capital eram adolescentes, segundo a Secretaria Municipal de Saúde. A atenção com esses números é retomada após um fato que chamou a atenção: tem apenas 14 anos a mãe do primeiro bebê nascido em maternidade pública do Estado este ano. Ele chegou ao mundo às 00h29 do dia 1º. O parto foi realizado no Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros (Cisam), da Universidade de Pernambuco, na Encruzilhada, Zona Norte do Recife.
"A gestação na adolescência requer cuidados redobrados com a saúde emocional e física das jovens, especialmente quando acontece até os 14 anos, faixa etária em que elas ainda têm pouco amadurecimento para lidar com questões da maternidade", ressalta a psicóloga Luciana Souza Leão, que faz parte do Programa de Atenção à Gestante Adolescente (Progesta) do Hospital das Clínicas (HC) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Anualmente a iniciativa abre turmas de apoio para futuras mamães até 24 anos e até seis meses de gestação.
O depoimento da especialista remete ao suporte que precisa ser dado à gravidez nessa fase da vida, quando a emoção de gerar e ter um bebê se mistura com desafios para se permanecer estudando, ser compreendida pela família e ter ajuda para cuidar do filho. Para Luciana, as adolescentes também precisam de suporte para falar sobre seus desejos, medos e angústias num espaço em que se sintam acolhidas para lidar com questões relativas à saúde sexual e reprodutiva, sem tabus e longe de qualquer tipo de preconceito.
No ano passado, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) lançou uma campanha para engajar, sensibilizar e fortalecer a atuação dos pediatras e hebiatras (especialistas responsáveis pela assistência à saúde dos adolescentes) a assuntos relacionados à gravidez até os 19 anos. Para a entidade, a mobilização chegou num momento em que políticas públicas, focadas na saúde dessa faixa etária, ainda são escassas. A SBP destaca que a pobreza, a falta de acesso à informação e a métodos contraceptivos são os principais fatores que contribuem para o fato de adolescentes se tornarem mães. “As meninas mais pobres têm cinco vezes mais chances de engravidar do que as mais ricas. Se a família, a escola e o Estado falham no dever de garantir a proteção integral das crianças e dos adolescentes, esse problema tende a se repetir”, disse a médica Alda Elizabeth Azevedo, presidente do Departamento Científico de Adolescência da SBP, quando a campanha foi lançada.
Além dos riscos à saúde de mãe (como elevação da pressão arterial) e filho (tendem a ser prematuros e nascer com baixo peso), há os aspectos sociais que precisam ser considerados nessa fase. A adolescente tem, por exemplo, a vida escolar interrompida. É o caso de Aurora (nome fictício), 18 anos, que engravidou aos 17. Ela é mãe de uma menina de três meses. “Só descobri a gravidez quando estava com sete meses. Fui à médico porque deixei de menstruar, e ela achava que poderia ser um cisto. Pediu um exame, que mostrou que estava gestante”, disse Aurora, que mora no bairro de Santo Amaro, área central do Recife. “Eu já estava terminando o ensino médio, mas tive que parar. Pretendo voltar este ano ainda”, acrescentou a jovem, que conta com o apoio da família e do pai da menina. “Quando descobri a gravidez, a gente já tinha acabado o namoro, mas voltamos a ficar juntos depois que ele soube que eu tive bebê”, contou.