Ministério Público recomenda reintegração de peça trans ao FIG 2018

Espetáculo 'O Evangelho segundo Jesus, a Rainha do Céu' havia sido retirado da programação por motivos religiosos
JC Online
Publicado em 09/07/2018 às 18:13
Espetáculo 'O Evangelho segundo Jesus, a Rainha do Céu' havia sido retirado da programação por motivos religiosos Foto: Foto: Leonardo Pastor/Divulgação


O Ministério Público de Pernambuco (MPPE) publicou nesta segunda-feira (9), no Diário Oficial, uma recomendação à Secretaria Estadual de Cultura para reintegrar a peça O Evangelho segundo Jesus, a Rainha do Céu à programação da edição 2018 do Festival de Inverno de Garanhuns, que este ano, vem com o tema "Liberdade". A atitude reacende a polêmica sobre o espetáculo protagonizado pela atriz trans Renata Carvalho que, no último dia 30 de junho, havia sido cancelado após pressões de setores religiosos locais, e até do prefeito da cidade, Izaías Régis, que se recusou a ceder espaço para a montagem.

No documento de quatro laudas, o promotor Domingos Sávio Pereira Agra, da 2ª Promotoria de Justiça de Defesa da Cidadania de Garanhuns, relatou todos os detalhes do caso e concluiu que o secretário estadual de Cultura, Marcelino Granja, e a presidente da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), Márcia Souto, deve reintegrar o espetáculo à grade oficial do FIG 2018 e dialoguem com os "eventuais parceiros que mantenham resistência à sua apresentação" esclarecendo o "caráter respeitoso" da obra.

O promotor também pediu aos governos de Garanhuns e de Pernambuco para que eles estimulem a tolerância e a luta contra a homofobia através de campanhas, concursos e outros meios. A recomendação foi assinada em conjunto com a Comissão de Promoção dos Direitos Homoafetivos do MPPE, que está na ativa desde 2012.

A POLÊMICA

De acordo com informações do blog Terceiro Ato, no monólogo, a atriz trans Renata Carvalho conjectura como seria se Jesus voltasse à terra como uma travesti. A partir desse mote, ela busca abrir o diálogo sobre as vivências das pessoas trans e combater a exclusão social de seus corpos.

Mesmo com a retirada da programação oficial da peça, vários artistas se mobilizaram e em menos de 30 horas arrecadaram mais de R$ 6 mil através de financiamento coletivo, garantindo a apresentação do espetáculo de forma independente.

Na última quinta-feira (5), o governador de Pernambuco, Paulo Câmara, quando esteve em Garanhuns, confirmou a exclusão da peça porque ela provocaria "polêmica": "As atrações são escolhidas por uma curadoria, pessoas externas ao Governo, inclusive para não ter influência do Governo. Infelizmente, houve essa polêmica dessa peça. O Festival não é para ter polêmica. Pelo contrário, é um Festival para ter unidade, para ter harmonia, para as pessoas virem satisfeitas, virem brincar, conhecer nossa cultura seja na dança, no teatro, na música. Ao ver essa polêmica é nosso dever também resolver. Não queremos polêmica no Festival de Inverno de Garanhuns, queremos unidade e harmonia. E a gente vai ter, com certeza, um bonito festival", afirmou.

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