Morreu, na manhã desta terça-feira (23), aos 94 anos, o artista plástico Reynaldo Fonseca. Ele estava internado na UTI do Hospital Memorial São José, onde deu entrada com um quadro de pneumonia. De acordo com o também artista plástico Pedro Frederico, amigo de Reynaldo, o mais renascentista dos pintores modernos de Pernambuco faleceu após ter falência múltipla dos órgãos. O artista não deixa filhos.
Mesmo depois de ter um marcapasso instalado no coração, aos 91 anos, Reynaldo trabalhou e se dedicou integralmente à arte até o fim da vida. O velório e seu sepultamento serão das 15h às 17h, no Memorial Guararapes (Rodovia BR-101 Km 79, 3 - Jardim Jordão).
Em 2017, o Jornal do Commercio fez a série especial de reportagens Pernambuco Modernista e ouviu Reynaldo Fonseca, o precoce artista que começou a desenhar aos cinco anos. Aos onze, era aluno ouvinte da Escola de Belas Artes do Recife. Em 1944, morador do Rio de Janeiro, participou do Salão Nacional de Belas Artes, quando se aproximou de Cândido Portinari. Usando caneta comum, Reynaldo mantinha a técnica clássica renascentista de esquadrinhar suas composições em papel para só depois executar suas cenas para a tela. Era capaz de passar mais de um ano sem sair do apartamento onde vivia e pintava.
Reynaldo, avesso ao externo, pinta para dentro. Manteve-se deliberadamente alheio às efervescentes correntes artísticas do País. Sua narrativa tem temas recorrentes, as cenas familiares (“Existe algo mais importante que o amor de uma mãe pelo filho?”, comenta) numa atmosfera mais que real, metafísica, como se a banalidade de um abraço materno tivesse o arquétipo do sagrado, porque inevitável.
Suas figuras, estáticas no corpo, se movimentam pelo olhar. Transitam da mais sincera candura a uma perversidade desconcertante. Raros nas residências da elite pernambucana - mais afeita às suas mães abraçando filhos e às suas meninas elegantes e iluministas - alguns de seus quadros trazem crianças harmoniosamente deformadas, com olhares que podem sugerir qualquer coisa além da óbvia inocência. Infantis e desconcertantes. Como apontou o crítico de arte e literatura Roberto Pontual, a obra de Reynaldo, em gravuras ou, mais densamente, óleo sobre tela, "fica a meio caminho entre o metafísico e o fantástico". A ironia lhe é ingrediente a deixar mais complexa a humanidade de seus personagens.
Reynaldo foi um dos fundadores, ao lado de Abelardo da Hora, da Sociedade de Arte Moderna do Recife, um agrupamento de artistas dispostos a romper com o peso acadêmico da arte e imprimir uma produção cultural capaz de dar conta das dicotomias do mundo social. “A gente queria acabar com o academicismo”, resume.
Quando, contudo, o imponente Centro Cultural do Brasil realizou, entre 1993 e 1994, no Rio de Janeiro e em São Paulo, uma ampla retrospectiva de sua obra, eles estavam lá. Além das composições de atmosfera renascentista, alguns quadros, figuras em destaque na paisagem quente, de pinceladas largas e soltas como a de um moderno expressionista.
"A Prefeitura do Recife lamenta o falecimento do artista plástico Reynaldo Fonseca. Em quase um século de vida, o artista plástico brindou a sociedade recifense com a luz e cores que se fizeram tão presentes em suas obras. Artista plástico que começou a pintar ainda criança, aos cinco anos de idade, aos 94 anos ele parte deixando como legado uma bela e extensa obra, além do exemplo de dedicação à arte."