Indicado ao Oscar 2020, 'Jojo Rabbit' é crítica singela ao nazismo

Filme indicado em seis categorias no Oscar está em cartaz em várias salas de cinema do Recife; confira a crítica
João Rêgo
Publicado em 05/02/2020 às 18:47
Filme indicado em seis categorias no Oscar está em cartaz em várias salas de cinema do Recife; confira a crítica Foto: Reprodução


O cinema sempre foi uma forma de expressão política – intrínseca à narrativa ou por um contexto externo à própria obra. A ficção pode ser um campo mágico e de quase infinita imaginação (e reimaginação) da nossa própria realidade. Uma crítica livre e sem qualquer amarra com um universo, a não ser o que está disposto na tela.

Volta e meia nos deparamos com obras que tensionam essas fronteiras por diversos fatores. Jojo Rabbit, em cartaz nas salas do cinema do Recife, é uma dessas.

Primeiro porque o longa versa sobre o nazismo, um tema delicado e com feridas que são grotescamente exploradas até hoje. Segundo porque há no meio artístico um crescente empenho a hiper-significações políticas, que nutre interesse mais pelo o que vai ser falado do que como será falado.

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Jojo Rabbit trafega nesse pequeno campo minado de questionamentos: “Qual o limite da ficção?”, “Vale a pena tratar esse tema em 2020?”, “Como esse tema será tratado?”. Tarefa dura escapar de um certo patrulhamento, e conseguir ao mesmo tempo realizar um filme verdadeiramente bom.

A indicação a seis categorias, incluindo a de melhor filme, no Oscar 2020 (ao lado de Parasita, 1917, Coringa, entre outros) significa que a tarefa foi cumprida pelo menos na primeira parte. Na segunda, uma bela surpresa, a obra também vai consideravelmente bem.

Sátira singela ao nazismo

Para contextualizar na trama, Jojo Rabbit é um filme que ficcionaliza o nazismo a partir de uma pequena história com cerca de oito personagens relevantes. Jojo é uma criança de dez anos aficcionada pela ideologia nazista (seu melhor amigo imaginário é uma versão cômica de Adolf Hitler – vivida pelo próprio diretor Taika Waititi).

Pouco perto da queda do Führer, o garoto descobre uma menina judia vivendo escondida dentro de sua casa. O resto da história se desenvolve com pequenos momentos de tensão, singeleza e empatia nas relações, não só dos dois, mas entre alguns personagens.

Dentro do escopo de gêneros, Jojo Rabbit é um filme de comédia satírica e drama, mas sobretudo de ficção. O destaque vale porque é nisso que o filme se segura e consegue brilhar. Não há qualquer intenção de desenvolver novas críticas “super inteligentes” e batidas sobre o nazismo. Há apenas uma boa história ficcional, com o desenvolvimento dramático mais singelo possível.

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É a crença no motor-dramático básico do cinema, muitas vezes esquecidos e subestimado, mas que sempre emociona e consegue manter cenas específicas presas na nossa cabeça.

O que não significa que haja um pouco de cuidado com o tema (afinal, a maioria dos personagens são nazistas). Mas eles são tão bem construídos e com facetas dramáticas tão interessantes, que o que termina se sobressaindo em tela é uma grande história sobre empatia, amadurecimento e, especialmente, a potência da ficção no cinema.

Imageticamente o dedo de Wes Anderson na produção é sutilmente perceptível, mas não tão relevante quanto o conteúdo dramático. O escopo das imagens se torna um acompanhamento importante e intrínseco a própria trama. Um universo particular da obra que é absorvida de maneira imperceptível, mas não menos essencial.

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