Após mais de dois anos de espera, os fãs da franquia de ação e ficção científica distópica Maze Runner poderão, enfim, assistir ao terceiro e último filme inspirado na homônima saga literária de James Dashner, um romance futurista infantojuvenil. Isso porque o astro Dylan O'brien, intérprete do protagonista Thomas, sofreu um grave acidente em março de 2016 durante as gravações e precisou ficar afastado do set por um semestre. Quase cancelado, o longa-metragem que encerra a trilogia, subintitulado de A Cura Mortal, chega hoje aos cinemas acalentando os corações dos jovens que estavam ávidos para embarcar novamente nessa aventura pós-apocalíptica.
Sequência de Maze Runner: Prova de Fogo, lançado em 17 de setembro de 2015, o capítulo derradeiro começa cerca de seis meses após o anterior com uma eletrizante e explosiva perseguição a um trem - numa cena digna de ser estrelada por The Rock ou Vin Diesel, diga-se de passagem. Outra vez reunidos e agora mais organizados e maduros, os bons amigos Thomas, Newt (Thomas Brodie-Sangster) e Caçarola (Dexter Darden) tentam resgatar Minho (Ki Hong Lee) das garras da C.R.U.E.L., uma enigmática companhia que faz testes de competição nos adolescentes com o intuito de descobrir o que os faz imunes ao Fulgor (vírus que dizimou a população mundial) e, por conseguinte, encontrar o que for necessário para fazer o soro que cure a doença.
Com o trem em movimento, o trio tenta a todo custo interceptar um dos vagões que estava cheio de jovens, todos raptados pela corporação, incluindo Minho. Com o suporte de Brenda (Rosa Salazar) e Jorge (Giancarlo Esposito) na ofensiva, eles conseguem recuperar parte do comboio, mas logo descobrem que Minho não está mais entre os outros - o que é um mistério até o fim, tendo em vista que o filme não explica como se dá esse sumiço. Levado para as instalações do quartel-general da C.R.U.E.L., situado num lugar com edifícios altos e modernos chamado de A Última Cidade, o personagem interpretado pelo sul-coreano começa a ter seus limites testados, chegando a alucinar pesado com os verdugos, macabras criaturas que habitavam o labirinto (do primeiro filme) o qual ele levou três anos para escapar.
Decidido a encontrar o amigo, Thomas segue para a cidade, erguida sobre as ruínas por estar rodeada de cranks (como eles chamam os infectados que viram “zumbis”). O irônico é que agora eles precisam fazer o contrário. Penetrar a fortificação, não mais escapar. Lá, ele sabe que vai encontrar Teresa (Kaya Scodelario), por quem é apaixonado, porém ressentido. Foi ela quem dedurou o esconderijo da resistência conhecida como o Braço Direito para a C.R.U.E.L., traindo os sobreviventes e provocando o sequestro de Minho e agregados (no filme passado). Acreditando ter sido nobre em suas atitudes ao escolher salvar a todos em vez de apenas seus amigos - embate que emerge em vários momentos da saga -, Teresa não se mostra arrependida. Ela, todavia, carrega uma das histórias mais pesadas da trama, a de ter visto sua mãe ser tomada pelo vírus e arrancar os próprios olhos.
Em busca de um "bem maior", ainda que para isso precise tratar os próprios colegas como cobaias, a única garota do labirinto de Thomas volta a aliar-se a Janson (Aidan Gillen) e a Ava Paige (Patricia Clarkson), um funcionário ambicioso e a poderosa chefe da organização, respectivamente. Teresa, assim como Thomas, já havia trabalhado para a C.R.U.E.L., porém, como todos os enviados à Clareira (abrigo em meio ao labirinto) têm as memórias apagadas, ela foi a única que optou por ficar ao lado deles e recuperá-las. No fim das contas, é a eterna Effy de Skins que descobre que o sangue de Thomas poderia ser o ponto de partida para a cura que tanto buscavam, mesmo que ele não fosse capaz de curar a todos, o que geraria um processo seletivo entre os que deveriam viver ou morrer. Bastou associar o bem-estar de Brenda ao fato de que ela recebeu o sangue de Thomas quando estava infectada e prestes a morrer.
O que não fica claro é o que o sangue de Thomas tem de incrível. Seria ele uma espécie de escolhido? Ou o modo como reagiu às competições, sempre em liderança, fez com que ele desenvolvesse anticorpos fortes o bastante para combater o vírus? O filme não explora essa questão, tampouco a origem do Fulgor. Porém, quem tiver interesse em saber mais sobre o surgimento da epidemia tem a opção de buscar esse complemento nos livros Ordem de Extermínio (2012) e O Código da Febre (2016), prelúdios da obra original que não serão adaptadas para os cinemas pela Fox Film.
Apesar de A Cura Mortal ser essencialmente de ação, se aproximando de um filme de assalto, é pré-requisito ver Correr ou Morrer (2009) e Prova de Fogo (2015), todos dirigidos por Wes Ball, para entender os meandros que envolvem os dramas pessoais de cada personagem, fazendo as devidas conexões. O cenário mais urbano do que o dos seus predecessores - o primeiro se passa essencialmente no labirinto e o segundo no deserto - contribuiu para que o filme ficasse mais dinâmico e excitante, porém alguns cortes a mais na edição não fariam mal.
Aqueles que acompanharam de perto a jornada de Thomas e os clareanos devem se emocionar com o desfecho da saga, com forte tom de despedida. O ponto alto vai para os grandiosos efeitos visuais e também para o elenco, que soube trabalhar muito bem em equipe nesses últimos cinco anos, apesar dos "contratempos" - além de Dylan ter se acidentado, Kaya ficou grávida no processo. Dá para sentir que, de fato, eles fizeram de Maze Runner uma família, deixando essa cumplicidade transparecer nas telas. O que tem tudo a ver com o espírito da franquia, de que não há luta contra o sistema sem união.