Ken Loach leva de novo sua luta social a Cannes

O britânico, de 82 anos, levou a Palma de Ouro em 2016 com o longa 'Eu, Daniel Blake'
AFP
Publicado em 17/05/2019 às 13:27
O britânico, de 82 anos, levou a Palma de Ouro em 2016 com o longa 'Eu, Daniel Blake' Foto: Reprodução


Incansável em seu combate contra o ultraliberalismo, o diretor britânico Ken Loach apresenta Sorry We Missed You, nesta sexta-feira (17), em Cannes, e pode se transformar no primeiro cineasta da história a conquistar três Palmas de Ouro.

Três anos depois de ser coroado na Croisette com Eu, Daniel Blake, Loach conta a história de Ricky e Abby, pais de dois filhos e que, apesar de trabalharem incansavelmente, não conseguem uma vida melhor.

Cansado de rodar de emprego em emprego, Ricky decide comprar uma van para trabalhar como transportador por conta própria, embora ligado a uma agência. Um novo trabalho baseado em um "contrato zero horas" que terá repercussões desastrosas em sua família.

Em uma alusão direta à "uberização" da sociedade, ou à terceirização dos empregados, o cineasta britânico tenta mostrar a precariedade do mercado de trabalho atual, onde não é necessário que "um patrão use o chicote, porque o trabalhador explora a si mesmo". E essa situação de insegurança no trabalho faz a extrema direita crescer, alerta o diretor.

"Se não resolvermos isso, a extrema direita continuará avançando, porque as pessoas ficarão cada vez mais infelizes, mais indignadas, sem esperança. Terão cada vez mais medo", declarou Loach na coletiva de imprensa do filme na quinta-feira.

"A extrema direita se expande pelo medo", enfatiza. Ele também ataca as mudanças climáticas. "Tudo que se compra é entregue usando energias fósseis, e elas destroem o planeta", apontou.

Cidadania de Cannes

Com Sorry We Missed You, Loach, de 82 anos, mostra um de seus trabalhos mais "poderosos, com cenas que tiram o fôlego", segundo o crítico David Rooney, do veículo especializado The Hollywood Reporter.

Para Lee Marshall, da revista Screen, "estamos diante de um dos melhores filmes britânicos" e, para Carlos Boyero, do El País, "é um filme verdadeiro e excitante".

Junto com seu roteirista habitual, Paul Laverty, Loach volta a situar sua história em Newcastle, no nordeste da Inglaterra, um "microcosmo com uma tradição de luta", segundo ele.

Grande assíduo da Croisette, onde participou mais de uma dúzia de vezes, Loach brincou que deveria receber a "cidadania de Cannes". Com sua outra Palma de Ouro por "Ventos da liberdade" em 2006, ele faz parte do seleto grupo de cineastas que têm dois grandes prêmios, incluindo o austríaco Michael Haneke, o sérvio Emir Kusturica e os irmãos belgas Luc e Jean-Pierre Dardenne.

Nesta 72ª edição do festival, um dos mais ambiciosos dos últimos anos, grandes pesos-pesados da Sétima Arte competem pela cobiçada Palma de Ouro. Os Dardenne, também presença constante no concurso, estão de volta aos holofotes de Cannes com O Jovem Ahmed.

O cineasta espanhol Pedro Almodóvar, com Dolor y Gloria, aspira pela sexta vez a sua primeira estatueta. Curiosamente, o diretor espanhol já perdeu duas vezes para o veterano britânico. Foi em 2006, quando Almodóvar apresentou o filme Volver, e em 2016, com Julieta.

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