Misturar gêneros e suas convenções vem sendo uma saída muito escolhida para evitar a saturação de um segmento. Vemos comédias de espionagem, terror com pitadas de comédia ou vice-versa. É o que faz Brightburn: O Filho das Trevas, dirigido por David Yarovesky e escrito por Brian e Mark Gunn, irmãos do diretor James Gunn (Guardiões da Galáxia 1 e 2), que atua como produtor nesse. Aqui temos uma espécie de filho de A Profecia (1976) com Superman (1978) - ambos dirigidos por Richard Donner - , executado de forma simples, sem grandes intensidades dramáticas, mas bem amarrado.
Começamos há 10 anos, quando o casal Tori (Elizabeth Banks) e Kyle (Dave Denman) planejam ter filhos, situação ilustrada de uma das maneiras mais óbvias possíveis em livros sobre infertilidade e gravidez. Nesse contexto, um fenômeno astronômico joga um objeto misterioso, carregando um bebê, na fazenda onde mora o casal. A criança, batizada como Brandon (Jackson A. Dunn), após 10 anos desde sua chegada, mostra ter habilidades super-humanas, como força extrema e inteligência. Entretanto, algo desperta dentro do objeto que trouxe o jovem. Escondido num celeiro, comunica-se com seu passageiro, deixando-o violento e, aparentemente, conduzindo-o a uma enigmática missão.
A base para o caminhar de sua trama é um drama familiar em que os pais precisam lidar com as mudanças no comportamento do filho. Tudo bem, é um caminhar apressado, que parece querer chegar logo nos conflitos mais intensos, mas consegue estabelecer o mínimo de empatia para funcionar. A dinâmica entre Elizabeth Banks e Jackson A. Dunn ajuda nesse ponto, com a boa performance de ambos, equilibrando a falta de um trabalho mais atencioso do roteiro ao cimentar bem essa relação, que acaba se tornando alicerce para os principais confrontamentos do filme.
Já quando partimos para sua ação mais física, temos passagens mais interessantes, principalmente as que subvertem aquela construção imagética de seres heroicos voando com uma capa esvoaçando no céu. Mesmo trazendo sustos já batidos no estilo, na verdade um imenso número deles, há algo positivamente intrigante na figura de um terror que não está sempre habitando nas trevas, mas que sobrevoa a olhos vistos, sendo ameaçador da mesma forma.
Ainda assim, o enredo aproveita essas características de seu super-monstro para colocá-lo na lógica de tensão do terror, usando atributos como a supervelocidade do personagem na construção de uma atmosfera tensa. Contudo, essas passagens não têm a força que aparentemente desejavam. Acabam caindo na esgotada fórmula do susto, que os principais expoentes do gênero atualmente vêm abandonando, prezando pela construção de climas, relações pessoais e alegorias. Brightburn também escolhe o caminho da violência gráfica, agoniante em bons momentos, mas esvaziadas por efeitos especiais não muito convincentes em outros.
Nesses altos e baixos, a produção consegue entregar uma narrativa extremamente modesta, mas que lida bem com a premissa proposta, que é o elemento mais sólido de seu roteiro. Seus eventos podem não ser os mais profundos, mas são coerentes dentro do contexto da construção da trama. Sua curta duração de 1h30 também ajuda: não tornando Brightburn numa enfadonha e pretensiosa experimentação.